utter_header

UTTER em entrevista

"Não é aceitável que alguém que escolha o Inglês para cantar seja prejudicado ou criticado por este tipo de iniciativas"

Todas as semelhanças são pura coincidência. Poderiam ser originários de Inglaterra pela influência assumida dos poderosos Radiohead ou então oriundos da Islândia pela forte semelhança vocal ao grupo Sigur Rós. Mas enganas-te. Os UTTER, assim se chama o colectivo da qual fazem parte Giliano (guitarrista), Zézen (baterista), Humberto (teclas), Nek (baixo) e João (voz), são portugueses, mais concretamente de Braga, e em 2011 aventuraram-se no lançamento do seu primeiro LP editado pela Rastilho Records.

“Empty Space” é o título do álbum da qual fazem parte 13 canções originais, entre as quais os singles «Into the light», «In The End» e o mais recente sucesso «The Walking Dead». Praticamente todos os singles extraídos deste álbum ainda se encontram nos Tops de algumas airplays nacionais e, felizmente, concertos não têm faltado. Tratam-se, essencialmente, de canções inspiradoras sob o qual lançamos o seguinte desafio: coloquem o MP3 a tocar uma das músicas do disco; depois fechem os olhos e, por fim, deixem a imaginação fluir. Com certeza que os vossos pensamentos começarão a pré-conceber fotogramas e a música servirá como uma excelente banda sonora ilustrativa.

Depois de terem abrilhantado a primeira parte do concerto dos Feeder em Janeiro do ano passado, os UTTER viram o seu nome escrito na prestigiada revista francesa “Les Inrockuptibles”. Actualmente estes cinco companheiros encontram-se em digressão pelo país e a preparar novas surpresas. Directamente de Braga, para todo o mundo, os UTTER.

Respostas dadas pelo João

Como é que começa a vossa “odisseia” enquanto grupo?

A odisseia começa em 2006 com o nome de “UTTER”. Antes, porém, notávamos uma simetria comum entre todos, o que acabou por se concretizar num primeiro E.P. Mais tarde decidimos compor uma obra diferente, viajada, talvez mais heterogénea. O nome da banda surgiu no momento em que quisemos nomear o que sentíamos realmente quando tocávamos. Não fará mal algum dizer que aspirávamos ao canónico, ao elevado e ao total.

E, no vosso caso, dada a tamanha lista de influências musicais, como é que se processa toda a composição das músicas, desde as melodias até à escrita das letras?

Todas as canções têm a sua história. De comum apenas une-as o Empty Space que dá nome ao álbum. Quando as tocámos, logo no início, ficámos irritados! Talvez porque queremos mais e melhor, fino e refinado, orelhudo e alternativo, enfim, sentimos uma constante impaciência que só fica curada pelo momento em que vamos para o estúdio e as ouvimos num clima de pacificação musical.

Em 2007 tiveram duas músicas a tocar na rádio, mas só o ano passado é que lançaram o primeiro álbum, “Empty Space”. O que aconteceu durante este período de tempo?

Vivemos em Portugal! É um belo de um país, mas é ao mesmo tempo um país complicado para se ser músico. Durante esse tempo lutámos por um lugar. Só isso.

Mas o facto de terem sido finalistas do Festival Termómetro em 2011, acham que foi um bom impulsionador na vossa carreira?

Obviamente que ajudou. É um bom festival para bandas em ascensão. O problema do Termómetro passa pelo problema de todas as bandas portuguesas: chegar às pessoas.

O vosso primeiro single, «Into The Light» rodou imenso na rádio e o segundo, «In The End» continua a passar nas playlist nacionais. A que se deve a escolha destas músicas?

Todos temos pessoas próximas, e todos temos noção daquilo que em Portugal será mais populista. Ora, basicamente o que fazemos sempre é escolher as músicas que no final do dia vamos a trautear para casa, as músicas que enamoram as pessoas e também as que, em jeito de tiro no escuro, nos parecem mais “portuguesas”.

Falem um pouco sobre o vídeo «The Walking Dead» filmado na Croácia. Porquê a escolha deste país e qual a razão desta canção como terceiro single?

Este tema já existia há bastante tempo. Aliás, muito antes de termos conhecimento da série que agora é um sucesso televisivo. Curiosamente, aquilo que pretendíamos transmitir é exactamente aquilo que encontramos nesta série. O vídeo ficou entregue ao cuidado do grande Mário Macedo, que, viajado como é, estava na Croácia. Foi giro porque ele pegou na câmara e começou a filmar… lá! Quando voltou trouxe-nos este magnífico presente!

