“Puta que pariu o amor” | Lady Mustache e Sara-a-Dias
Andamos todos ao mesmo
Um dos grandes mitos reservados à feminilidade, entre muitos outros, é o de que as mulheres com franja não são de confiança, o que até é bem capaz de ser uma grande verdade. Mas o que dizer, então, das mulheres com bigode?
Lady Mustache, uma alma de camionista dentro do corpo de uma princesa, lançou recentemente “Puta que pariu o amor” (Cego Surdo e Mudo, 2014), um pequeno livro com ilustrações bem catitas de Sara-a-dias a que faltou colocar, no canto superior direito da capa, uma simpática bolinha vermelha, tal não é a sem-vergonhice que nele habita.
Em menos de 50 páginas, a autora – que não usa bigode, estejam descansados – discorre sobre essa coisa do amor, tentando mostrar o seu lado mais negro e fazendo a apologia do celibato. Se o início chega a prometer poesia, dizendo que o amor cheira a coisa antiga – esperem lá, talvez não seja assim tão poético -, Lady Mustache trata desde logo de mostrar ao que vem: «Amar é semelhante a ter uma doença sexualmente transmissível, mas com menos comichão e corrimento.»
Mas nem só de pensamentos sobre a antiguidade e a doença vive o amor de Lady Mustache. Assiste-se também ao apanágio da lubrificação, partilha-se o sentimento da «estupidez de ver a pessoa que amamos a cagar» ou da conta conjunta no facebook, olha-se o lado piroso do amor como «o naperon e o cão de loiça dos sentimentos», abre-se a boca de espanto perante os homens que preferem a gelatina em detrimento do crème brûlée, condena-se aqueles que dizem “amo-te” sem amar apenas por medo de ficarem sozinhos – um pensamento idiota, pois «até os anões e os vesgos encontram alguém» – e, cereja cm cima do bolo, mostra-se ao homem o único tipo de frase capaz de fazer com que saia vivo de uma discussão travada no feminino: «Vou vender o meu Bentley GT e vou só ali à Cartier comprar-te um anel.»
Porém, depois de virada a última página, fica a clara sensação de que Lady Mustache, apesar da língua afiada e de um feitio ruim como as cobras, aguarda ansiosamente que o Cupido faça das suas e lhe espete uma seta junto ao coração. É que o amor pode ser feito de baboseiras mas, feitas as contas, andamos todos ao mesmo.
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