“Cinemateca” | Pedro Mexia
O cinema é um mar de histórias
Talvez não seja arriscado dizer que, muito bom – e mau – crítico de cinema em Portugal, olha para o cinema como uma espécie de bicho filosofal, preferindo assumir com ele uma relação platónica ao invés do contacto carnal. Divaga-se muito, rejeita-se tudo o que seja comédia ou filme de acção, olha-se para o cinema de autor como o único capaz de levar para casa mais do que uma ou, com sorte, duas estrelas das cinco que os críticos têm para oferecer.
“Cinemateca” (Tinta da China, 2013), livro de Pedro Mexia, é sobretudo uma declaração de amor à sétima arte. Não sendo conhecido como crítico de cinema, Mexia transforma cada um destes textos num pequeno conto – ou, se quiserem, numa curta-metragem – que, pegando nas palavras que Julião Sarmento escreveu no prefácio, se situam «entre a verdade e a mentira, entre a virtude e o pecado, entre a qualidade e a falta dela.» Um livro carregado de moral, sentido ético e paixão, portanto.
O livro atravessa sessenta e oito anos, começando em 1944 e viajando até ao ano de 2012, retratando quase cinquenta filmes desse período. Há Raquel Welsh, Mastroianni, Kieslowski, Dirk Bogarde, Marilyn, Wenders, mas também se recorda o pudor com que a nudez, mesmo a breve visão de um simples rabiosque, foi vivida em Portugal.
Mais do que contar-nos a história dos filmes em jeito de resumo, Pedro Mexia projecta o filme que ele próprio construiu a partir do seu visionamento, como se desenhasse, para cada um deles, o seu director`s cut. Preparem-se para encontrar nestas linhas alguns spoilers, recomendando-se por isso que venham munidos de alguma bagagem cinéfila. No final, se derem por vocês a caminhar a passos largos na direcção à Cinemateca (ou, em alternativa, a uma loja de DVD`s ou a um programa de torrents), é sinal de que Pedro Mexia fez muito bem o seu trabalho (e fê-lo, garantimos nós).
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