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Linda Martini, Lânguida Martini

Em "Sirumba", nem a brincar os Linda Martini gostam de perder

O caminho dos Linda Martini, além de sólido e bem sucedido, tem sido bastante equilibrado e com passos sempre bem medidos. Ainda que estes possam surgir naturalmente, não sendo previamente programados.

Após um início marcado em grande parte pelas palavras e frases fortes, ombreando com a distorção, nos trabalhos seguintes (como “Casa Ocupada” e “Turbo Lento”) foram desenrolando a sua veia mais sónica, em pedaços instrumentais cada vez mais experimentais e alongados. Tudo isto sem que as palavras tenham ficado mais macias.

Além do lado sonoro, os Linda Martini têm feito questão de assinalar os vários marcos que vão edificando a sua carreira, além de também criando eles próprios certos marcos para a celebrarem.

Quando voltaram a Paredes de Coura, e demonstrando quão marcante foi a sua primeira passagem pelo festival minhoto, celebraram a efeméride repetindo exactamente o mesmo alinhamento.

Para culminar a tour de “Turbo Lento”, atiraram-se ao palco do Musicbox três dias consecutivos, um para cada álbum, comemorando condignamente o trabalho que lhes tem saído das pautas.

Eis-nos chegados então a “Sirumba”. É desde logo um disco sonicamente mais contido. Mas nem por isso menos intenso. Aliás, nem seriam os Linda Martini se assim não fosse. Simplesmente domaram a intensidade, envolvendo-a numa película melódica protectora, sem que isso lesasse a liberdade criativa dos instrumentos em acção. A voz de André Henriques praticamente não sai de um registo mais tranquilo, sem que isso danifique a epicidade do seu timbre, demonstrado desde a primeira estrofe do tema-título.

Aliás, os próprios elementos da banda afirmaram que o single, «Unicórnio de Santa Engrácia», foi escolhido em parte para introduzir à audiência as mudanças que o disco acarreta.

Beneficiando da sua sala de ensaios residente no HAUS, o grupo teve mais tempo para explorar e exprimir as suas ideias, sem ter grande pressa em chegar à meta. Sacudiram assim alguma imediatez que esteve sempre presente na concepção dos álbuns pretéritos.

«Bom Partido» é provavelmente o tema em que estas novas coordenadas se impõem de modo mais vincado.  Também «Comer Por Dois» patenteia estes novos tons.

É como se não houvessem explosões, mas o fogo-de-artifício continuasse a pintar os céus nocturnos.

Os últimos dois temas de “Sirumba” são espantosos, conseguindo confluir as duas vertentes dos Linda Martini que temos vindo a diferenciar ao longo deste texto.  Em «Dentes de Mentiroso» e «O Dia Em Que A Música Morreu» a parte instrumental encontra-se em total ebulição, ao passo que a voz de André Henriques aparenta estar a interpretar uma canção com outro ritmo, como se conseguisse manter a calma no meio de tumultos crescentes.

Os Linda Martini não querem ser doutores, como confessam na faixa de abertura, preferindo não largar da mão os sonhos de criança. E “Sirumba” demonstra que os adultos também podem brincar como as crianças, mas sem nunca se libertarem autenticamente das cicatrizes e da sua consciência.

Um disco acabado de chegar ao topo de vendas em Portugal, e que a banda merecidamente estreou no palco do Coliseu dos Recreios, assinalando um novo marco neste percurso bem medido.

Em suma, os Linda Martini nem a brincar gostam de perder.



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