MEO Kalorama – Diogo Marques | Entrevista
"O público vai ter cada vez mais qualidade. Nós temos isso completamente claro. Nunca vamos fazer aqui um festival com 60 mil pessoas."
Estamos na recta final. É já no final do mês de Agosto vamos ter a 3ª edição do MEO Kalorama no Parque da Bela Vista. O Kalorama é um festival, que se impôs num curto espaço de 3 anos, ao ponto de ser já, um dos principais festivais de Verão. Um reflexo de que tem vindo a ser bem pensado e executado, procurando ocupar um espaço que estava livre na zona da Grande Lisboa.
Foi este o ponto de partida para a conversa que tivémos com Diogo Marques, director da Last Tour Portugal e do MEO Kalorama. Uma conversa sobre sustentabilidade, mobilidade, música e os desafios de programar um festival atualmente.
Rua de Baixo (RDB): O que é que, na sua opinião, diferencia o Kalorama da restante oferta que temos aqui na zona da Grande Lisboa?
Diogo Marques (DM): O Kalorama diferencia-se por diversas coisas. Desde o seu conceito, ou seja, o Kalorama foi feito para ser um festival de final de verão, ou de reentrê da época do trabalho, do início das escolas, da vida pós-verão. E isso vê-se nas pessoas que nos visitam, que vêm todas bronzeadas, que vêm bonitas, que vêm bem-dispostas, que vêm, enfim, encontrar quem já não viam há algum tempo. Tiveram este período de férias, e querem vir em conjunto, festejar esse Verão que está a acabar, e a celebrar o início da nova época de trabalho.
Nós queremos afirmar-nos cada vez mais como um festival da cidade, um festival de Lisboa, no centro, no meio da cidade, no Parque da Bela Vista. São 20 hectares que estão mesmo no centro da cidade, têm todos os transportes, acessos fáceis, conseguimos não mexer no quotidiano das pessoas, mas sim trazer conteúdo, conteúdo esse, que sebaseia nos nossos três pilares: a música, a arte e a sustentabilidade. Trabalhamos em união durante todo o ano com os nossos vizinhos aqui do Parque da Bela Vista, com os bairros, com as freguesias e com a população da cidade. Por isso, e cada vez mais queremos estar perto e afirmar-nos como esse festival, o grande festival da cidade, annual. Por isso fizemos também um conjunto de parcerias, um conjunto de iniciativas, desde os transportes da Grande-Lisboa, que permitem às pessoas aceder com desconto ao festival, os vários projetos sociais que estamos a fazer pela cidade, não só no bairro, mas em vários locais de Lisboa. Nós não só contribuímos financeiramente para algumas causas, como apoiamos a própria Câmara Municipal e os serviços, em algumas fragilidades que tinham, e que nós enquanto promotores ajudamos, como por exemplo, a compra de maquinaria para trabalhar o solo das áreas verdes da cidade, a plantação de cerca de mil árvores que estamos a fazer este ano aqui na Bela Vista, o estudo de fauna e flora que fizemos também aqui por causa do prado que temos. Isto é um prado de sequeiro, que tem de estar seco nesta altura do ano, e ndurante o inverno está verde. Também fizemos a plantação de ninhos para os pássaros que estão aqui, e mesmo para os insetos, criámos hóteis. Criamos tudo aqui, tentamos que o ecossistema esteja melhor quando nós saísmo, do que entrámos.
O Kalorama define-se por esta diferenciação, junta a música, junta as pessoas e junta a arte. Tentamos trabalhar muito com artistas de Lisboa, e por isso temos os palcos que são desenhados por artistas de Lisboa, temos várias ativações de marcas que também juntamos os artistas de Lisboa para fazer esta curadoria (Chelas é o Sítio), juntamente com a Underdog, e portanto, nós estamos um bocadinho na vida e no quotidiano das pessoas.
RDB: E eis que chegamos à música…
DM: A música é rei, não é? Portanto, temos dezenas de artistas muito pensados num cartaz para verdadeiramente amantes de música, não nos posicionamos como muitos outros festivais que são mais comerciais, e portanto, quem olha para o nosso cartaz percebe, e quem é conhecedor de música, percebe a linha em que nós seguimos em toda a curadoria musical.
