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“A Biblioteca dos Livros Proibidos” de Tom Pugh

O desafiar das estruturas em prol da iluminação da mente

Até onde chegaria para desvendar um dos maiores segredos da História?
Está na natureza curiosa do ser humano, o buscar, incessantemente, mais e mais conhecimento. Para muitos, isso representa a derradeira ameaça às estruturas estabelecidas e põe em risco, séculos de mentiras e controlo.

Há uma lenda que conta que os primeiros homens saíram do Paraíso por sua livre e espontânea vontade, porque queriam perseguir o conhecimento que lhe permitiria regressar um dia como semelhante a Deus.

O livro de Tom Pugh, retrata bem essa ameaça n’A Biblioteca dos Livros Proibidos (Alma dos Livros, 2018), um dos mais importantes segredos da História, conduz os protagonistas deste livro, a situações de vida ou morte, num complexo jogo do gato e do rato; uma autêntica corrida contra o tempo, repleta de perigos, perseguições, numa realidade sombria, onde o destino da humanidade depende de quem descobrir a sua localização secreta.

(…) As palavras de Epicuro preenchiam-lhe a cabeça como uma oração – eram a derradeira heresia. Acreditar em nada a não ser no que se podia provar através da observação e dedução lógica. O prazer e a dor eram a medida do que era bom e mau, a alma morre com o corpo.

Pugh, oferece uma narrativa repleta de floreados, complexa, rica em descrições, e várias referências a personagens históricos, tais como, Ivan o Terrível, Cosimo Medici, Nostradamus, Epicuro, Lucrécio e São Bento de Núrsia, entre outros tantos, o que cativa e seduz o leitor, de forma a mantê-lo cativo, página a página, num dos períodos mais negros da História.

O retorno da Inquisição, e o surgimento do movimento Contrarreforma, leva a que os humanistas sejam perseguidos, presos, torturados e assassinados pelos seus ideais revolucionários. Dá-se, então, uma luta entre as duas fações relevantes, a Igreja, a encargo do Mestre do Palácio Sagrado e censor do Papa, Gregorio Spina e os Otiosi, uma rede criada por Giacomo Vescosi, que tinha como objetivo adquirir e imprimir textos proibidos pelos censores.

Quando a cidade se converteu à nova confissão de Lutero, o pai de Schoff manteve-se fiel à sua fé. Era um católico secreto, que educara o filho para sorrir aos luteranos, mas desprezando-os com todo o coração. Schoff descobriu que não havia causa maior do que a destruição das novas heresias e o derradeiro triunfo da única Igreja verdadeira.

Mathern Schoff, um advogado, acérrimo defensor dos ideais da Igreja, vê-se recrutado, por Gregorio Spina, para servir de agente duplo, infiltrado no grupo dos Otiosi.
Revoltado com os acontecimentos que conduziram à morte do seu pai, aceita a missão que lhe foi outorgada.
Para conclui-la, deve obter a confiança do grupo, fingir partilhar os seus ideais e obter a localização secreta de uma biblioteca, que alberga um sem número de manuscritos polémicos que, em mãos erradas, ou assim o crê ele, semear as sementes da discórdia e revolta, e desencadear o fim dos dias.
Agindo como intermediário dos Otiosi, mas na realidade a mando de Spina, aguarda a chegada de Longstaff e Durant, de forma a interceptar artigos necessários para a causa.

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Sir William era um viajante aficionado e entrara em contacto com o credo de Lutero numa viagem ao continente. Longstaff ainda se lembrava dos homens que tinham chegado a Martlesham para construírem uma prensa. (…) Pouco tempo depois, começaram a aparecer panfletos nas ruas de Ipswich, Bury St. Edmunds, Cambridge e, finalmente, em Londres, altura em que chamaram a atenção do rei. Henrique VIII condenou Sir William ao cadafalso, confiscou a sua propriedade e baniu o filho do país.