Ao longo destes meses já fizeram showcases nas lojas de discos especializadas, a primeira parte do concerto dos Feeder e têm tido uma agenda bastante preenchida. Como tem sido esta experiência de andar na estrada a divulgar o álbum e que tipo de feedback têm tido por parte do público?

O feedback é bastante entusiasmante. De repente percebemos que isto era exactamente como havíamos imaginado. As pessoas quando nos ouvem pela primeira vez pensam que somos de outro país, o que é uma pena; Portugal tem músicos capazes de fazer coisas magníficas. Agora só falta mesmo comprarmos um grande autocarro e andar pelo mundo fora a levar num bolso música e no outro Portugal!

Há alguma história engraçada ou algum momento importante que tenha acontecido durante algum concerto que queiram partilhar connosco?

Há muitos. Um muito engraçado aconteceu recentemente nos Açores. No final do concerto dezenas de fãs entraram pelo backstage para pedir autógrafos. Ora nós somos do Norte e não fechamos as portas a ninguém. Não sabíamos era que esta brincadeira iria provocar o que provocou: os seguranças do coliseu montaram tal aparato policial em redor deste evento que por momentos pensámos estar num episódio de CSI. Digamos que, no final, a brincadeira ficou bem cara.

Reparei que fazem das redes sociais um grande meio de promoção às vossas músicas e é também através das mesmas que chegam à conversa com os vossos fãs. Acham que é este o grande meio impulsionador para a partilha e divulgação da música?

O Facebook tornou-se uma das maiores armas de promoção para nós e para todos que o utilizam. Sabemos bem da sua importância e, sim, é verdade que o utilizamos para falar com todos os que fazem parte disto. O grande problema é que por vezes a informação é excessiva e torna-se complicado seleccionar os conteúdos que nos vão interessar. Mas isto já toda a gente percebeu. Importa é saber utilizar esta ferramenta de uma forma proactiva.

Olhando outros meios de divulgação, são várias as rádios têm passado as vossas músicas (sobretudo a antena 3 e várias rádios universitárias). Sentem que há cada vez mais vontade e disponibilidade destes meios para divulgarem bandas nacionais?

Por incrível que pareça, sim! Há uma forte campanha para divulgar o que é nacional… problema? Criou-se outra forte campanha para divulgar aquilo que é cantado em Português! Isso deu aso a que qualquer pessoa que toque um instrumento tenha uma banda de rock com letras engraçadas a tratar do quotidiano… Penso que se cai por vezes em situações ridículas, de extremos inaceitáveis. Qualquer artista deve compor e criar o que quer e na língua que quer. Agora, não é aceitável que alguém que escolha o Inglês para cantar seja prejudicado ou criticado por este tipo de iniciativas. A Antena 3 e as rádios universitárias são uma espécie de força contra todo este movimento anárquico viciado. Um bem-haja por isso mesmo!

Recentemente anunciaram que vão voltar a estúdio para gravar canções novas, mas também ouvi falarem reedição do álbum “Empty Space”. Estas novas canções servem de base para a reedição ou vem aí um álbum novo?

Temos muitas ideias a fervilhar e muita coisa boa a acontecer. Vamos primeiro desfrutar e organizar tudo e depois sim, revelar o que se anda a passar por aqui! Estejam atentos!

Qual foi a sensação de lerem o vosso nome mencionado na revista francesa “Les Inrockuptibles”?

Foi uma esplendorosa lufada de ar fresco! Estarmos a ser reconhecidos fora do nosso país… Esse é também o nosso sonho… E por aí também a escolha da língua das nossas músicas…

Também anunciaram que, muito em breve, farão uma tour pela Europa. Falem-nos um pouco sobre isso, ou seja, mais detalhes sobre a digressão – locais, etc.

Para já importa dizer que há bastantes convites mas, e como é óbvio, as coisas não podem ser feitas sem um plano ou estratégia coesa. Então, vamos primeiro delinear tudo, talvez contratar algumas pessoas para organizar bem as coisas e depois sim… iremos até onde for o nosso caminho.

Para quem ainda não conhece os UTTER, como é que vocês se definem?

Definimo-nos com o que vamos aprendendo… É essencialmente isso! Gostamos de sonoridades diferentes, de um bom copo de vinho, de uma paisagem, de cores, enfim, de tudo que temos posto na música que fazemos.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This