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X-Wife

Contagiante e Afectivo.

Perto de completar dez anos de existência, os X-Wife lançam “Infectious Affectional”, um disco contagiante e afectivo, segundo João Vieira, voz e guitarra da banda. Após uma primeira apresentação em Lisboa e no Porto, preparam-se agora para revelar o disco ao vivo no resto do país e além-fronteiras.

Conheçam as ideias por detrás da banda que já foi elogiada por James Murphy.

“Infectious Affectional”. Qual a razão por detrás da escolha deste nome para o vosso novo registo?

Há várias razões. A questão fonética é evidente: X-Wife Infectious Affectional. Gosto da sonoridade. Dou muito valor à sonoridade das palavras. Em termos do que isto significa, infectious quer dizer contagiante, e affectional, afectivo. A música pretende contagiar e é contagiante, a forma como escrevemos canções é especial, pois existe uma química forte e sabemos para que lado queremos levar as coisas. Há um lado afectivo, pois as músicas falam de experiências nossas, pessoais e de certa forma naquilo em que concordamos, a forma como vemos o que nos rodeia. Também existe um lado afectivo devido ao facto de estarmos há quase dez anos a trabalhar juntos e não sentimos nenhuma quebra de entusiasmo a tocar ou a criar. Antes pelo contrário, tem vindo a crescer…

Este é o vosso quarto disco de originais. Que diferenças existem relativamente aos vossos anteriores trabalhos?

Para já, maturidade. A forma de fazer música mantém-se, mas a forma como abordamos o lugar de cada instrumento na música mudou. Perdemos mais tempo em pré-produção antes de irmos para o estúdio final. Estudamos melhor as melodias, as estruturas e, sobretudo, damos mais espaço. As músicas são mais pensadas, os instrumentos só entram quando necessários, quando fazem sentido entrarem. As vozes foram trabalhadas em casa antes de entrarem em estúdio, quisemos pensar melhor as melodias, os registos, variar e tentar tirar o melhor partido do instrumento, perceber o que funciona e o que funciona menos bem. É um processo moroso, mas penso que o resultado final superou o que estávamos à espera.

Quanto tempo durou a concepção deste álbum?

Cerca de dois anos e meio, o processo de criação não é seguido. As canções vão-se escrevendo em ensaios e entre concertos. O processo de estúdio, pré-produção e misturas demorou cerca de um ano.

Entretanto, já roda o vídeo de «Keep On Dancing», o primeiro single saído do disco. É quase inevitável recordarmo-nos de bandas como The Clash quando ouvimos a linha do vosso baixo… Está aí alguma da vossa inspiração?

Claro que sim, a nossa inspiração vem de bandas como Ian Dury, Material, Liquid Liquid e os The Clash, especialmente em temas como «Magnificent Seven», «Know your Rights», e «Radio Clash». O lado mais dub-disco e menos punk deles…

Qual a história/mensagem do vídeo de «Keep On Dancing». Nota-se alguma frustração entre os miúdos que nele participam…

Sim, a ideia é uma representação de miúdos dos subúrbios, numa cidade ou vila em que não se passa nada e eles próprios arranjam como se entreter numa casa abandonada algures… A letra fala dos subúrbios, é algo pelo qual sinto alguma fascinação, não uma fascinação mórbida, mas sim como uma outra realidade que não fez parte da minha infância, mas algo que consigo entender: uma frustração e um certo desalento, há outros elementos com os quais muitos miúdos se podem identificar: o facto de sentires que estás meio isolado, que não te identificas com o que é considerado mainstream, quando procuras uma saída. A letra de “Eno”, de 2003, também fala um pouco disto…

O cinema tem alguma influência ou é de alguma forma uma inspiração no processo criativo dos vossos trabalhos?

Na parte da escrita sim, na parte musical menos… A parte visual, neste caso concreto nos vídeos, o vídeo do «Keep on Dancing» é inspirado no “Christiane F”, mas penso que no geral somos muito mais influenciados pela cultura da música em si.

Já começaram a apresentar o álbum… que reacção que tiveram do público?

Para já muito boa. São músicas que funcionam muitíssimo bem ao vivo.

O vosso Verão vai ser passado em palco, a apresentar “Infectious Affectional”?

Espero que sim! Neste momento estão a ser fechadas as várias reservas que temos, mas não podemos anunciar já… Temos vários concertos confirmados. Podem visitar o nosso site para observarem mais datas.

… e o estrangeiro também irá ter a oportunidade de ouvir o novo som dos X-Wife?

Sim, dia 11 de Junho voltamos a Barcelona.

Estão quase a completar dez anos desde a vossa formação. Sentem-se uma banda consolidada no panorama musical português?

Sim, mas acho que podemos crescer mais. Vamos avançando devagar. Acho que nunca demos um passo em falso, continuamos a crescer pois acreditamos no nosso trabalho e continuamos a escrever boa música e a surpreender. A reinvenção faz parte do nosso processo de trabalho de disco a disco, e acho que é fundamental para a sanidade e interesse na banda.

Qual a vossa opinião sobre o que tem sido feito na música portuguesa nos últimos anos?

Acho que tem surgido muita iniciativa, o que é sempre bom. Seja a nível de criação de novas editoras independentes com linhas bem definidas, novos projectos de música electrónica e, ultimamente, um ressurgimento da música cantada em português, algo que respeito mas não pratico… Acho que é um balanço positivo, pois continua-se a fazer muita música.

Quais foram os últimos discos que tiveram de ouvir repetidas vezes, até à exaustão?

Ainda se faz isso? Quem é que tem tempo?  Os últimos discos que me fizeram sentir alguma coisa foi o último dos Ariel Pink, que tem uma música de entrada que me levou de volta à minha infância, onde ouvia cassetes já muito queimadas no meu double-decker. Deu-me um enorme prazer ouvir esse disco enquanto viajava de carro. O disco do Gil Scott Heron, “I’m New Here”, é uma obra-prima de alguém que sabe muito e já viveu muito. “Peter Gordon and The Love of Life Orchestra” (reeditado pela DFA) é algo que tenho vindo a ouvir muito e que se enquadra muito na onda daquilo que ando a ouvir agora. E neste momento, enquanto respondo a esta entrevista, estou a ouvir o álbum “Space is Only Noise” do Nicolas Jaar e estou a gostar…



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