“Contos” | Thomas Mann
Ponto de partida para a redescoberta da obra de Mann
Quatro anos antes de Hitler ter subido ao poder, Thomas Mann era laureado com o Nobel da Literatura. Inserido na corrente apelidada de exilliteratur, composta por escritores que abandonaram o clima repressivo da Alemanha Nazi, o autor manteve-se prolífero durante a sua estadia na Suíça e E.U.A., não só como romancista mas, também, como contista, hábito que vinha a manter desde o final do século XIX.
“Contos” (Bertrand Editora, 2013), cujo título por si deverá ser elucidativo, serve para revitalizar o interesse na obra de Mann. São 17 momentos breves, a contrastar com obras do autor de maior envergadura (leia-se “A Montanha Mágica”, por exemplo) e, embora não siga uma ordem cronológica, basta que se confrontem algumas das datas de publicação para percebermos que, à medida que Mann ganha corpo como escritor, envereda por passagens dignas de se juntarem ao panteão de autores russos que lhe precederam e inspiraram: a complexidade psicológica contida em “Tristão” é, no seu âmago, digna de Dostoievski, e há decerto algo de desconcertante na aura destes contos que nos remete para as obras mais breves e tardias de Tolstoi.
O contexto social que descreve é essencialmente o de uma burguesia endinheirada, extensão do meio onde cresceu: ligado às artes, cargos políticos e profissões liberais. Quando disto divergem, os personagens regem-se por uma elevada sensibilidade intelectual, desenvolvida à margem de qualquer riqueza, mesmo que profundamente enraizada na moral cristã (“Gladius Dei”).
Sendo que a maioria dos personagens presentes em “Contos” são orquestrados de modo a estimular os “pontos G” das emoções do leitor, gera-se tanto empatia pelo que debitam e sentem, como precisamente o contrário. O verdadeiro trunfo assenta no lirismo significativo que traça as mentalidades da época, num misto de aproximação e afastamento dos dias de hoje.
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