Vacuum Horror (Aspiração Horrífica) | Aaron $hunga
A abordagem delirante e infame de “Vacuum Horror” valeu-lhe uma aura de culto ao longo dos anos
Aaron Kaneshiro, mais conhecido por Aaron $hunga, é um ilustrador e cartunista natural de Honolulu, no Hawaii. Actualmente vive em Oakland, California, onde, em adição aos seus trabalhos artísticos, se encontra a frequentar o curso de ciência da computação. No seu currículo conta com posters feitos para bandas locais e algumas BD’s, publicadas em revistas como a Decay, Lodaçal Comix (Portugal) e Electric Ant.
A abordagem delirante e infame de “Vacuum Horror” valeu-lhe uma aura de culto ao longo dos anos, desde que foi publicada no extinto site “uranium cocktail”. Há alguns anos foi, finalmente, publicada em papel pela editora portuguesa “MMMNNNRRRG”. Nesta edição privilegiou-se a língua original – o inglês -, o que possibilita a um maior número de pessoas a compra deste exemplar físico. Contudo, no final de todas as páginas, existe uma legenda que contém todos os balões traduzidos para português, não havendo desculpas linguísticas para a sua não aquisição. Para os interessados, ainda existem alguns exemplares à venda, basta para isso consultarem o site da Associação Chilli com Carne (se se tornarem sócios têm um desconto de 50%, nesta e noutras compras).
“Vacuum Horror” tem início com um temeroso anúncio na TV por parte do presidente dos Estados Unidos (que estranhamente parece ser Abraham Lincoln). Segundo o mesmo, no próximo dia todo e qualquer tipo de criminalidade será permitidodurante 24 horas. Rapidamente percebemos que isto não é uma boa ideia, particularmente quando uma das personagens lança um olhar perverso para debaixo da saia da sua própria filha. Uma sociedade sem qualquer tipo de amarras morais e legais, onde cada um cria o seu conceito de certo e errado, pode ser uma visão assustadora, e o autor aproveita isto para nos mostrar um dos piores cenários possíveis, levado – esperemos nós – ao extremo.
Com um grupo de pais mais preocupado em violar as filhas uns dos outros e com uma mãe que parece planear a morte do marido, a jovem rapariga que nos é apresentada no início parece estar condenada, não fosse a súbita participação activa do seu aspirador. Sim, um aspirador, esse objecto que usamos para limpar a casa, mas que aqui é também uma criatura viva, um extraterrestre. Apaixonado pela pureza desta jovem, salva-a contra tudo e todos numa orgia de pancadaria e genocídio que deixará as suas marcas visuais no leitor. No fundo, as funções de limpeza mantêm-se intactas, só que desta vez a sujidade aspirada é outra.
Não será uma história comum ou muito menos tradicional, quando os envolvidos são uma jovem e um aspirador, mas ”Vacuum Horror”, no seu cerne, acaba por ser uma história de amor e sobre as barreiras que, por vezes, se quebram para este poder triunfar. Como pano de fundo temos uma das mais severas e exacerbadas críticas ao lado negro da Humanidade, onde temas como o niilismo ou o meio-ambiente são explorados pelo autor – a dada altura parece que ouvimos o agente Smith e a sua comparação da humanidade aos vírus. Tudo isto contado de uma forma muito psicadélica e onde os elementos Kafkianos são uma constante desta realidade – porque é que um povo de aspiradores é liderado por um gato?
Esta BD tem sido comparado a um género de mangá, o Ero Goru, que consiste em BD japonesa erótica e grotesca. Neste caso, o grotesco suplanta claramente o erótico. Entre as influências do autor, contam-se nomes como os de Katsuiro Otomo (“Akira”), Daniel Clowes (“Ghost World”), Suehiro Maruo (“How to Take a Japanese Bath”), mas também David Lynch e o no-wave Punk. Uma inesquecível história para quem gosta de BD’s provocadoras, sem qualquer tipo de limites, mas principalmente para os apaixonados pelo bizarro.
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