Matthew Longstaff, é um antigo soldado, convertido em ladrão e assassino, que se vê subjugado, durante um ano, sob o controlo de Sir Nicholas Bacon.
Banido da sua pátria, aceitou as condições de Sir Nicholas, de se tornar um caçador de livros proibidos, de forma a obter um perdão e voltar a Inglaterra.
Um homem de aspeto áspero e rude, porém não desprovido de emoções, encontra em Gaston Durant, um companheiro de viagem, e participante ativo na missão que têm entre mãos.

O passo de Durant fraquejou. Sem querer, uma imagem da mulher inundou-lhe o pensamento. O corpo coberto das chagas provocadas pela peste. A luz a apagar-se nos olhos desesperados, os membros frios como gelo e banhados em suor. Lembrava-se de ter aproximado um copo de vinho dos lábios dela e de ficar a ver um fio a traçar um caminho sangrento ao longo das faces encovadas. Era esta a justiça de Deus, para qualquer artista que tivesse coragem para olhar.

Durant tinha sido abençoado pela vida, uma família linda e feliz, riqueza que lhe permitia desfrutar da vida sem ser necessário trabalhar; mas eis que o seu mundo sofre a maior reviravolta de todas, a peste leva-lhe a mulher, a filha desaparece; o, agora, doutor Durant, que, no entretanto, decidira seguir essa profissão, torna-se em mais um peão neste, arriscado, jogo, e aceita a missão de recolher determinados artigos para os Otiosi.
Eis que descobre um palimpsesto, cuja mensagem codificada necessita de um código secreto para decifrar. A descoberta deste palimsesto irá atiçar a frustação, ansiedade e crueldade de Spina, que deseja obter a localização da biblioteca antes que os humanistas o façam.

Vescosi devia ter recusado, mas (…) Aurélie tornou-se na filha que nunca tivera (…).
Agora olhava para ela com carinho, via a sua paixão escrita em cada linha do corpo de Aurélie e recordava-se da própria indignação juvenil quando soubera da criação do Indices Librorum Prohibitorum. Acalentara a esperança de poder adiar aquele momento, para sempre, se fosse possível, mas ela era uma mulher adulta e bem mais capacitada do que muitos homens que conhecia. Olhou de relance para o panfleto que escrevia e que denunciava o novo edital de Gregorio Spina.

Aurélie, a protégée de Vescosi, é uma mulher atraente, e acima de tudo, persistente e inteligente.
Giacomo sempre a quisera manter à margem das suas missões, porém Aurélie descobriu o seu ardil. Encurralado entre escolher protegê-la dos perigos que o rodeavam, ou permitir-lhe fazer parte dos Otiosi, decide confirmar as suspeitas de Aurélie e revelar-lhe, o verdadeiro e primordial objetivo do grupo. Descobrir a intitulada Biblioteca do Diabo, e descobrir que livros proibidos tem escondidos no seu interior.
Os dois ver-se-ão em risco, e será necessária a união de Longstaff, Durant e Aurélie para continuar a missão. Deles dependerá o futuro da biblioteca e do seu conteúdo. Serão capazes de evitar que Spina a encontre e destrua?

A fúria expandia-se no peito de Spina. O maior prémio da Cristandade jazia enterrado algures no sul, mas a consciência forçava-o a adiar a viagem para se erguer contra essa atitude profana do papa.

Com um final de tom agri-doce, digno das 360 páginas, que prendem o leitor do início ao fim, Biblioteca dos Livros Proibidos, de Tom Pugh, é um romance histórico imperdível, que deslumbrará aqueles que se atreverem a lê-lo.

Onde estavam as descrições do misterioso bibliotecário que ansiava pelas obras de Epicuro para – a Biblioteca do Diabo? (…) no texto da carta que enviara a Memmius, Lucrécio deixara escondida a localização da dita biblioteca secreta. (…) Poderia uma biblioteca daquela natureza continuar a existir?



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