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A Silent Film

Num retrato em close-up – Entrevista à banda britânica

Foi num início de tarde morno e chuvoso do início de Junho, com o Tejo no horizonte, que nos instalámos num bar do Centro Cultural de Belém para conhecer em primeira pessoa os britânicos A Silent Film. Uma conversa amena e descontraída com Lewis Jones (guitarrista), Ali Hussain (baixista) e Spencer Walker (baterista), aos quais se juntou pouco depois o frontman Robert Stevenson (vocalista e teclista), para recordar os seus primórdios, influências e partilhar os projectos a concretizar dentro e fora de Portugal, por onde passam no próximo dia 11 de Julho, no palco Super Bock do festival Optimus Alive.

É um prazer conhecer-vos. Em primeiro lugar, e como introdução ao vosso universo, a pergunta que se impõe: porquê este nome para a banda e porquê esta ligação ao mundo cinematográfico?

Spencer Walker (SW) – O nome veio duma canção que foi composta logo nos nossos primeiros tempos de banda e era inspirada na banda sonora de “The Kid”, de Charlie Chaplin, um pequeno tema para piano ao que o Robert chamou “A silent film”. Na altura andávamos à procura de nomes e aquela canção parecia sintetizar bem a orientação que estávamos a seguir, portanto pareceu-nos uma boa ideia. Por outro lado gostámos do nome porque traz consigo uma ideia de auto-suficiência da música.

Como se a música contasse a história toda?

SW – Exacto. Tudo se encaixa harmoniosamente. O que não deixa de ser estranho, mas nós até gostamos disso.

Ainda sobre o tema do cinema, tiveram uma pequena experiência numa película recente, “The Butterfly Tattoo”, uma adaptação do romance homónimo. Que benefícios em termos de exposição e crescimento artístico vieram desta oportunidade?

SW – Foi tudo muito divertido porque o livro é ambientado em Oxford e o casal protagonista, dois jovens apaixonados de dezoito anos – é uma história de amor que acaba em tragédia, mas não quero apurar mais pormenores… bem, na verdade isto já apura muito, por isso peço desculpa…

Isso foi um grande spoiler! [risos]

SW – Sim, estraguei o filme todo para o público português! [risos] Bem, mas eles encontram-se num concerto…

Que é o vosso concerto.

SW – Sim, o realizador queria tornar esse momento muito verosímil, tinha vontade de se fazer acompanhar duma banda de Oxford e a nossa música parecia combinar bem com o filme. E foi óptimo, aparecemos todos com óptimo aspecto! [risos] Infelizmente, o filme ainda não estreou no circuito comercial.

Então são todos muito telegénicos ou cinegénicos!

Lewis Jones (LJ) – Sim, aparecemos todos muito bem!

SW – A maquilhagem deve ter sido excelente! [risos]

Se a música não funcionar, têm sempre o cinema! [Entra Robert Stevenson, o vocalista]
Não perdeste muito, estávamos a falar do filme em que entraram, “The Butterfly Tattoo”. Queres acrescentar alguma coisa sobre isso?

Robert Stevenson (RS) – Aparecemos todos com óptimo aspecto! [risos]
O Spencer já nos arruinou o filme todo, contou-nos o fim… [risos]

RS – É tragi-cómico. A parte da comédia vem da má interpretação de alguma das personagens…

Podemos sempre pensar nele como Shakespeare, toda a gente sabe o fim, mas ainda assim pode gostar da obra…

SW – De facto é quase idêntico ao “Romeu e Julieta”, mas em vez de tocadores de alaúde a amenizar a cena, têm-nos a nós em palco com um aspecto fantástico! [risos]

RS – Á parte disto não temos muito mais a dizer sobre o filme, excepto que já foi lançado nos Estados Unidos, por isso o lançamento na Europa está para breve.

SW – Com sorte, já passou tempo suficiente para as pessoas se esquecerem que lhes contámos o fim.

Falando ainda desta ambiência cinematográfica, acreditam que as vossas canções são como guiões de filmes, histórias que querem contar?

RS – Sou eu quem escreve a maior parte das letras porque sou eu o cantor e considero que verter as minhas emoções em histórias é uma maneira mais fácil de chegar às pessoas…

Para criar uma identificação?

RS – Exactamente. Se fosse apenas sobre mim seria demasiado autobiográfico e eu não quero esse tipo de pressão. É melhor imaginá-lo como um cenário de cinema, e é ao cinema que vamos buscar muitas das nossas influências…

Querem citar algumas? Aqui podem usar e abusar do pretensiosimo! [risos]

SW – Podíamos falar da Vanguarda, de filmes a preto e branco, onde se fuma e se bebe café… [risos]

A pergunta é a brincar, mas também é muito a sério.

RS – Sim, de facto o cinema inspira-nos porque o é emoção pura e real transportada para uma tela e tem um pedaço maior de vida do que aquele que se pode recriar com uma única canção, por isso responde a um desejo de uma perspectiva maior. Isto faz algum sentido?

É como que um desejo de ter um retrato completo. Não apenas música, mas a música a trazer consigo algo maior.

RS – É como se cada canção fosse uma pequena instantânea, uma frame.

Algo que a crítica faz reincidentemente é a comparação a grandes nomes da corrente de indie rock com uma certa vocação épica, tais como os Editors ou os Coldplay. Aceitam-na como um elogio ou já sentem uma certa saturação de baterem sempre na mesma tecla?

RS – São excelentes bandas!

SW – Ser comparados com bandas que elevaram a sua música à escala global como eles o conseguiram só pode ser uma boa referência.

Mas pode, de facto, tornar-se constrangedor para vocês porque nunca perdem essas “etiquetas” e nunca são apreciados pela música em si…

RS – Um dia havemos de o conseguir. Há muitas bandas por aí, é normal que as pessoas queiram situar-nos no espectro da produção a que têm acesso.

