SELF MADE
Original, amiga do ambiente e com pronúncia do norte
Ir ao mercado vintage, artesanal e de antiguidades vale a pena. Além de encontrar peças de roupa únicas e incríveis, também acaba por poupar e apoiar artistas e artesãos portugueses. As carteiras andam mais vazias, mas a qualidade e o bom gosto não tem um preço tão elevado como pensa. No final, roupas personalizadas e únicas são algo cada vez mais apetecível e cobiçado neste mundo de CopyCats.
A SELF MADE nasceu no Norte deste grande mas pequeno Portugal, pelas mãos de um casal jovem e empreendedor, Carina e Simão, que viram uma oportunidade na vertente da moda e decidiram começar a criar peças de roupa originais, amigas do ambiente, sem exploração de recursos e feitas à medida.
Apresentam colecções para homem e mulher para todas as estações do ano, além de uns extras como meias e gorros quentinhos personalizados para o Natal. Têm malas com preços aliciantes, carteiras e porta-chaves feitos de materiais reutilizados, como caricas e pacotes de sumo ou leite, aplicações, acessórios e cachecóis para complementar peças de roupa, bolsinhas para telemóveis… tentam abranger tudo o que um cliente poderá necessitar e além. Centram-se muito em vestidos, peças casuais, desde o vestidinho de verão ao mais encorpado para o inverno.
Esta marca portuguesa tem muita presença em festivais e mercados, principalmente no Norte, sempre evidenciando a veia artesanal e ecológica da marca.
As peças da SELF MADE encontram-se à venda somente no Norte do país, nas lojas Conceito X (Braga), Cru Cowork (Porto) e Collective (Trofa). Para quem esteja interessado, mas longe, podem encomendar através de um email para o efeito exposto no facebook e Blog da marca.
A RDB foi ter um tête-à-tête com a jovem promissora Carina Silva sobre este projecto que tem vindo a desenvolver e expandir desde 2011.
Auto-intitulam-se de Eco-Friendly e sem exploração de recursos. Em que sentido é a marca amiga do ambiente?
A SELF MADE nasceu enquanto viajávamos (eu e o meu namorado, os criadores da marca) pela América do Sul (podem encontrar os diários de bordo desta incrível viagem aqui). Incrivelmente, estes países dotados de uma beleza natural única acabam também por ser países com muita poluição porque a generalidade das pessoas não foi educada a respeitar o meio ambiente. Mas enquanto explorávamos cidades mais pequenas destes países fomo-nos apercebendo que muitos artesãos utilizavam desperdícios de outros e recursos naturais para criarem peças de artesanato. Esta tornou-se então imediatamente uma das nossas premissas.
Em que medida somos amigos do ambiente? Bom, começa desde logo pelo facto de estarmos a reaproveitar tecidos de há 20 ou 30 anos atrás que estavam parados em armazém (o armazém dos pais do Simão, o meu namorado, que são vendedores de tecidos). Depois nunca deitamos fora as sobras, utilizamo-las para acessórios, seja para forrar caricas e com isso criar botões, seja para criar pequenos detalhes coloridos nas peças. Por outro lado, reaproveitamos muitas vezes fechos, botões ou rendas de peças antigas já estragadas para assim lhes dar uma nova vida. O meu pai, que é um senhor artesão, é também muitas vezes o responsável por nos ajudar neste processo de reaproveitamento uma vez que trabalhou com as mãos toda a vida. Temos por exemplo carteiras de mulher com asas de madeira, feitas a partir de portas antigas ou molduras de madeira que iriam para queimar. Finalmente, estamos a articular com escolas da indústria têxtil protocolos que nos possam servir para ter acesso a matérias novas mais amigas do ambiente.
Quais são os processos de fabrico que utilizam? Desde os tecidos aos toques finais?
A SELF MADE é extremamente artesanal, ou seja, importa salientar que não temos qualquer processo industrial no fabrico das nossas peças.
Normalmente o processo é o seguinte: em primeiro lugar escolhemos tecidos que achamos interessantes pelos padrões, pelo toque, pelo ar vintage; depois, pegando no tecido, imaginamos que tipo de corte poderá ser mais indicado – há tecidos mais rijos que obrigam a um corte mais simples e tecidos mais maleáveis que, por caírem melhor, se prestam a cortes mais invulgares –; aí, executamos os moldes da peça recorrendo a papel ou muitas vezes a tecido retalhado mas que serve para reaproveitar; a partir deste momento é confeccionada a peça e depois ficam os acabamentos ao meu cuidado: colocação de etiquetas, aplicação de botões, bordados, etc.
