Soapbox
Não há insónias grátis.
A nossa pop electrónica cantada em inglês tem tido como maiores representantes bandas como The Gift, Plaza, Gomo, Loto ou Post Hit. Se os primeiros estão mais do que nunca apostados em conquistar mercados lá fora, os restantes têm elementos que fazem um intervalo em projectos na língua de Camões ou simplesmente não dão sinais de vida. Surgidos em 2009 das cinzas dos Storytellers, os Soapbox são a recente novidade com o lançamento do EP “Don’t Come Too Soon”. Formados por Gonçalo Abrantes (voz e letrista, 26 anos), João Figueiredo (bateria, 25), João Gonçalves (baixo, 22), Pedro Gomes (sintetizadores, 33) e Simão Martins (guitarra, 22 anos), os lisboetas estão a promover o registo e já se encontram a gravar o álbum previsto para o final do ano. À RDB, o vocalista conhecido por G. fala do arranque e do conceito do grupo, da pouca importância de terem vencido dois concursos nacionais e assume ter sentido problemas em adormecer quando começou a escrever as primeiras canções. “Tinha muito peso para tirar de cima”, diz. No universo dos Soapbox não há insónias grátis.
“As letras falam de amizades falsas, relações entre pessoas do mesmo sexo e referências a alturas menos boas em que a procura do amor não passa de relações de uma noite”
Alguns membros da banda fizeram parte dos Storytellers. O que é que os levou a deixar este projecto e apostar nos Soapbox? Não era viável continuar com ambos?
Sim, quatro de nós fazíamos parte dos Storytellers. Mas era um projecto basicamente acústico, com um ambiente intimista e um conceito peculiar de contar as estórias que levaram à escrita das canções, antes de tocá-las ao vivo. Mas num ensaio para este projecto, talvez derivado de algum descontentamento com o que se estava a fazer, tentou-se algo diferente, mais virado para a electrónica. Em pouco mais de meia hora surgiu a música «Scissor Friends», que nos levou a seguir este novo estilo e esta nova fórmula de composição, pela qual nos apaixonamos imediatamente. Com a mudança radical de sonoridade, decidimos mudar o nome do projecto para Soapbox. Poder-se-á dizer que a única coisa que se manteve foi a intimidade e frontalidade das letras, que, com o novo nome, continuaria a fazer sentido. Não nos ocorreu continuar com o projecto anterior, também por não estarmos totalmente satisfeitos com o resultado de Storytellers.
O nome do grupo é oriundo do termo “Soapboxing” em que um indivíduo, em cima duma caixa, transmite as suas verdades pessoais e/ou sobre a sociedade. No vosso caso, numa entrevista dada à SIC Radical, afirmam que as letras “são pessoais e nem sempre agradáveis”. Porquê?
Sendo eu o autor das letras posso dizer que preciso de escrever para, através da música, falar de coisas que não me são confortáveis comunicar sem ser a cantar. Dessa forma, em vez de estar a falar com as pessoas e impingir esses assuntos, arranjei uma maneira de o partilhar apenas com quem realmente quer ouvir e tiver interesse em saber o que tenho para dizer. E todo esse peso que tiro dos ombros em cada canção, acaba por não ser sobre as coisas mais agradáveis. No EP há amizades falsas, relações entre pessoas do mesmo sexo e referências a alturas menos boas em que a procura do amor não passa de relações de uma noite. Só o single «(Daylight) Don’t Come Too Soon» é que se desvia um pouco, sendo a letra apenas uma brincadeira sobre alguém que só quer descansar dos excessos da vida social e da noite, ironicamente e propositadamente escrita com a nossa sonoridade mais dançável.
Nos quatro temas apresentados a palavra sleep é bastante citada (a última frase do disco é mesmo “I can’t sleep”). Em que sentido a palavra insónia marca o EP?