Aceitam-no, portanto, como uma referência?

RS – Pode ajudar as pessoas a compreender de onde vimos. E, quem sabe, um dia virá alguém dizer que a banda “x” ou “y” soa como A Silent Film.

LJ – As pessoas precisam de se situar. Somos arrogantes mas não o somos assim tanto! [risos]

E a propósito de situar no espectro, podem falar-nos da cena musical de Oxford? Existe uma cena musical em Oxford?

Todos – Sim!

RS – É incrível como cena musical. Toda a gente é extremamente ambiciosa.

Pensam em si mesmos como futuras bandas de projecção global?

SW – Conheces a maior banda que saiu da cena oxfordiana, certo? Os Radiohead!

RS – Eles elevaram muitíssimo a fasquia, têm uma capacidade de criação de ambientes que muitas bandas ambicionam igualar e revolucionaram imensos aspectos do contexto musical.

Até mesmo ultrapassar o conceito de mercado e da necessidade de uma editora, como vimos ultimamente…

RS – Até mesmo a um nível local, o mercado e a imprensa comparam os novos projectos aos Radiohead, o que instiga a um grau de exigência muito superior.

LJ – É raro, acaba por ser um privilégio vir de um local onde existe uma banda assim, com poucos equivalentes no mundo.

De facto já têm quase estatuto de deuses no mundo do rock alternativo.

RS – Em Oxford tendes a encontrar bandas muito interessantes e ambiciosas e muito poucas bandas com um vácuo ao nível das ideias e que procuram o sucesso rápido.

Poucos wannabees, portanto…

RS – Isso não acontece porque se procuras esse tipo de abordagem tens Londres ali muito perto.

Há um compromisso e profissionalismo maior na música, pelo que vejo.

RS – A dimensão cultural fica em primeiro lugar, sem dúvida.

SW – Londres é a sede de toda a indústria por isso é mais fácil ter oportunidades rapidamente. A distinção é um pouco a mesma que a que existe nos Estados Unidos entre Los Angeles e Nova Iorque.

RS – É perfeito porque a distância de Londres é razoável para termos um grau de ambição diferenciado, mas suficientemente pequena para nos deslocarmos até lá se for preciso. Oxford é uma cidade universitária, a fervilhar de ideias novas e ultimamente também com uma grande variedade de palcos, o que a torna um sítio saudável para a gestação duma banda.

A vossa carreira conta já com vários pontos altos, como o concerto no festival de Glastonbury de 2007 e a digressão como banda de abertura dos One Republic, o que é considerável para uma banda que surgiu tão recentemente. Como é a experiência de começar do zero, enfrentar um público que possivelmente desconhece estes factos e vai ouvir-vos pela primeira vez, como o português?

SW – Acho que quando atinges algo de grande levas cerca de dois dias a acreditar que estás no topo do mundo e te enches de confiança, mas depois cais em ti e apercebes-te de que ainda há muito por fazer e muita gente que ainda não sabe que existes. É emocionante recomeçar, levar a sério todos os passos e fazer as coisas aos poucos. Neste momento Portugal é um desses desafios, por isso estamos felizes de estar aqui a promover o disco, a conhecer pessoas e a assistir às respostas delas. É fácil manter a humildade nestas condições.

Sobre os espectáculos em Portugal surge uma questão de fundo: como conseguem manter o ambiente cinematográfico tanto em pequenos showcases [em Junho, no fórum Fnac e na festa de antecipação do Optimus Alive na Lx Factory] como no palco do festival Alive, para um público alargado?

RS – É uma boa pergunta, que nos colocamos constantemente. Consumimos muito do nosso tempo nos soundchecks a tentar obter o som mais adequado, assim como na escolha dos instrumentos, para que o ambiente funcione. Á vezes é mais complicado em salas pequenas, mas em todo o caso com a ajuda de luzes e projecções conseguimos melhorá-lo.

SW – Quando tocámos em “The Butterfly Tattoo” a pressão para mantermos todos os aspectos circundantes à música a funcionar bem que, depois disso, percebemos que o essencial já lá está, e é a música, independentemente do palco em que estejamos. Desde que a música alcance o efeito desejado, tanto faz que seja num grande festival como num pequeno evento.

Em relação à continuidade da banda, podem dizer que há perspectivas para um segundo álbum? Têm trabalhado em novas canções?

SW – Já estamos a criar o segundo álbum, mas com muita calma.

RS – Vamos fazê-lo com tempo, temos andado a promover “The City That Sleeps” por enquanto, e vamos mantendo ambas as coisas em simultâneo enquanto não arranjamos uma “casa” para o novo disco [a ligação à Xtra-Mile foi rescindida após o lançamento do álbum de estreia].

Não será num futuro próximo, pelo que dizem.

RS – Possivelmente no próximo ano, tudo aponta nesse sentido.

Por último, mas não menos importante: seriam capazes de dar uma boa razão para que o público não perca os vossos concertos?

SW – Pelo que tenho visto vocês levam muito a sério a vossa cerveja, a Super Bock, e estão muito orgulhosos dela, por isso posso dizer que vai ser ainda melhor que ela.

RS – Além de que combina muito bem com Super Bock, o nosso concerto.

SW – No fim do espectáculo não se vão lembrar da cerveja que têm na mão, mas a música possivelmente não esquecem.

O lema podia ser qualquer coisa como “as cervejas vão e vêm, a música permanece”?

SW – Exactamente, acabaste por dar-nos a resposta!

Muito obrigada e boa sorte nos concertos.

RS – Nós é que agradecemos toda a atenção, obrigado!



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