“Orquestra Geração”
Um projecto e documentário com uma forte carga pedagógica
O Projecto Orquestra Geração centra-se na acção e desenvolvimento social através da música, em crianças e adolescentes. Teve o seu início na Venezuela, inspirado no projecto internacional Orquesta Sinfónica Simón Bolivar, antes conhecido como El Sistema Nacional de las Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela, expandindo-se posteriormente para outros Países, nomeadamente, Portugal.
O objectivo é promover um crescimento mais estável e equilibrado nos jovens, encaminhando-os e motivando-os na prática de um instrumento musical. Ficou comprovado que os jovens que participaram neste projecto melhoraram incrivelmente o rendimento escolar e alargaram as suas perspectivas futuras.
Pode-se comparar, e com razão, uma comunidade a uma orquestra, já o dizia Zeca Afonso, na sua música «Os Índios da Meia Praia»: “Eram mulheres e crianças/ Cada um c’o seu tijolo/ Isto aqui era uma Orquestra/ Quem diz o contrário é tolo/ E toda a gente interessada/ Colaborou a preceito”. Pertencer a uma comunidade, a um grupo, neste caso a uma orquestra, é importante na adolescência, para desenvolver a entidade de cada um em conjunto.
O documentário “Orquestra Geração” foi realizado em 2011 por Filipa Reis e João Miller Guerra, e contou com a sua exibição no Centro Cultural da Malaposta. A exibição esteve acompanhada pela presença dos realizadores, para um debate pós-filme, aberto e esclarecedor.
Filipa e João iniciaram este projecto há três anos através da produção de vídeos encomendados pela Gulbenkian, pela EDP e pelo Ministério de Educação. A partir de aí, com a ligação que criaram com o projecto, principalmente com as pessoas envolvidas, acharam que seria o momento de partilhar um olhar mais profundo e desprendido das tais encomendas. A câmara passava desapercebida; “Já éramos invisíveis no meio deles”, adianta Filipa. Assim, as cartas para um filme documentário com uma forte vertente pedagógica estavam lançadas.
Os protagonistas são os próprios jovens músicos, da escola Miguel Torga, na Amadora. Ana, Daniel, Diogo, Marco e Mónica, integrantes da “Orquestra Geração”, são eles que dão vida, entre outros, a este relato, tão exemplar e empreendedor. Os escolhidos para protagonistas são o espelho da heterogeneidade que formava o grupo. Foi filmado durante o estágio de Verão; o calor e a praia manifestam-se, em algumas cenas. Durante este período, dois professores venezuelanos, do “El Sistema”, foram convidados para os acompanharem diariamente, o que os motiva brutalmente, atingindo graus elevados de evolução musical.
Filipa e João não só se limitaram às gravações dos ensaios, estenderam-se a outros campos. Para conhecermos melhor o íntimo destes músicos e para influenciar um maior dinamismo nesta representação da realidade, introduziram um Workshop de expressão dramática, a cargo da actriz Rita Loureiro, onde é explorada a personalidade de cada um e onde exteriorizam sonhos, objectivos e inquietudes, típicos de uma geração em crescimento. O dia-a-dia de cada um em casa também é focado, com a família, onde conversam sobre a orquestra, a paixão pela música e outros interesses.
Estes miúdos têm piada e alegram a narrativa com saídas bastante cómicas. Uma das partes que provocou estridentes gargalhadas na sala foi quando o Diogo (o que tocava Tuba), deitado na areia da praia, se vira para os outros dois amigos e pergunta: “O presidente é o Cavaco Silva né?” E outro responde: Ya, o Tabaco Silva, o Taco Silva, o Sovaco Silva…”.
Durante o debate, quando surgiu a pergunta por parte de um dos presentes: “O que foi feito destes miúdos? Continuam na música?” Filipa elucidou-nos que a maior parte deles sim, tinham seguido o seu rumo na música, à excepção de dois que sofreram um desvio técnico de percurso. Mas o resultado é positivo e o sucesso quase garantido. Por exemplo, a Ana está na Orquestra Metropolitana de Lisboa, já a Mónica e o Diogo foram para o Conservatório.
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