“Cuidar de Frankie” | Maeve Binchy
Para leitores que gostam de levitar
“Cuidar de Frankie”, da autoria da irlandesa Maeve Binchy (Bertrand Editora, 2013), conta-nos a história de um pai solteiro que tenta criar uma criança, cuja gestação lhe passou ao lado. As numerosas páginas sucedem-se, injustificadas, numa prosa que parece não ter fim, a menos que seja adepto da literatura dita “light”. Se for esse o caso, “Cuidar de Frankie” fá-lo-á levitar. Mas há um aspecto que é inegável: o optimismo inflexível da autora, apesar das ocasionais injecções de realidade, faz com que a leitura de “Cuidar de Frankie” seja uma experiência reconfortante.
Noel Lynch contenta-se em gastar os dias num trabalho pouco exigente em Dublin e os serões a beber para esquecer o seu tépido e insípido quotidiano. No entanto, a sua vida perde toda a neutralidade quando uma antiga paixão lhe comunica que vai morrer, mas não sem antes dar à luz o seu filho.
Apesar de a notícia abalar Noel, a presença de Emily – a prima recém-chegada dos EUA -, uma mulher que consegue instalar a serenidade por onde quer que seja que passe, amortece o embate. Juntamente com Lisa – uma artista gráfica eternamente solteira e apaixonada por Noel – e o médico local, Emily revela-se também uma ajudante preciosa com o bebé. Sempre que surge um contratempo, há igualmente uma mão amiga para amparar Noel. Decidido a estar à altura das circunstâncias, deixa de beber, retoma os estudos e transmuta-se em pai dedicado.
Tudo dito e arrumado? Nada disso. Uma rigorosa assistente social, de seu nome Moira, recusa-se a acreditar numa efectiva mudança de Noel. Na sua opinião, ele está a um copo de distância de negligenciar a sua filha e insta todos os elementos do seu círculo íntimo a admitir que Noel não tem condições para assumir a paternidade. Dadas as circunstâncias, as reservas desta assistente social não são infundadas.
Moira, a personagem mais convincente, estruturada e matizada de “Cuidar de Frankie”, apesar de, aparentemente, ser a vilã da história, tem um bom coração, mas o seu passado embota a sua emoções, o que a impede de ver a força que sustenta a família improvisada de Noel. É provavelmente ela que nos proporciona o momento mais emocionante do livro.
Dir-se-ia que Maeve Binchy é demasiado complacente com as personagens de “Cuidar de Frankie”, tornando-as muito estanques nas funções que desempenham na história e, em consequência disso, demasiado previsíveis numa trama sem obstáculos, atritos e de reduzida surpresa para o leitor. Mas não sem revestir os alicerces da narrativa de improbabilidade. Pode um alcoólico ser tão temperado como Noel? E Lisa foge da sua própria casa para ir ao encontro de um sensaborão que precisa de ajuda para cuidar da filha bebé? Humm…
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