Birdman

Birdman

... ou a Inesperada Virtude de Michael Keaton

Há beleza na análise da própria tragédia. E comédia na desgraça alheia, que é a nossa. É esta a mensagem de “Birdman (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, o mais provável vencedor do Óscar de Melhor Filme deste ano.

Uma meta-comédia negra como não há muitas, com um argumento (des)construído à volta da ideia da fama que se dissipa, “Birdman” é a sátira perfeita a Hollywood, conseguindo ser, ao mesmo tempo, uma homenagem ao mundo do cinema.

À boleia da onda de adaptações de bandas desenhadas que se tem feito notar nas salas de cinema, “Birdman” retrata a história do ator Riggan Thomson (Michael Keaton), assombrado pelo seu mais celebrado papel, o de super herói “Birdman”, que encarnou nos anos 90. Empenhado em demonstrar que não é apenas uma personagem, Thomson decide criar e protagonizar a sua própria peça na Broadway, mas começa a questionar as suas capacidades à medida que o dia da estreia se aproxima. Michael Keaton está, inesperadamente ou não, irrepreensível nesta película, mas menos não seria de esperar de um ator que praticamente  viveu a história antes das câmaras começarem a rolar… Afinal de contas, qualquer semelhança entre Thomson e Keaton e entre Batman e Birdman não são pura coincidência.

Pelo caminho, ainda há tempo para analisar as neuroses alheias, na figura da filha de Thomson (brilhantemente encenada por uma inesperada Emma Stone) e de um dos atores que, com ele, dividem o palco: Mike Shiner (protagonizado por um não menos excelente Edward Norton). Tudo isto num só fôlego pois, em “Birdman”, os inícios e os fins de cena confundem-se e dá a ideia de que tudo acontece sem pausas e sem meias medidas.

Por tudo isso (e por todos os pequenos detalhes reservados a quem for ver o filme), “Birdman” é, sobretudo, perfeito na sua junção entre realismo e metáfora. Confuso? Talvez, mas o certo é que é mesmo essa a ideia da película: o que é real e o que é ficcional fica por decidir… Eis a melhor expressão do que é o cinema! Os críticos internacionais atropelam-se para cobrir Alejandro González Iñárritu de elogios e não é para menos: estamos perante um filme que será, certamente, alvo de muitas horas de estudo nas escolas de cinema.

No entanto, não será só por isso que “Birdman” vai levar tantos prémios para casa. Hollywood adora falar de si própria e este filme acaba por funcionar quase como uma sessão de psicanálise para muitos dos membros da Academia. Resta saber que filme lhe poderá fazer frente e levar a melhor nas categorias principais…O mais certo é que, na noite de todas as estrelas, nem a inovação de “Boyhood”, nem a beleza de “Grand Budapest Hotel”, nem as interpretações de Cumberbatch (em “The Imitation Game”) ou Eddie Redmayne (em “The Theory of Everything”), nem a força de “Selma”, nem o patriotismo de “American Sniper”, nem a música de Whiplash cheguem para embalar o ego de Hollywood.



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