DaCozinha para o mundo
José Carlos Besteiro, o Chef. Afinal o que se passa no Palácio dos Sonhos?
Há uma linha ténue que separa a vida pessoal e a vida profissional do José Carlos Besteiro (também conhecido por Joe Best). E isso percebe-se pelo facto deste Chef abrir as portas da sua casa para proporcionar a quem lá entra momentos de degustação e boa disposição.
E até momentos de aprendizagem, pois José Besteiro não se nega a partilhar as suas receitas. “No meu tempo, os maçaricos destas lides tinham que se desenrascar. Por isso, eu proporciono às pessoas aquilo que não me deram a mim: a partilha”. José Besteiro encontra-se em busca da qualificação profissional, ele, que sempre foi um autodidacta da cozinha (e da vida).
Que cozinha é esta que se pratica num T2, entre tachos, panelas e amor? “A minha cozinha foi desenvolvida por mim. Os segredos da cozinha deixaram de ser segredos, tudo se pode partilhar. Ao processo de química alimentar junto uma extrema dedicação e um todo um cuidado perante aquilo que estou a criar. Por isso a minha cozinha não pode ser copiada porque eu reinvento-me diariamente, em cada prato.” Fazer bolos a partir de receitas é certamente uma cena que não lhe assiste. A sua cozinha é de autor com uma forte componente de cozinha regional portuguesa. E depois há um ingrediente fundamental: a paixão. “Faço, por paixão, um ovo estrelado ou um arroz de lavagante”.
O amor aos tachos é o tempero especial que é único e irrepetível. Como o amor que partilha com Ana Rosa, a mulher que o acompanha nestas lides. Que toma nota da receita que é criada no momento, que é a primeira a provar. Que está na linha da frente. E é testemunha da atenção que José Besteiro imprime aos seus pratos. “A cozinha não é um acto mercenário”. Cozinhar em casa, em ambiente familiar, permite uma cozinha diferente? “Sim, é bem diferente de cozinhar numa unidade hoteleira. Começa pela estrutura: não tenho equipa. Trabalho sozinho. Estou por minha conta no que respeita ao apurar da técnica e à gestão do tempo. E não me perco a pensar no que nos distrai num ambiente de equipa.”
Uma semana típica para o Chef José Besteiro começa com uma segunda-feira de arrumação e limpeza profunda à cozinha. Há um cuidado enorme em termos de higiene, pois “estou a abrir a porta da minha casa às pessoas, para lhes servir uma refeição”. Começa a pensar-se na reposição. Terça-feira é dia de frescos e na quarta há ronda aos supermercados. Quinta-feira é dia de mise en place dos eventos e, por norma, à sexta-feira já há evento. Ao sábado também. O domingo é dia de descanso, em família. Pelo meio há trabalhos de consultoria, que exigem investigação e tempo.
Um dos eventos mais frequentes é o oito@mesa, que surgiu pelo evidente facto da mesa da sala ter apenas oito lugares. Trata-se de uma oportunidade de mostrar às pessoas a diversidade de pratos que José Besteiro pode criar. Os eventos são agendados via twitter e facebook e a porta está aberta a quem neles se inscrever.
O Palácio dos Sonhos (é assim que a sua casa é conhecida nas redes sociais) permite-lhe uma alegria e festa contínuas. E “qualidade de vida, sou muito feliz a cozinhar e sinto-me realizado. Não tenho horários.”
O seu projecto DaCozinha surge nas redes sociais. No twitter utilizava-se a hashtag #dacozinha para partilhar as suas criações. Daí à conta @Dacozinha foi um passo. Depois o site. A página do facebook. E a imagem de uma cozinha revolucionária, onde o bilhete de ingresso é uma nota de dez euros e uma garrafa de vinho. Do inconformismo, do amor aos tachos e à família (bem como aos amigos que faz em cada evento) nasceu um projecto que frequentemente se transforma ele mesmo em rede social. Os eventos permitem que muita gente se cruze, crie afinidades pessoais e profissionais. “As pessoas acabam por criar redes e relações, entre si.”
Em Portugal, os supper clubs são olhados com preconceito. Mas como é que se abre a porta da casa a estranhos, para lhes servir um almoço ou um jantar? É simples. Basta tocar à campainha. José Besteiro está à porta, de braços abertos para nos receber, para nos proporcionar uma refeição preparada com amor. E para nos fazer sonhar. Porque no Palácio dos Sonhos podes ser quem és, ninguém te leva a mal.
Fotografias de Ruben Neves
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