É verdade. Em três dos temas aparece a palavra sleep. Isto porque durante a altura em que se começaram a escrever as canções, tinha muito peso para tirar de cima. Peso esse que se reflectia nas primeiras horas a tentar adormecer. No primeiro tema do EP, «Scissor Friends», a palavra é usada com esse sentido de tormento, mas no final como vingança a quem me deu insónias! (Exemplo: “And like a new white blanket I left you all too cold to sleep”). No terceiro tema [o single] é a brincadeira e a ironia que mencionei na resposta anterior. Na última canção do EP, «Milk (Social Animals)», a frase “I can’t sleep” aparece como resultado da busca desenfreada e descontrolada de ter alguém, que inconscientemente nos deixa num estado ainda pior do que no início. Mas está tudo bem comigo, nunca fiz psicoterapia.
No campo sonoro não há como fugir à pop electrónica made in 80. Quando se reuniram com Jorge Moura (engenheiro de som) foi este o ponto de partida para o trabalho em estúdio?
Temos plena noção de que o nosso som passa muito por aí, mas curiosamente foi muito espontâneo. Esse som já existia na pré-produção do EP, muito antes de conhecermos o Jorge Moura [que se ofereceu para produzir o disco]. Mais curioso ainda é não ser uma referência para nenhum de nós. Experimentamos e gostamos do que estava a surgir. Acaba por ser uma roupagem mais modernizada e espontânea da pop electrónica dos anos 80.
O press-release refere que o álbum está “parcialmente gravado”. Já há data para o lançamento? Estão incluídos temas diferentes do que se ouve neste primeiro registo?
Sim, temos um álbum cujas gravações serão terminadas, se tudo correr dentro dos nossos planos, no final deste Verão. A sua edição não está ainda definida, mas esperamos tê-lo disponível no final deste ano. Musicalmente, para além da linha que mostramos no nosso EP, vamos apostar em alguns temas com ambientes mais calmos e espaciais, lado que estamos já a apresentar nos nossos concertos ao vivo. Apesar disso, teremos um single dentro da linha dançável de «(Daylight) Don’t Come Too Soon».
Além da exposição junto do público, quais os benefícios que obtiveram por terem vencido há dois anos o “Super Bock Super Rock Preload” e o prémio de “Melhor Banda Alternativa no Rock Rendez Worten”?
Na verdade, nenhuns. Apenas currículo, se assim o quisermos chamar. Infelizmente, é algo que não nos surpreende. Parece que há um grande medo em apostar em novos projectos que sejam um pouco diferentes, mesmo quando as bandas estão dispostas a fazer um esforço e a investir no seu futuro. Penso que se a nossa música fosse cantada em português e um pouco mais easy listening, já teríamos sido contactados.
Para as despesas com a produção do videoclip «(Daylight) Don’t Come Too Soon», (nomeadamente o aluguer do quiosque onde é rodado) e com a promessa de que ofereceriam o CD aos mesmos, conseguiram angariar fundos através de um pedido junto dos fãs no facebook. Há mais campanhas a caminho?
Estando agora no processo de gravações para o nosso primeiro álbum, ainda não pensámos em nenhuma campanha do género. As únicas coisas que podemos adiantar são um remix do primeiro single «(Daylight) Don’t Come Too Soon», que vamos por agora enviar a quem fez doações para o videoclip e mais tarde disponibilizá-lo na internet, mais a organização de um concerto com melhores meios dos que temos tido até agora para apresentar o álbum assim que ele estiver gravado. Entretanto, queremos tirar o maior partido das redes sociais mantendo uma relação o mais próxima possível com a nossa base de fãs, que apesar de ainda ser pequena, vai crescendo aos poucos. Pensamos também em partilhar pequenos vídeos, gravações de ensaios e outras ideias que irão de certeza surgir durante o planeamento de divulgação do nosso álbum.
Os Sopabox têm showcases dias 29 e 30 deste mês, nas Fnac de Alfragide e Cascais respectivamente, e concerto em Manteigas a 12 de Agosto.
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