MALVA @ B.Leza (20.03.2025)
MALVA faz esquecer a noite chuvosa com a beleza de "poros"
Cantora, compositora, MC, multi-instrumentista e um enorme talento. Eis Carolina Viana, que se prepara para apresentar o bonito “poros” nesse cada vez mais apetecível local para ver concertos na capital, bem à beira-rio, e que dá pelo nome de B.Leza. Outro adjectivo que assenta que nem uma luva em MALVA, o alter-ego aqui assumido, é multifacetada. Integra as redoma, juntamente com Joana Rodrigues, conjugando hip-hop e rap com spoken word (e também com novo disco na calha já dia 28 de Março). Mas foquemo-nos no que aqui nos traz: “poros”.
Somos poucos. Passamos por uma depressão (atmosférica) e há (mesmo) muito a acontecer noutros pontos da cidade, mas ali, seguimos fortes e unidos pelo que nos levou a desafiar o conforto do nosso lar; ouvir as canções de “poros” e algumas (poucas) do não menos belo “vens ou ficas”.
«hoje só canto» abre a noite. Carolina surge acompanhada por Beatriz Madruga na guitarra e Catarina Estácio na viola. É a canção que fecha o álbum e das poucas que não conta com companhia. Pelo mesmo diapasão afina «B.alada», canção assombrosa. Bem escrita, melancólica e bela.
«não há sinal» é o ponto de partida escuro. São palavras pesadas, que nos atam um nó na garganta. Enquanto isso, lá fora, com o Tejo em pano de fundo, a vida prossegue o seu rumo, inabalável porque é assim que as coisas são. O momento aqui, esse é triste, mas belo.
«fera» é cantada sem Bia Maria, mas é-lhe dedicada. Uma canção antiga que estava arrumada por ser “lamechas”, mas que encontrou o tom e a voz certa (felizmente). “Eu suspeito que seja amor”. Verdade.
Miguel Marôco é o primeiro convidado a juntar-se a MALVA em palco. «fugir à sorte» é deliciosa. Deliciosa na forma como as duas vozes estão quase sempre a “pisar-se” um à outra de uma forma perfeita. Um nó que nasceu de um emaranhado. Francisco Fontes é o senhor que se segue e «rajada» é a metáfora motivacional para fazer este concerto acontecer, segundo Carolina Viana. E “quem tem medo compra um cão “.
“Vens ou ficas” é um ciclo fechado, assinalado nos dois momentos adjacentes. «subida» é a primeira paragem. Apenas com a viola de Catarina Estácio a acompanhar. Depois Luís Duarte Moreira sobe ao palco. «Manhã» é aquela canção belíssima que “ninguém” conhece. Mas deviam. Mesmo. Prosseguimos com «ninho», também com Luís Duarte Moreira, que nasceu para desconstruir a “lamechice” de «fera».
Inês Monstro é a convidada de última hora para cantar «manto azul». Decisão tomada enquanto «Hipnose» passava na rádio e que resultou num ensaio no próprio dia do concerto. Mas não importou. No momento para arrepiar, continuou a fazê-lo.
«manada» foi o culminar da busca pela fé. No polo oposto da «não há sinal». Nos amigos e nos seus gatos. “com força pra ficar de pé / ante uma revolução / amigos são sinal de fé / no meu frágil coração”
Acabamos como começámos. «hoje só canto», porque olhar para aquele lugar mais escuro, reconhecê-lo, é um acto de coragem.
No final de 2023 dei por mim a pensar que a Carolina Viana tinha tudo para se tornar uma grande cantautora. Continuo convencido disso em Março de 2025.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados