Milhões de Festa 2012 | Dia #1 (20.7.2012)

Milhões de Festa 2012 | Dia #1 (20.7.2012)

“Z'imbora” fazer a festa!

Trocámos o primeiro dia de borlas no Milhões de Festa por uma noite de forró nas Galerias de Paris na baixa do Porto. Não foi intencional, mas às vezes o destino parece conluiar-se para não nos fazer chegar onde queremos e, mesmo a escassos quilómetros, Barcelos parece estar tão longe…

Mas corre o boato de que foi a noite perfeita para tirar a ressaca do ano inteiro sem Milhões.

Barcelos, a terra dos panados e galos gigantes, não podia ter um festival que não fosse isso mesmo… Gigante! Este ano o MdF (acrónimo para Milhões de Festa) foi mais tranquilo que no ano anterior, os concertos foram mais convencionais, mas não deixaram por isso de ser incríveis. Porque como se diz por ai, o Milhões é um festival para se ir sem se conhecer o cartaz. E é sempre bom descobrir coisas novas e sermos surpreendidos.

Chegámos a Barcelos mesmo em cima da hora para ouvir Jibóia e valeu a pena andar a correr ofegante entre a bilheteira, o campismo e a piscina. Que grande concerto! Ritmos quentes vindos directamente das arábias para aquecer ainda mais a tarde de sexta-feira, à beira da piscina claro, o melhor spot do Milhões. Teve direito a convidada especial e ambos, quais encantadores de serpentes, fizeram aparecer uma jibóia no público com o vocalista de Equations à cabeça ornado de um turbante improvisado com uma toalha de praia. Os Equations que entraram em seguida mas, antes, a sequência musical perfeita como banda sonora da piscina, de Barry White a Bonnie Tyler, a fazer lembrar um cruzeiro transatlântico. Os meninos do rock matemático entreteram-nos, também eles, com jams românticos enquanto esperávamos os acertos do soundcheck. Depois, foi em bom Português, uma bojarda de som, com uma bateria épica a comandar as tropas. Há batalhas de bisnagas na piscina e banhistas que se enfileiram na borda da piscina para assistir aos concertos. Equations convidam Jibóia ao palco para a última música, há moche, claro, ou não estivéssemos num concerto de rock, e sobem ao palco os amigos de sempre, porque o milhões é isso, é amizade, carinho e amor. E prometemos que a partir daqui deixamos a lamechice de lado…

Alto! é provavelmente a última banda de Joca que me faltava ver em concerto e Joca não desaponta. Como sempre, cheio de pinta em palco, a alternar entre mics – um é daqueles de torneio de boxe – sobe às colunas, dança no meio do público e mete-se com as miúdas. Rock’n’roll na sua faceta mais genuína.

No palco Taína, o palco grátis do MdF, há Savana pelo final da tarde. E não vale a pena ir lá só pela música, a paisagem é incrível, com o rio a espraiar-se entre Barcelos e Barcelinhos, verde por todo lado a proporcionar grandes sombras para piqueniques simpáticos. Este ano há canecas de vinho daquelas em barro, as originais, gravadas com Milhões de Festa! E não nos esqueçamos de referir o kit MdF com direito a toalha, chinelos, t-shirt e saco, tudo devidamente identificado para mostrar aos amigos que se esteve no festival mais óssome de Portugal.

Savana começaram o concerto bastante depois da hora prevista, houve um soundcheck interminável que roçou o desesperante, mas foi um bom concerto, com o korg a dar melodia ao rock de fim de tarde de Savana.

Depois da hora de jantar esperamos La La La Ressonance. Trazem um clima tranquilo, ideal para o início de uma noite que se prevê longa. Apresentaram o álbum novo, os músicos vão rodando entre os vários instrumentos e oferecem-nos um mood jazz improvisado que convida a sestas na relva. Ra e Löbo abriram as hostes do palco Vice. A primeira parte foi assegurada por Ra. Muito bom, uma electrónica dark cheia de força, em camadas coerentes. Entraram a meio do set os Löbo para acrescentar uma guitarra e uma bateria aos synths, e foi um som denso o que ouvimos durante os cerca de 20 minutos em que estiveram em palco. Seguiu-se Sensible Soccers no palco Milhões a proporcionar bons momentos para a dança, embora o público estivesse no início do set bastante tímido.

O som de League é como estar na praia ou a pedalar com a cesta de piquenique à beira-mar; são canções pop ligeiras com um vocalista que parece ser um wannabe Devendra Banhart. O concerto não convenceu. Mas Baroness trataram de nos esmurrar com um som pujante e cheio de headbangings, logo nas duas primeiras músicas. Depois amainaram um bocado e apresentaram-nos o seu novo álbum acabadinho de sair (está à venda desde dia 17), num daqueles que foi dos concertos da noite. Prometeram voltar enquanto nos faziam juras de amor – “We officialy love you” foi a resposta do vocalista aos “We want more” do público.

Holly Other foi pesado, foi sensual, foi um grave consistente e lento, num slow com cadência de r’n’b mas bem dark. O rapaz apareceu em palco com um pano preto a cobrir a cara, ficou a dúvida se o fez por excesso de beleza ou o contrário.

Foi o momento introspectivo antes de escorrermos suor com Throes + The Shine. Um ano depois do concerto de estreia, que by the way foi incrível, os rapazes do rockduro aumentaram a formação e mostraram que sabem como pôr uma multidão a dançar desvairadamente; kuiámos, dançámos bué sempre. Dispensável foi a canção dedicada ao patrocinador, num festival que se destaca pela não associação a grandes marcas. Mas tivemos direito a purpurina, houve meninas a subir ao palco para dançar e depois um grupo misto para a apoteose com um “vocês são demais!” a agradecer com simpatia a entrega do público. Alapámos no Palco Vice para os concertos do fim da noite.

Primeiro, Youthless com um rock para dançar com momentos que traziam uma cadência meio kuduristica ao de cima; os meninos de Manchester com portugueses à mistura souberam antever aquele que foi sem dúvida o concerto mais indescritível do Mdf este ano. Meneo esteve entre o completamente freak, e o incrível, o rapaz do gameboy, como o próprio se auto-intitula, é isso mesmo, é um gajo em palco com um gameboy. E «Tigger Woods is gay», ou as versões de «Take on me» de A-ha e «One more time» de Daftpunk foram inacreditáveis. Mas Meneo insiste em não deixar a música chegar até ao fim, e vai desligando o cabo do gameboy numa trip muito individual. Garantiu-nos que consegue tocar Bach com o seu órgão sexual e termina o concerto com um «I just call to say I love you» acapella. Deixámos o recinto ao som de Glam Slam Dance porque ainda só estamos no primeiro dia e há que manter firmes até ao fim.

Fotografia por Mariana Rosa. Galeria disponível aqui.

Reportagem do segundo dia do Milhões de Festa 2012 aqui; terceiro dia aqui.



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