Metz @ ZDB (13.02.2013)
Carta de São Valentim, volume dois
Há precisamente um ano, escrevemos uma carta de São Valentim a propósito do concerto de Active Child no Lux. Em 2013 não nos é possível repetir o gesto. Se os Metz fossem uma carta de amor, seriam de ruptura, de uma ruptura recheada de mágoa e rancor, mas também uma ruptura em que nada fica por dizer.
Os Metz ao vivo são loucos, hiperactivos e insaciáveis. Têm células dos Nirvana e dos Pistols (não assumidas no site da Subpop) e dos Shellac, dos PiL e dos Pixies (estas já assumidas no site da Subpop) e vêm do Canadá, terra que exporta muita coisa épica (Arcade Fire, Patrick Watson), alguma electrónica (Chromeo, Crystal Castles) mas também algum rock e punk mais ou menos merdoso (Billy Talent, Danko Jones, os óptimos Black Mountain, etc).
Tal foi a quantidade de bandas horrendas aparecidas nos últimos 15 anos num género a que se convencionou chamar de pós-grunge, que mencionar os Nirvana como influência clara se tornou algo evitável para uma banda que quer manter a sua integridade. Os Metz não parecem sofrer deste problema (obrigado, Davide Pinheiro, que nos tirou todas as dúvidas – a Mesa de Mistura entrevistou os Metz antes do concerto) e a ausência dos Nirvana na lista de influências deve ser, portanto, encarada de forma natural. No entanto não pode ser negada. Ao longo dos cerca de 45 minutos de concerto, lembramo-nos frequentemente de Cobain e companhia. Em «Dirty Shirt» parece que se vão atirar a «Tourettes» dos Nirvana, mas não, é só mais uma grande canção rock (com todas as outras dez) capaz de nos deixar no chão.
Os Metz não têm vergonha de assumir que as canções são sobre assuntos triviais e poucos interessantes – “This one’s about drinking too much”, dizem a certa altura. Fica-lhes bem, até porque o trio tem aquela atitude de quem parece não ter problemas em levar com copos de cerveja em cheio na fronha ou de lixar uma guitarra em palco. Foi acima de tudo um um óptimo estágio para aquilo que poderão fazer no Primavera Sound, quando actuarem para 50 vezes mais pessoas. O rock não está salvo, mas continua a respirar.
Fotografia por Rita Sousa Vieira
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