RDB: Apoveitando essa deixa, tiveram recentemente um contra-tempo, daqueles que não é possível controlar (cancelamento da tournée Europeia dos The Smile). Ainda vão fazer a substituição da banda no cartaz?
DM: Vamos anunciar o nome dentro de uma semana, semana e meia. Doenças acontecem a todos, mas infelizmente a banda teve que cancelar toda a tournée da Europa.
RDB: A quantidade de festivais que estão a acontecer em simultâneo na Europa, colocam um desafio tremendo, e acho que é um exercício que muitas poucas pessoas experimentam fazer. Quem está do lado de for a limita-se a pedir para trazer a banda A ou a banda B. É abrir uma caixa de comentários no Instagram e constatar isso. as pessoas não imaginam o quão difícil isso é, ainda para mais com o festival a decorrer no final do verão, tornando-se mais um acréscimo de dificuldade. Como é que foi esse desafio?
DM: Eu estou neste meio de festivais há cerca de 20 anos, e cada ano tem sido mais difícil a competição de bandas. O que falou, e muito bem, o final do mês de Agosto também não é fácil; alinhamos com muito poucos festivais a nível europeu, e foi por isso também que a Last Tour, enquanto promotora ibérica, tem uma réplica do Kalorama em Madrid, o que lhe dá mais força, consegue fechar mais datas para esses artistas, e portanto também consegue trazer estes nomes, porque consegue também fechar mais do que uma data com as bandas e trazê-los à Península Ibérica. Temos uma equipa de booking muito grande, e muito reconhecida no mercado, e isso ajuda-nos na relação também com os artistas, com os managers, com os agentes, e desta forma nós já estamos a fechar nomes para 2025. Ou seja, um cartaz como os cartazes que nós apresentamos, demora mais de um ano a fechar.
Depois as pessoas muitas vezes perguntam “mas porque é que o artista que está na estrada não pode ir ao MEO Kalorama”, ou “não pode ir ao Calorama Madrid”… porque já tem outras coisas, ou vai para casa mais cedo, ou seja, não é fácil gerir. Temos artistas a chegar com seis, sete, oito camiões de material, e que estão a fazer um show com aquela performance específica, uns não vêm de avião porque só gostam de ir nos tour bus e demoram mais tempo de um sítio para o outro. Portanto, são muitos e muitos detalhes de que depende a construção de um cartaz.
RDB: Quando começamos a estudar o cartaz, apercebemo-nos que há muita qualidade naqueles nomes que para muitos começam por passar despercebidos. É evidente que houve um cuidado na curadoria, nas escolhas. Aqui depois entra o desafio que é conseguir chegar às pessoas. Mais uma vez estando habituado a estar em festivais a parte da descoberta para mim é um imperativo. Naturalmente que há pessoas que não pensam assim, e suponho que procuraram criar aqui uma mescla entre aqueles nomes que são altamente apelativos e depois pelo meio conseguir inroduzir esse aspecto novo. E acho que aqui realmente há muito potencial. Os Monobloc, a Fabiana Paladino que está a começar a dar muito para falar, a Peggy Gou também, os English Teacher ou até os argentinos Bandalos Chinos que têm tudo para surpreender muita gente.
DM: Fez uma leitura corretíssima. Nós damos palco e temos que chamar as grandes figuras que todos conhecemos, mas temos de dar palco a quem está agora a aparecer e quem está a crescer. A Peggy Gou é um caso desses, que já esteve connosco noutros festivais que fazemos, em Espanha por exemplo, e que está a ter um crescimento brutal, e que em Portugal muita gente pedia. Queremos que estes artistas menos conhecidos, como os que deu o exemplo, tenham aqui palco e que quando forem maiores que estejam sempre connosco. Nós precisamos de promovê-los em Portugal e em Espanha que são os principais mercados que trabalhamos e desta forma ajudá-los como eles nos ajudam, culturalmente mostrando outras realidades. E depois estão connosco quando vêm em tournée, quando fazemos salas, quando fazemos outro tipo de espectáculos.
RDB: No fundo a actividade que a Last Tour vai desenvolvendo ao longo do ano acaba por ser um pouco como um tudo de ensaio, para experimentar coisas, não só pata trazer a banda ao festival, mas também para procurar coisas semelhantes dentro do mesmo género.
DM: Claro, e muitas vezes convidamos para a primeira parte dessesmgrandes artistas que fazemos noutras salas, artistas que precisão desse empurrão, para que depois possam vir a solo.