Para terem uma ideia, um vestido pode às vezes demorar quase um dia a ser feito, porque cada peça é única e é o processo de costura não é em série nem industrial.
Tens notado adesão dos portugueses à preferência pelo comercio nacional?
Os portugueses ainda vivem muito agarrados a marcas e, como sabem, as principais marcas são internacionais, mas com esta crise económica notamos que se começam a desprender e a estar mais atentos ao que é feito dentro de portas. A verdade é que este tipo de mercado, o das peças de design de autor costuradas à medida e numa lógica de peça única, começa a ganhar adeptos. As pessoas estão mais sensíveis ao artesanato, e há uma clara tendência para valorizar a qualidade dos nossos produtos que, tanto na área têxtil como no calçado, é significativamente melhor que o que é importado.
A nossa favor temos os preços, que são muito competitivos. Oferecemos produtos únicos a preço de loja standard, porque consideramos fundamental democratizar o acesso a este tipo de vestuário.
Fazem peças para crianças? Qual é o nicho que falta abrangerem?
Nas lojas onde estamos presentes – a Conceito X em Braga e a Cru-Cowork no Porto – temos apenas peças para adulto, mas este é um mercado a que achamos piada. Contudo, é um mercado difícil porque cada vez nascem menos crianças e depois com o ritmo de crescimentos dos miúdos os pais preferem optar por peças standard nas lojas a que já estão habituados e com preços muito baixos com os quais não conseguimos competir.
Um nicho que está a despertar verdadeiramente a nossa atenção e para a qual nos queremos orientar muito em breve é o das roupas XL, ou seja, pretendemos desenvolver peças personalizadas e originais para pessoas com tamanhos maiores que têm sempre tanta dificuldade em comprar peças bonitas que possam ajudar a realçar os seus traços.
Quem é Carina Silva? Qual o percurso que te levou a designer de Moda?
A Carina Silva é uma jovem empreendedora do Porto, com 26 anos, licenciada em Assessoria de Comunicação. Trabalha em Comunicação Cultural há 4 anos e, após uma viagem de 6 meses pela América do Norte e Sul, teve a ideia, em conjunto com o namorado, de criar uma marca de design de moda. No fundo aliamos o know-how da minha mãe, reformada mas com décadas de experiência em costura, o acesso a tecidos e fornecedores privilegiados devido ao negócio dos pais do Simão, o meu namorado, a criatividade do meu pai nos trabalhos manuais e a vontade de inovar que eu e o Simão tínhamos. Sempre gostámos de ter o nosso estilo próprio e, reunidas estas condições, pensámos: porque não começamos a projectar e a desenhar peças, vestidos, casacos, camisolas, leggings?
No início começou em tom de brincadeira, mas está a tornar-se um caso sério e queremos mais que nunca fazer crescer a marca. Não temos formação em moda ou design, mas temos criatividade, vontade de empreender e muita determinação. Em paralelo pretendemos fazer algumas formações em áreas relacionadas com a moda e adquirir novos recursos humanos dispostos a trabalhar connosco em regime de cooperativa.
Quais são os próximos passos para a marca?
Sobretudo crescer e afirmar-se. Queremos dar a conhecer a SELF MADE ao maior número possível de pessoas; queremos chegar a mais lojas e conseguir criar uma relação com os nossos clientes.
O sonho comanda a vida e porque não a longo-prazo pensar também em internacionalizar a marca? As barreiras são criadas pela nossa mente.
A SELF MADE vai manter-se uma empresa familiar?
A tendência será tornar-se uma cooperativa onde todos possam trabalhar e ganhar por igual. Recentemente juntamos à SELF MADE uma amiga que irá criar uma linha de acessórios SELF MADE em crochet.
Queremos fazer o mesmo com outros artesãos dos quais gostemos do trabalho. Juntos somos mais fortes.
Para mais informações e perscrutações visitem o Facebook (pesquisem arteselfmade) e o blog da Self Made, onde podem ver a última colecção e, quem sabe, fazer uma encomenda daquele vestido especial que sempre quiseram. Boas compras!
Boa sorte e parabéns a Carina e sua cara-metade pela coragem e empreendorismo. A SelfMade é um projecto a seguir e a apoiar.
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