InArte – Encontros Internacionais de Inclusão pela Arte
Uma educação para a diferença, uma experiência absorvente e extremamente interessante de pensar a arte
“Os encontros pretendem investigar e analisar novas estratégias de trabalho e interacção de pessoas com necessidades especiais e outras comunidades desfavorecidas para a cidadania através da promoção e do contacto com as diversas formas de expressão artística. O principal objectivo é promover e divulgar as artes como forma de trabalho pedagógico, ocupacional e de integração social, sensibilizando profissionais que intervêm com pessoas com necessidades especiais e outras comunidades para a importância das artes como ferramenta de combate à exclusão social. Através da exibição artística e da partilha de resultados, processos e questões, InArte abre horizontes para outros domínios estéticos, que aceitam a diferença como parte integrante do processo criativo. InArte ergue fundações para uma sociedade onde a participação e fruição das artes está ao alcance de todos, MESMO de todos.” Assim se define o InArte – Encontros Internacionais de Inclusão pela Arte.
Foram seis dias, entre 8 e 13 de Abril, onde o tema da inclusão foi abordado, através de workshops, espectáculos, performances, exposições e de um seminário internacional. Ao longo dos Encontros, os workshops foram uma constante, numa forma de ensinar um outro tipo de ver e sentir a arte.
O Seminário Internacional contou com a participação de Miguel Horta, Teresa Eça, Luís Rocha, Ana Rita Chaves e Walter Marcos, François Viguié, Margarida Martins, David Toole e Lucy Hind, Gus Garside e Ellen Goodey, Josette Bushell-Mingo e de Pádraig Naughton. Quatro painéis divididos em “Inclusão pela Arte”, “Com ou para a(s) comunidade(s)”, “Experiências Inclusivas” e, por fim, “Liderar e Incluir”.
Miguel Horta abriu as conferências; o pintor e mediador cultural começou por criar um momento onde todos os participantes comunicaram entre si. Comparando o ser humano a uma concha, Miguel Horta reforçou a ideia de que todos temos uma concha, o corpo, e que dentro de nós temos uma peróla, uma pessoa, uma alma. O orador, mediador do livro e da leitura em estabelecimentos prisionais, focou que “é preciso ler o mundo” e “a leitura faz-se ao longo da vida”. Isto porque o trabalho de uma mediador é “encontrar o objectivo de vida”, já que “a integração depende da pessoa”. Este projecto nas prisões, neste momento, está encerrado devido a cortes orçamentais, o que faz com que a integração destas pessoas seja suspensa. “Se a cultura é cara, esperem para ver o preço da ignorância”.
Tereça Eça, Presidente da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual, abordou três objectos e dirigiu a sua comunicação aos mais novos, referindo que “a experiência implica perigo, e temos que ajudar as crianças a lidar com esses perigos”. Simplesmente porque “é na diferença que está o conhecimento”. Para a inclusão, o “importante é ter uma relação de esperança com as pessoas, não há experiência positiva sem amor”. Concluindo que sem experiência e sem amor não há arte.
O fotógrafo Luís Rocha, do Movimento de Expressão Fotográfica (MEF), falou dos seus trabalhos de inclusão pela arte. Director Artístico no projecto de vídeo e fotografia “Diálogo de Olhares” e “Fotografia e Identidade”, é também co-fundador do Colectivo Imagens Marginais. O fotógrafo apresentou algumas ideias sobre a fotografia e a cegueira, explicando as capacidades que um cego tem de usar a fotografia analógica como forma de se expressar.
Ana Rita Chaves e Walter Marcos foram representar a Associação Cultural “Diálogo em Acção”. Um projecto cuja missão é “trabalhar para as melhores condições de vida dos jovens, homens, mulheres em risco social na deliquência juvenil ou a caminho dela, apoio a mulheres em situação de violência, no combate à injustiça, à pobreza, promovendo a igualdade social e de oportunidades”. Esta conferência abordou o hip-hop como uma arte viva e disponível. Uma “manifestação do individual no mundo urbano”.
O Francês François Viguié apresentou o projecto “Playing for a change”. Um conceito extremamente interessante: uma música é tocada por diferentes pessoas de diferentes países e continentes, dando origem a uma música a várias mãos. A primeira música “Stand by me” foi um sucesso, e foi o começo de um projecto que tem vindo a crescer e a crescer, com mais de 30 artistas a colaborarem para a criação desta versão. “Dar algo à comunidade. As pessoas aprendem a trabalhar juntas, é uma ferramenta para a educação”.
David Toole e Lucy Hind falam do criar do nada, e de como criaram o espectáculo/performance que encerrou estes Encontros, o curioso “Extra-Ordinary”, com o bailarino David Toole e a coreógrafa Lucy Hind. Um encontro de dois mundos unidos pela dança, e onde o movimento de um se une ao movimento de outro, cheio de momentos de comédia, mas também com espaço para pensarmos no que significa inclusão e no que significa arte. Uma dupla improvável, e extremamente interessante.
Josette Bushell-Mingo foi uma oradora exímia, que cativou desde o primeiro ao último instante. Uma comunicação mais visual que oral, onde se aprenderam as diferenças entre o alfabeto da Língua Gestual Sueca e a Língua Gestual Portuguesa. Um momento onde conhecemos as suas conquistas no trabalho com artistas surdos no mundo do teatro, mostrando que todos somos capazes de alcançar os mesmos objectivos. Mais uma vez, a descobrir as semelhanças e não a procurar as diferenças.
Pádraig Naughton, director da Arts & Disability Ireland, possui uma deficiência visual, mas isso não o impediu de prosseguir com uma carreira no mundo das artes. Enquanto estudante, Naughton desenvolveu a prática artística da escultura táctil, através de obras, em barro – o material por excelência, para o artista – e do desenho de paisagem, o que lhe permitiu abrir novos horizontes para a inclusão através da arte.
Os Encontros do InArte foram marcados por histórias fascinantes sobre a inclusão através da arte, por pessoas de várias nacionalidades, mas que lutam para um mundo onde o importante seja as semelhanças e não as diferenças. Encontros como o InArte têm uma importância muito valiosa para o mundo das artes, e a Associação Vo’Arte tem de ser parabenizada por continuar a organizar um espaço onde se marca a diferença, para uma melhor cidadania entre todos.
O InArte é uma educação para a diferença, uma experiência absorvente e extremamente interessante de pensar a arte.
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