Shortcutz Porto
Vai um shot de Cinema?
Que o Porto já respirava Cinema, já nós sabíamos. Que continua a respirar, vamos sabendo. Mas com Curtas é que talvez não imaginássemos. As sessões digerem-se bem, são rápidas e não chateiam.
Semanalmente, na sala 2 do Hard Club, podemos ver duas Curtas e conversar com os seus realizadores, graças ao festival Shortcutz Porto.
Todas as quartas-feiras, às 22h, há encontro marcado com Luísa Sequeira, um júri, e um sem fim de Curtas nacionais (e algumas internacionais) que insiste em crescer, tanto em qualidade como em quantidade. “Vicky&Sam” de Nuno Rocha, “Linhas de sangue” de Sérgio Graciano e Manuel Pureza, “Stand by Me” de Giuseppe Marco Albano, entre muitas, muitas outras, já passaram pelo ecrã do Shortcutz Porto, a sala do Hard Club com maior capacidade e que se encontra cada vez mais cheia. Foi através desta iniciativa que surgiram Shortcutz em Berlim e em Madrid, lançados por pessoas que assistiram à edição do Porto.
O Shortcutz contabiliza a exibição de 180 curtas-metragens, sempre com presença dos realizadores, e um total de público de 8000 pessoas.
Para sabermos mais sobre o Shortcurtz Porto falámos por com Luísa Sequeira que, além de há muito se destacar na promoção do Cinema Português, agora dirige o festival que está perto de assinalar a sua 75ª edição.
Vemos que o Shortcutz é um evento que decorre em várias cidades europeias e sabemos que foste tu, Luísa, que o trouxeste para o Porto. Como foi o processo e porque decidiste trazê-lo?
Surgiu de uma forma muito natural. Na altura foi através do “Fotograma”, programa que coordenava e apresentava na RTPN, um magazine dedicado ao Cinema em língua portuguesa. Fui fazer uma reportagem sobre o Shortcutz Lisboa e fiquei rendida. Achei o movimento muito democrático e com potencial de crescimento. Gostei muito.
Entretanto, no momento em que o programa de televisão “Fotograma” já estava em velocidade de cruzeiro, já tinha o seu público específico e conteúdos interessantes, a estação de televisão decidiu migrá-lo para um programa completamente diferente, o “Cinemax”, com um conceito a nível estético e de conteúdo que não me agradava.
Neste novo programa muitos conteúdos já não entravam de forma tão assídua. Achei uma pena terem acabado com um programa que fazia serviço público. Julgo que empobreceram mais uma vez o espaço dedicado ao Cinema Português.
Entretanto, Rui de Brito, o mentor do Shortcutz, lançou-me o desafio para fazer o Shortcutz no Porto. Achei que o deveria fazer pois, já que não estava feliz no meu trabalho e sentia que não estava a divulgar tudo o que se passava nas curtas-metragens, esta era uma forma de colmatar essa falha. Assim, o Shortcutz Porto surgiu de uma forma bastante pessoal, como todas as coisas importantes na vida. E faz todo o sentido pois, como disse, é democrático, gratuito, e funciona como uma plataforma de contactos e de divulgação de outros festivais. Além disso, o mais importante factor é ser semanal, criar rotinas e pode formar novos públicos.
Depois foi arranjar uma equipa que acreditasse no projecto e um espaço que nos desse as condições para fazer o Shortcutz, a sala 2 do Hard Club. É o local ideal, tem excelentes condições de projecção, um bar, e é num local muito bonito, no Mercado Ferreira Borges, que está no coração da cidade.
Ouvimos dizer que desde o início que tem sala cheia. A aceitação do público para a visualização de Curtas tem sido fácil?
Sim. Confesso que a primeira vez que fiz o Shortcutz aqui no Porto duvidei de como é que conseguiríamos manter a sala composta. Contudo, as expectativas têm sido superadas. Felizmente temos a sala cheia todas as semanas. Mais de cem pessoas deslocam-se semanalmente à sala 2 do Hard Club para ver curtas-metragens.
Quais são os critérios de escolha dos filmes que passam?
Criatividade e qualidade. Tento fazer uma selecção de Curtas de realizadores distintos em todas as sessões. Por exemplo, na mesma sessão exibo um filme de um estudante de Cinema juntamente com um filme de um realizador já consagrado, ou então tento ter numa sessão diferentes géneros, com filmes de animação, ficção e documentários. Mas por vezes é complicado fazer essa gestão.
As curtas exibidas são todas portuguesas? Há troca de curtas entre os Shortcutz europeus e é sempre obrigatória a presença do realizador para a mostra?
As Curtas em competição são portuguesas ou de realizadores que estejam cá a viver. Sim, há uma troca de Curtas. Recentemente tivemos uma Curta convidada de Berlim.
Há sempre também uma grande partilha de contactos entre as equipas dos Shortcutz das diferentes cidades. Muitos dos realizadores que passam por aqui vão às outras cidades apresentar os filmes.
O ideal é ter cá o realizador para falar do filme, ou alguém da equipa. Acho que essa é uma das mais-valias do Shortcutz, esse diálogo entre o público e o realizador ou a equipa técnica.
A existência do Shortcutz evidencia um mercado de produção de Curtas. Como analisarias a qualidade desse mercado?
Muito bom. Cada vez mais vejo maior qualidade na produção de curtas-metragens. A crescente facilidade na produção de Curtas e a vontade de fazer Cinema é o reflexo dessa qualidade.
E até existem Curtas que viraram longas. Uma das Curtas que passaram pelo Shortcutz Porto, e foi a vencedora do primeiro mês Shortcutz Lisboa, foi a “Assim, Assim…” do realizador Sérgio Graciano, e vai agora estrear nas salas de Cinema, porque realizaram uma longa-metragem.
É muito estimulante ver uma Curta virar longa, principalmente uma que tenha passado pelo circuito do Shortcutz.
Existe alguma Curta que tenhas querido passar e ainda não tenhas conseguido? Porquê?
Gostava de passar “Caça” do Manoel de Oliveira, e uma das curtas do João Salaviza na mesma sessão. Ainda não deu mas vamos tentar.
Que grande momento destacarias no decurso do Shortcutz do Porto?
Foi muito bom e generoso ver a sala com mais de 150 pessoas no dia de exibição do documentário “Mercado do Bom Sucesso”, um filme de intervenção que acompanhou os dias antes do encerramento do emblemático mercado do Bom Sucesso aqui na cidade do Porto.
O filme, realizado pelo Norberto Fernandes, foi feito de propósito para passar no Shortcutz, na esperança que alguma coisa pudesse ser feita em relação ao encerramento do mercado.
Foi emocionante. Na plateia estavam os vendedores do mercado que viram o filme, já o mercado tinha fechado. Discutiu-se, as pessoas opinaram e falaram sobre o que se passa na nossa cidade, na desertificação, no planeamento urbanístico e em como todos nós deixamos a cidade ao abandono. Acho que foi um dos momentos mais marcantes do Shortcutz Porto. No entanto, sinto que todas as sessões são especiais e únicas devido aos diferentes realizadores e ao público.
Mais do que tudo, o Shortcutz Porto é um espaço de partilha e de generosidade, por parte de toda a equipa do Shortcutz e das entidades que colaboram e acreditam no projecto.
Fotografia de José Pedro Lopes
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