The Legendary Tigerman @ Lux
Paulo Furtado e companhia em apresentação de "Femina".
A pequena sala da discoteca Lux esteve ontem, dia trinta de setembro, repleta de curiosos em ouvir ao vivo as canções que integram o novo “Femina” de The Legendary Tigerman.
O viçoso acompanhamento dos duetos, a blues guitar do alter–ego de Paulo Furtado e a envolvência emocional que o disco nos oferece, clarificaram-se de modo transversal em todas as prestações femininas convidadas para o dia de apresentação.
«Life ain´t Enough for You» e «These Boots Are Made for Walkin’», que contam em disco com a colaboração da actriz /cantora e realizadora italiana Asia Argento e Maria de Medeiros, respectivamente, não assumiram a influência dimensional que escutamos em disco, apesar da ausência de ambas no espectáculo não ter comprometido a cor a que os espectáculos, maioritariamente, solitários do “homem tigre” nos têm habituado. Tigerman atira: ”A Maria de Medeiros fez um trabalho bem melhor que o meu”.
Cibelle, a brasileira que se aventurou nesta colaboração com Tigerman e foi a última a gravar para “Femina”, é a primeira a subir ao palco do Lux numa fabulosa prestação de «I just Wanna Know/Wat We´re Gonna Do» exemplarmente sintonizada no som da guitarra.
A magnífica interpretação e entrega de Cibelle, recebida pelos presentes com agrado em palmas consistentes, não tornaria tão especial ao vivo «Lonesome Town» – a música celebrizada por Ricky Nelson na década de 50 e já ouvida, ao longo da história, na voz de vários músicos/artistas – na voz, quase segregada, de Rita Red Shoes. Não luziu tanto como a anterior, mas Rita voltou mais tarde, com «Hey Sister Ray» para um diálogo espantoso, deixando de lado a áurea de menina “contida” e revelando-se tão profunda como capaz de gerar alguma tensão na sala do Lux.
Mas, antes de Rita Red Shoes, LTM ainda viajou por «Route 66» (original de Bobby Troup) e na vibração acariciada na atmosfera já instalada na sala.
A voz que se seguiu vem da Austrália, e é conhecida como integrante do projecto Nouvelle Vague. Phoebe Killder concentra toda a interpretação de «&Then Came The Pain» – música que fala, como diz Paulo Furtado em vídeo, “de nos apaixonarmos depressa demais”- em diálogo carregado de tenacidade, num excelente desempenho de ambas as partes.
Também Cláudia Efe brilhou. A seguir à prestação a solo de Tigerman com «These boots Are Made for Walking», a vocalista de Micro Audio Waves, enche a sala de provocatória sensualidade em «Honey You´re Too Much», mas foi com «Light Me Up Twice», que ocupa a faixa número nove de “Femina”, que Cláudia comprovou a excelente performer e artista que lhe reconhecemos de MAW. A faixa é tão ou melhor ao vivo que em disco.
The Legenday Tigerman voltou a estar de novo sozinho num palco, com um público declaradamente já rendido ao bluesman português e à noite que se estava a viver.
Ouvimos os primeiros acordes de uma espécie de regresso ao passado de Paulo Furtado enquanto Tigerman, «Naked Blues» e «Walkin Downtown» vieram seguidas e fizeram dançar parte dos fãs.
Eis que o momento da noite chegara. Com um “I´m ready”, a frontwoman de BellRays, Lisa Kekaula, e dona de uma poderosa voz, arrebatou a noite do Lux.
Lisa Kekaula foi estrela e deixou o público a queimar pólvora durante muito tempo. Se em disco, ao ouvirmos «The Saddest Thing To Say» ficamos com aquela sensação de arrepio instantâneo, ao vivo é quase como se estivéssemos perante uma dádiva caída dos céus, um dom natural que reconhecemos em algumas, mas poucas, vozes em que a soul quente e garra contagiam sem esforço prévio. Kekaula viajou de longe para ali estar e ainda bem que conseguiu chegar “a três horas (dizia Paulo Furtado) de começar o concerto”.
Tigerman prosseguiu sem quebrar o ritmo. «Bad Luck Rhythm´n blues», «Machine» e «Big Black Boat» intensificaram a ambiência. Rock´n´roll explorado ao máximo nos recantos dos blues electrificados e que nos guiam por viagens lá atrás em que se continuou a aceder entre dança, aplausos e exaltações entusiastas.
O encore é feito com Cibelle numa versão de «True Love Will Find You in The End», de Daniel Johnston. A cumplicidade com LTM é notável e a prestação é recebida, de novo, com entusiasmo.
Neste que foi, para Paulo Furtado, com a sua habitual ironia, “um dos dias mais felizes da minha vida, porque o mais feliz foi o dia em que nasci”, todos estiveram de parabéns, mas especialmente a demonstração de que a vontade e persistência no sonho podem torná-lo realizável. Tigerman ambicionou trabalhando e, neste primeiro passo de um projecto (como referiu em entrevista) que ainda não terá tido o seu fim, conseguiu torná-lo em capaz realidade.
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ESTE SENHOR AINDA VAI DAR MUITO QUE FALAR,COM A SUA ERREVERÊNCIA E ENTREGA ENCENDEIA QUALQUER PALCO.FORÇA PAULINHO MOSTRA AO MUNDO DO QUE ÈS CAPAZ E, QUE EM PORTUGAL TAMBEM SE FAZ MUSICA DE GRANDE QUALIDADE.