Vashti Bunyan @ Teatro Maria Matos (30-10-2015)
A sussurrar é que a gente se entende
Há poucas discografias mais ímpares que aquela que Vashti Bunyan assina. Depois de um primeiro disco lançado em 1970, a cantora folk inglesa apenas voltou a editar música passados 35 anos, através do amoroso “Lookaftering”, de 2005.
Talvez por esta irregularidade, e também pela idade já avançada desta lenda da folk britânica, as esperanças de assistir a um concerto seu eram escassas.
O item mais recente na bagagem de Vashti Bunyan era o disco do ano transacto, “Heartleap”, mas o alinhamento apresentado no Teatro Maria Matos foi balanceado entre os diferentes álbuns, não deixando sequer de fora a colectânea “Some Things Just Stick In Your Mind”.
Vashti Bunyan subiu ao palco ladeada do virtuoso, mas discreto, Gareth Dickson, e foi apresentando todas a canções, quase sempre com uma curta descrição das histórias que se movem nas entrelinhas das mesmas.
Não deixa de ser curioso descobrir que canções às quais prestamos o devido culto, seja pela forma recôndita com que a autora vive a sua carreira, seja pela raridade das suas edições, versem acerca de temas tão simples como o facto de Vashti não ter tempo para os seus hobbies durante a infância dos seus filhos.
Curioso foi igualmente perceber que a cantora septuagenária fala da mesma forma com que nos encanta durante os seus temas, sussurrando. Como quem protege a voz, ao mesmo tempo que empresta ainda mais conforto a quem se aquece à volta da lareira onde imaginamos que ela compõe a sua música.
Musicalmente o concerto tocou todos os pontos que tradicionalmente constituem a folk britânica: a sua frescura rural, os seus acordes que parecendo simples não são ortodoxos, o lado sombrio que marca uma terra com luminosidade limitada.
Apesar do intervalo temporal tremendo entre as diferentes gravações, a sonoridade de Vashti Bunyan é sempre facilmente reconhecível, mantendo igualmente uma bitola de qualidade transversal à sua discografia. Algo que não deixa de ser notório.
Para fortuna da plateia que praticamente enchia a confortável sala, houve ainda tempo, a meio do concerto, para Gareth Dickson mostrar a técnica e experimentalismo do seu trabalho em nome próprio, sob forma de «Two Trains», facto que enriqueceu ainda mais o serão da passada Sexta-Feira. Serão esse que terminou com ambos os intérpretes em amena cavaqueira com membros do deliciado público, no bar e no hall do Teatro. Sussurrando elogios.
Alinhamento
> «Here Before»
> «Diamond Day»
> «Lately»
> «Across The Water»
> «Wishwanderer»
> «Against The Sky»
> «Train Song»
> «Two Trains»
> «Gunpowder»
> «Here»
> «I’d Like To Walk Around In Your Mind»
> «Heartleap»
> «Wayward»
Fotografia de José Frade
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