The Stepkids @ Plano B
Soul psicadélica do século XXI.
Ainda pouco conhecidos entre o público português, os Stepkids apresentaram o seu álbum de estreia num concerto memorável no passado dia 7, inserido nas comemorações do 5º aniversário do Plano B e com um opening set dos portugueses Swinging Rabbits. Não que o factor “desconhecimento” seja mau – sem querer ser indie, o que é garantido é que quem lá esteve apreciou genuinamente aquela noite e, quem ainda não era fã, seguramente se rendeu. Oriundos de Connecticut, Tim, Jeff e Dan, que já partilharam o palco com 50 Cent, Alicia Keys, Pharaoe Monch e Lauryn Hill, são os arquitectos de uma das obras mais vanguardistas de 2011, lançada pela Stones Throw no passado mês de Setembro. Combinam de forma exímia vários estilos que, nas mãos das pessoas erradas, facilmente resultariam numa confusão. E isso sente-se em cada música. Da Soul oldschool dos Temptations ao Jazz que os viu crescer em Connecticut, passando pelo Funk de Sly Stone salpicado por ritmos africanos, o que ouvimos é um psicadelismo do século XXI. The Stepkids soa-nos familiar mas, ao mesmo tempo, há qualquer coisa de singular que os distingue e os torna especiais.
Vestidos de branco integral (instrumentos inclusive), os três elementos da banda fundiram-se com um palco da mesma cor. Nesta tela gigante meia material, meia humana, foram projectadas ao longo de todo o concerto diversas imagens, cores e padrões caleidoscópicos, concebidos por Jesse Mann, levando todo o público numa viagem multisensorial e saudavelmente ácida. A simpatia e boa onda dos Stepkids contagiou a plateia, e a genica desta deixou a banda surpreendida, dadas as “altas horas da noite” – devemos ser dos poucos países que não termina a festa às duas horas da manhã.
«Brain Ninja» começou por nos transportar para o imaginário dos filmes de Blacksploitation e o wah wah das guitarras pôs todos os pescoços a abanar. Sucedeu-lhe o psicadelismo dos sintetizadores de «Suburban Dream», o último videoclip da banda (que aconselhamos a espreitar), numa fusão feliz entre a electrónica e o analógico. Com o terreno já bem preparado, era certo que nos iam surpreender. E a faixa «Shadows On Behalf» materializa isso mesmo. Cada bocadinho traz-nos algo de novo, algo que não conseguiríamos adivinhar e que nos faz sentir estranhamente felizes. Tal como as vozes. É como se assistíssemos a uma fábula narrada a três. E quando fechamos os olhos, podemos imaginar-nos a ouvir Curtis Mayfield ao vivo.
«Legend In My Own Mind» é o momento em que nos deixamos definitivamente conquistar pela delicadeza das vozes de Jeff e Dan, alternando entre o falsete e o tom natural, mergulhando nas profundezas da Soul. Com «Santos e Ken» a composição ganha uma nova dimensão com os violinos e o saxofone. Rapidamente nos lembramos do Funk de Parliament Funkadelic e do groove de Isley Brothers – torna-se impossível não dançar. Cativados pela voz envolvente de Tim, somos convidados para o momento mais intimista da noite, com «La La». Notam-se as influências Folk, adornadas pela percussão singular dos chocalhos. A caminhar para o fim, o público está ao rubro e ninguém mostra a mínima vontade de ir para casa. O cheirinho do Folk mantem-se com «Wonderfox» (outro videoclip digno de registo) e os temperos africanos apimentam os espíritos, com vozes e ritmos tribais. Queríamos mais, mas os Stepkids inundaram-nos de alegria e fizeram-nos ver o copo meio cheio. Assim, «Cup Half Full» encerrou a noite com um público em êxtase, que dançou e cantou o refrão em uníssono, entregue a uma rockalhada enérgica e inspirada. Sabemos de fonte segura que nos adoraram. Nós também!
Reportagem fotográfica por Filipa Lima Gomes aqui.
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