RDB: O termo turismo de festivais ganhou força em Portugal nos últimos anos. O Kalorama procua isso de forma deliberada? Surgiram nalgumas publicações, referências ao festival em meios internacionais. Isso é algo que o Kalorama faz deliberadamente, ou acaba por ser mais na base base do passa palavra?
DM: Nós comunicamos. A vantagem de ter os festivais, tanto o Kalorama em Lisboa, como o Kalorama em Madrid, nas capitais, já traz uma possibilidade extra aos festivais e ao que se faz. Depois, como em Lisboa se fazem centenas de espetáculos por ano, e como trabalhamos com muitas agências exteriores, neste caso estrangeiras, também nos dá essa visibilidade perante os meios. Assim que anunciamos que vamos ter um novo festival ou que vamos fazer um determinado espetáculo, esses meios replicam essas informações. No entanto, nós temos agências de comunicação específicas para trabalhar no mercado externo. Também comunicamos em Inglaterra, em Espanha, em França, na Holanda. Nós temos várias agências que trabalham connosco e nos ajudam, efetivamente, a comunicar isso e a comunicar Lisboa. E a prova disso é que este ano, pela primeira vez, temos um palco que prima por ter vista sobre a cidade, no ponto mais alto do recinto. É um palco em que vamos ter artistas nacionais e artistas estrangeiros, e que vai mostrar que Lisboa é para todos.
RDB: Voltando um pouco ao tema da mobilidade, que ganha especial importância numa cidade como Lisboa. Por exemplo, esta iniciativa que anunciaram no final do mês passado dos descontos com o Navegante, foi algo que surpreendeu muita gente. Para quem vive em Lisboa ou arredores é mais do que um incentivo para não trazer o carro.
DM: Esse foi o primeiro objetivo, que é facilitar toda a operação de transporte, toda a operação logística que nós temos aqui. Procuramos ter esse cuidado que é tentar perturbar o mínimo possível a vizinhança, e os carros e as pessoas a virem de transporte individual causam problemas.
Aproveitámos, no fundo, o lançamento da aplicação do navegante, a comunicação do novo cartão com as novas rotas, com os novos parques pela cidade e todos os serviços que o navegante tem hoje em dia para juntar a isso à vinda ao festival. Para além disso, vamos ter shuttles da Via Verde e parcerias a Telepark, que vão permitir estacionar por um valor único e depois vir para o recinto em transfers gratuitos a partir desses parques. Opções não faltam.
RDB: Já vimos aqui no Parque da Bela Vista outros festivais, e sabemos que o número de pessoas pode ser claramente maior. Ainda há uma margem de crescimento. Procuram isso?
DM: Não. Nós limitamos a experiência. Basicamente, nós pretendemos que as pessoas venham, divirtam-se com qualidade, segurança e com o seu espaço. Ou seja, pretendemos que as pessoas se movam de palco para palco, que as pessoas vão descobrindo os vários cantos e recantos. Que vão descobrindo os vários grupos e as várias músicas. E que, no fundo, a experiência que levam daqui não seja de uma multidão que não se conseguem mexer, que não consigam dançar, que não consigam beber tranquilamente uma cerveja e estar em filas para tudo. O público vai ter cada vez mais qualidade. Nós temos isso completamente claro. Nunca vamos fazer aqui um festival com 60 mil pessoas.
RDB: E por vezes há surpresas…
DM: Por vezes há surpresas. No palco de San Miguel, por exemplo.
RDB: No concerto de M83…
DM: Não esperávamos que tivesse tanta gente. Este ano o palco já vai conseguir receber mais pessoas. Transformámos a área de forma a receber mais pessoas, vamos abrir toda a frente o palco com regis laterais. Depois temos a questão da gestão dos slots… Com tão bons artistas não conseguimos meter todos no palco que tem mais capacidade. No entanto, tentamos sempre fazer o melhor possível…
RDB: E como em todos os festivais vai ser necessário fazer escolhas. Mas faz parte também.
DM: É isso mesmo!
Não deixem de ler ou reler a nossa antevisão do MEO Kalorama 2024!
O MEO Kalorama tem lugar nos dias nos dias 29, 30 e 31 de agosto. Os bilhetes encontram-se à venda nas Lojas MEO e na Fever.
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