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Mogwai

Aula Magna, 5 de Fevereiro.

Quem diria que, passados dez anos, a situação iria ser tão diferente quanto a noite do dia?

Em 1999, quando se estrearam ao vivo em solo nacional, os Mogwai eram uma banda praticamente desconhecida, a tocarem no último dia do festival Paredes de Coura, num cartaz encabeçado pelos Guano Apes(!). O público, que esperava ansiosamente pela banda alemã, brindou os escoceses com apupos e moedas até este terminarem de tocar. Claro que havia uma outra parte do público para quem aquele concerto foi uma espécie de revelação. E agora, uma década depois, o culto à volta destes pioneiros do pós-rock desenvolveu-se de tal forma que a Aula Magna esgotou para os receber nesta nova visita.

Os últimos álbuns da banda têm-se pautado por um registo mais ambiental e atmosférico, mais próximo da tendência actual do pós-rock, de bandas como os Sigur Rós, algo que tem afrouxado um pouco os ânimos da crítica. E ao vivo percebe-se, perfeitamente, o porquê desse menor entusiasmo. Apesar das guitarradas do inicial «I’m Jim Morrison, I’m dead», os temas que abriram o concerto, na sua maioria pertencentes ao último disco, “The hawk is howling”, deram início às hostes de forma letárgica.

No entanto, os Mogwai não são novatos nestas andanças e sabem como fazer um concerto. E ao longo das primeiras faixas foram construindo uma muralha sonora, que foi adensando cada vez que se aproximava mais do final. Curiosamente, não foi coincidência o facto de o concerto ter começado a subir de interesse com a passagem de Barry Burns das teclas para a guitarra, completando assim a principal arma dos Mogwai: o seu arsenal de cordas.

Com o palco despojado de qualquer elemento acessório, exceptuando os habituais artefactos do Celtic de Glasgow, os Mogwai foram moldando a sua actuação, faixa a faixa, com a precisão de quem extrai da criação do mundo os mais ínfimos sons e prevê o apocalipse com as mais violentas cargas sonoras. Estas últimas eram acompanhadas pelos strobes em rotação máxima, que deixavam a audiência literalmente colada às cadeiras da Aula Magna. Os clássicos «Mogwai fears Satan», »Like Herod» ou «Batcat» foram verdadeiras tempestades, o equivalente sonoro ao temporal que desabava no exterior.

Com os temas a extenderem-se por vários minutos, o encore veio encontrar uma assistência exausta e sem forças para resistir a «Precipice» e «Two rights make one wrong», provando que há concertos que não necessitam de tempo extra. E para quem dúvidas tinha de que os Mogwai são uma banda rock, basta ver como «Friend of the night» foi, pertinentemente, escolhida para homenagear Lux Interior, o mítico vocalista dos The Cramps, que havia falecido apenas dois dias antes, deixando o mundo da música bem mais pobre.

Na primeira parte, os igualmente escoseses The Errors abriram as hostilidade. Depois de nas duas primeiras músicas terem dado a impressão de que estávamos perante uma espécie de sucessores dos Mogwai, os teclados marados e a electrónica dos sintetizadores começou a sobrepôr-se à bateria e à guitarra. Definitivamente, os anos 80 não combinam com o pós-rock. Valeu pelo esforço, pelo baterista e pela penúltima música.



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