Tiago Bettencourt | Entrevista
"Eu gosto quando a música me abre uma porta de que eu não estou à espera; é isso que eu tento fazer; é isso que eu faço com a minha música". Conversa em Braga após concerto no Theatro Circo.
Noite a cheirar a Verão. Em Braga respira-se o S. João, Santo bracarense que nos abraça neste mês de Junho.
Tiago Bettencourt esteve presente, com a sua banda, no Theatro Circo, na capital minhota, para revisitar clássicos e respirar fundo neste novo albúm feito de memórias.
“Acústico”, vem perpetuar algumas músicas do canto; muitas ficaram no ouvido e outras pertencem a um conjunto de pérolas muito apreciadas pelos fãs do cantor e dos Toranja.
A noite encheu-se de boa disposição; sendo que o público, segundo o cantor, “esteve feliz desde o princípio do concerto e nem foi preciso conquistá-lo”.
Tiago Bettencourt volta aos palcos este ano, cheio de energia e várias sonoridades. Brindou o Theatro Circo de Braga com clássicos como “Cenário”, dos Toranja, à tão sonante “Carta” e não resistiu a uma série de (discos) pedidos. Com toda a simpatia e bom humor, dedicou várias músicas a “meninas” do público, incluindo nesse rol “O Jardim”, “Eu Esperei” e a tão famosa sonoridade de António Variações “A Canção do Engate”.
O público ficou rendido a todo o despreendimento do cantor; pediu sempre mais e acompanhou a banda em uma série de hits – em um destes momentos Bettencourt confessou: ”os melhores até agora”.
Apetecia-lhe abraçar este público e, por isso, foi curto o tempo de espera para encore. Aí, brindou-nos com algumas músicas mais intimistas. Mas, depois de tanto tempo de concerto e de uma ampla salva de palmas deste público caloroso, a Rua de Baixo teve ainda tempo para conversar com Tiago Bettencourt.
Quais são os projectos em que agora estás envolvido?
Eu comecei a perceber que as pessoas estavam um pouco confusas com os nomes “Toranja”, “Tiago Bettencourt”, “Tiago na Toca” e “Tiago Bettencourt & Manta”. Então, agora decidimos chamar apenas “Tiago Bettencourt”, mas continuo com a mesma banda.
O que te leva a revisitar estes clássicos e criar este novo albúm de seu nome “Acústico”?
Aproveitámos, no fundo, os dez anos de eu ter começado a gravar discos para fazer um resumo que ficou só “Tiago Bettencourt”. Achámos que também era preciso fazer um resumo das músicas, no fundo, para localizar/orientar as pessoas. É quase como um compasso de espera, porque a certa altura senti que os meus discos não são imediatos e precisam de um bocado de tempo para serem entendidos. Comecei a perceber que só passado um ano e tal de eu lançar o disco e de dar concertos é que as pessoas começavam a cantar as músicas e a bater palmas, em músicas que já tinham sido singles há um ano. Por isso, no fundo, é um compasso de espera, que custa um bocado, mas que, ao mesmo tempo, foi uma coisa engraçada de fazer, porque foi um concerto num estúdio “Namouche” em Lisboa e convidámos à volta de 80 pessoas; fizemos um concurso no facebook, com orquestra e com sopros, e acabou por se fazer um disco muito bonito. Foi uma boa experiência revisitar as canções e arranjá-las.
Como te vês agora na tua carreira?
Há um apelo para eu criar um CD de originais, por parte de algumas pessoas, mas a verdade é que eu acho que estou numa posição em que tenho de trabalhar para um público um bocado mais abrangente e, por isso, tenho de fazer este tipo de coisas. O alinhamento deste albúm não é propriamente o alinhamento das músicas de que nós gostamos: normalmente gostamos mais dos lados B’s, mais negras, que ninguém conhece. Claro que não podia fazer um “best of” dessas músicas. Este alinhamento é muito objectivo das músicas que as pessoas gostaram mais ao longo destes anos. E eu estou a fazer isso, um compasso de espera para esse público, que não conhece todos os meus projectos, para os conhecerem e, e se calhar, irem comprar CD’s anteriores. Para isso temos que dar tempo para as músicas amadurecerem.
Como lidas com a crítica?
Já desisti de ler críticas, principalmente aos discos, porque as pessoas não percebem. Normalmente, quem critica os discos é um nicho de pessoas de um mundo intelectual que não acrescenta nada. Normalmente, os discos a que eles dão 5 estrelas desaparecem no segundo a seguir e os discos de 2 estrelas ficam eternos.
Eu nasci nos 90 e nessa altura não havia este medo de emoção: foi o grunge, com os “Pearl Jam”, os “Nirvana”, os “Smashing Pumpkins” e vinha tudo cá de dentro, das entranhas. Para mim, a música é isso; e eu não percebo muito bem esta fase insensível, em que as músicas não ficam para a vida. Eu gosto quando a música me abre uma porta de que eu não estou à espera; é isso que eu tento fazer; é isso que eu faço com a minha música. Aquilo que eu faço tem a ver com a maneira como eu cresci a ouvir música e, da mesma forma como ainda hoje ouço música, é da mesma forma que a faço.
O que achaste deste público bracarense?
Muito simpático! Estavam muito felizes desde o princípio; foi muito engraçado, gostei muito. E a sala… muito bonita.
Projectos para o futuro: quais as próximas datas a marcar no calendário para ver Tiago Bettencourt?
Gravar um albúm de originais e dar mais concertos. Vou tocar com o Seu Jorge, no dia 12 de Outubro, no Multiusos de Guimarães, e, no dia 13 de Outubro, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, e vou também ao Festival Sudoeste.
Braga abraçou Tiago Bettencourt, de volta. Foi vivida uma noite intíma, que tornou a grande Sala do Theatro Circo muito pequenina para um concerto em grande.
Agradecimentos: Theatro Circo de Braga
Fotografia de Rita Sousa Vieira captadas no concerto do Coliseu dos Recreios a 15 de Março de 2013.
Também poderás gostar
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
There are no comments
Add yours