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O pior de 2016 são as listas dos melhores

Fazer listas é um óptimo passatempo. Nada como perder horas a elaborar a playlist do nosso funeral, as piores músicas das melhores bandas, compilações de punk terceiro mundista ou black-metal progressivo de países dos trópicos, tal como o “Alta Fidelidade” sonhou menos as popalhadas mainstream dos corações partidos.

Depois há outro tipo de listas, que são as dos melhores discos do ano. Nessas, além do seguidismo obediente e do sentimento de manada que existe entre a maioria das publicações, a generalidade dos discos são, na melhor das hipóteses aborrecidos, porque ou são de nomes já consagrados ou então do sabor da semana que para o mês que vem já terá dado lugar a outro.

Isso vê-se quando nos melhores de 2016, desde a Pitchfork até à Rolling Stone, o disco da Beyonce é considerado um dos melhores álbuns do ano. Se a imaginação dos formadores de opinião está assim tão escassa ao ponto de terem de incluir no Top 10 um disco que passa recorrentemente em rádios como a Comercial, é porque claramente sofrem de disfunção musical. Numa época em que, desde o Bancamp até ao Spotify e contando com o boca-a-boca, é literalmente impossível não tropeçar em bandas, géneros e discos novos cada vez que se liga a internet, contar Beyonce, Solange ou Frank Ocean como destaques de 2016 é literalmente uma atitude balofa e sintomática de uma meia-idade antecipada. O mesmo pode dizer-se dos Radiohead, que por muito bons que sejam, nada mais têm feito do que repetir até à exaustão o “Kid A” e o “Amnesiac”, ou da pandilha a que pertence o Kendrick Lamar e o Kayne West que nada de novo trazem e do velho que trazem pouco se aproveita.

Já sabemos também que, regra geral qualquer disco de Leonard Cohen ou Nick Cave, se não for bom, é pelo menos digno de repetidas audições para perceber o que há de errado connosco por não estarmos a gostar deles tanto como deveríamos. Depois temos também as ininterruptas recriações do folk e do free-folk do lado de cá de Joanna Newsom, de que Weyes Blood, Angel Olson e Marissa Nadler fazem parte e o pseudo-rock eunuco de bandas como Parquet Courts ou os Car Seat Headrest que mais não fazem do que recuperar desajeitadamente o college-rock e o indie-rock dos anos 90, da maneira mais superficial e pobre possível. O que não há de certeza nestas listas dos especialistas é investigação e gosto pela música, que foram visivelmente trocadas pela preguiça e pelo conforto de ouvir o que lhes é posto à frente. Só assim se explica a esmagadora maioria das bandas presentes mais não serem do que versões amestradas do que tudo o que a música algum dia teve de bom. O que também não há nestas listas são bandas com atitude, independentemente do estilo musical. O que não há de certeza em todas estas listas são bandas que estão a começar e que merecem e deveriam constar nas listas de melhores do ano. Mas se calhar é preferível assim, porque quem quer procura, quem não quer acomoda-se.



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