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Quelle Dead Gazelle e Galo Cant’às Duas @ Sabotage (13.04.2017)

Antes da abertura das portas do Rock ‘n’ Roll Club pouco depois das 22h30, nada fazia prever a saraivada musical que iria acontecer na Rua de São Paulo, em pleno Cais do Sodré. Táxis, autocarros, turistas e lisboetas passeavam calmamente, entre o cheiro que vinha dos restaurantes na área e a música que chegava de outros bares e clubes que já tinham ligado as luzes.

O Sabotage encheu-se progressivamente, e pouco depois das 23h, a música ambiente pára. Os Quelle Dead Gazelle não perderam tempo e assim que subiram a palco e as luzes se desligaram, abriram a performance com «Abismo». Pedro Ferreira dedilha, palheta, mistura sons com a ajuda do conjunto de pedais bem equalizados. Um bombo forte e ritmos que lembram uma marcha militar cheia de energia são marca de Miguel Abelaira. Em pouco tempo, a plateia entrava num transe musical, com o público a abanar-se ao ritmo das ondas de som que lhes atacavam os sentidos. Num frente a frente entre o guitarrista e o baterista, sentia-se uma tensão e libertação de energia nos sons que tinham laivos de Math Rock, ou Afro Pop. Com o seu penteado longo e a força das batidas, Miguel Abelaira parece ter roubado Mjölnir ao Deus nórdico do trovão, enquanto Pedro Ferreira, com uma mistura de sons inquietantes, parece ter aberto uma caixa de Pandora, ou estar a realizar um cerimonial de Druidas na floresta de pessoas que assistiam na pequena sala apinhada. Numa performance que incluiu músicas do álbum “Maus Lençóis”, lançado no ano passado, e faixas do EP homónimo de 2013, fizeram questão de agradecer várias vezes o convite feito pelos Galo Cant’às Duas para estarem no Sabotage nessa noite.

Os vencedores do Festival Termómetro de 2013 deixaram o palco bem aceso para os finalistas da sua última edição, na apresentação de “Os Anjos Também Cantam”, o seu álbum de estreia. Isso podia intimidar alguns, mas não foi o caso dos Galo Cant’às Duas. Dispõem o seu material sobre a alcatifa que isola o som: um contra-baixo, um baixo e uma guitarra acústica para Gonçalo Alegre, que tinha aos pés um conjunto de pedais dispostos em meia-lua, e do outro lado a bateria onde Hugo Cardoso se sentou. Além do material convencional, três panelas com algumas amolgadelas, que causaram alguns sobrolhos levantados, foram colocadas sobre a capa do bombo pelo baterista. Estavam prontos para começar. Abriram com «Marcha dos que Voam», onde muito rápido Hugo Cardoso mostrou para que serviam as panelas voltadas ao contrário. A actuação do duo nortenho explorou diferentes sensações e emoções através de crescendos de intensidade e silêncios bem calculados. Mostraram uma paleta sonora rica, pela diversidade de instrumentos de cordas de Gonçalo Alegre e pela criatividade na bateria de Hugo Cardoso, que conseguiram manter o público aceso durante todo o espetáculo.

As quatro faixas do álbum foram apresentadas sequencialmente a um púbico que se mostrava receptivo, mas infelizmente, nem todos os ventos sopraram a favor da banda. Alguns problemas técnicos que se começaram a sentir na actuação dos Quelle Dead Gazelle acentuaram-se durante a actuação do Galo Cant’às Duas. Durante vários segundos Gonçalo ficou “mudo” devido a dois monitores que “estouraram”. Valeu a capacidade de improvisação de Hugo Cardoso que nunca perdeu o estado de espírito e continuava a percutir com uma naturalidade e criatividade que quase fazia crer que tudo fazia parte do espetáculo, não fosse o silêncio das cordas tão perceptível. É quando surgem imprevistos que se vê quem “tem unhas para tocar guitarra”, e os Galo Cant’às Duas mostraram que enquanto há baquetas, há esperança, com uma frieza que contrastava com a temperatura que conseguiram colocar na sala. A plateia vibrava e quando «Partícula» terminou, no final da performance, foi o público que se fez ouvir em aplausos e elogios.

O álbum de estreia de o Galo Cant’às Duas, intitulado “Os Anjos Também Cantam” foi lançado a 24 de Março de 2017 e está disponível para consulta online no Spotify.

Alinhamento:

Quelle Dead Gazelle
– Abismo
– Burundi
– Pedra Pomes
– Vaca Fria
– Madrasta
– Afro Brita
– Fala Baixo

Galo Cant’às Duas
– Marcha Dos Que Voam
– Respira
– Processo Entre Viagens
– Partícula



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