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Amatudo

Artesanato urbano com tradição.

Para quem gosta de percorrer as ruas de Lisboa, é sempre bom quando nos deparamos com alguma novidade, com uma loja que desconhecíamos, com um novo café.

Num dos meus frequentes passeios encontrei uma loja que apesar de estar situada numa zona muito turística de Lisboa (Largo de Santa Madalena, no caminho para a Sé de Lisboa), foge ás típicas lojas de souvenirs que enchem as ruas.

Com uma forte aposta no lema “o que é nacional é bom”, esta loja vende produtos exclusivamente “made in Portugal”. Desde o típico Galo de Barcelos, aos brincos de Viana, passando por os nossos tão tradicionais produtos gastronómicos, como o azeite, e as compotas.

Assim que entramos somos presenteamos com adaptações bem dispostas do Galo de Barcelos, pintadas pelo dono do Amatudo (Ezequiel Vieira). Encontramos um Galo Super Homem, e um Galo Pessoa, e sentimos automaticamente vontade de rir perante este visível sentido de humor.

Alias, o galo de Barcelos, enquanto símbolo do folclore português, encontra-se bem representado. Desde pequenas pregadeiras, a fios, o turista e o português deparam-se com uma variedade de tal forma vasta, que acaba por dificultar a escolha. Estas peças, juntamente com os colares feitos com cortiça, são da autoria de Natércia Amaro (Licenciada em Psicologia, descobriu esta nova paixão quando veio trabalhar para o Amatudo).

Existe aqui uma variedade de artigos, que nos levam de Norte a Sul do país. Neste espaço encontramos a conjugação do velho com o novo, do artesanato tradicional, versus o artesanato urbano, traz-nos recordações, que se encontram bem patentes no mobiliário que preenche a loja, como os armários de uma escola antiga convertida em balcão.

Não existe uma competição entre o novo e o velho, mas sim uma convivência pacifica e harmoniosa. Porque o velho é para ser respeitado e com ele aprendemos, e o novo, esse, trás sempre uma nova perspectiva, e também uma lufada de ar fresco.

Amatudo, é uma loja em que o nome diz tudo. Aqui, tudo se ama, tudo se adora, e tudo dá vontade de comprar, inclusive a velha cadeira de barbeiro ou até mesmo os antigos anúncios de cinema com o carimbo da censura.

Os turistas entram com pequenos passos e vão mexendo nas peças que se encontram expostas. Os vários tipos de representações de Santo António, e as representações do Galo de Barcelos são talvez o que atrai mais atenção.

Alguns, entram, escolhem a sua souvenir e saem contentes com o embrulho na mão, descendo, ou subido, as ruas de Lisboa. Outros, demoram mais tempo, observam e levam peças diferentes, que marcam pela sua singularidade.

Entre as peças invulgares e originais que fogem aos tão típicos e kitschy souvenirs portugueses, encontram-se as peças feitas em barro de Júlia Ramalho, neta de Rosa Ramalho, oleira famosa de São Martinho de Galegos, cujas peças se caracterizam pelo dramatismo, e pelas representações carregadas de movimento de seres que ninguém conhece e nunca viu.

Rosa Ramalho, já falecida, deixou o seu legado, e a sua arte á neta Júlia Ramalho. Se a primeira ultrapassou as fronteiras de Portugal com as suas figuras, a segunda, manteve vivo o legado de uma arte que se vai perdendo aos poucos. Detentora, á semelhança da Avó, de um talento para moldar e trabalhar o barro, as suas representações demonstram uma artista com uma forte capacidade imaginativa.

O barro é o elemento, e o material chave das figuras que vemos. Os presépios minúsculos de Miguel e Célia Gomes (Estremoz), o também pequeno Santo António de Manuel Barbeiro (oleiro de Barcelos, com 80 anos de idade), são vários os nomes dos artesãos que nos vão surgindo nas prateleiras á medida que as vamos observando.

Um outro nome que “salta” da prateleira é o de Tiago Praça, um artesão residente em Lisboa, com atelier na Rua do Salvador (a uns poucos minutos da Amatudo), com várias exposições realizadas que vão desde a Exposição Colectiva de Raku nas Caldas da Rainha (1993), á participação na Feira Internacional de Artesanato (2004).

A sua inspiração disse-nos ele, vai buscá-la á natureza, ás suas cores e formas, e ás mulheres. Com peças de arte em cerâmica em que as cores fortes predominam, destaca-se os seus pratos de inspiração Op Art (expressão que vem do inglês, e que significa optical Art, caracteriza-se pela forte sensação de movimento, e pelas suas representações geométricas).

A par com este estilo mais jovial, uma outra marca (portuguesa obviamente) marca presença devido á sua irreverência. Com materiais bem diferentes, e saindo das peças “handmade”, a bem disposta marca Artlusa (design gráfico), presenteia-nos com os seus postais, t-shirts, aventais e outras recordações que qualquer turista, vai querer levar como recordação.

Artlusa, é uma conhecida marca portuguesa de design gráfico, que, segundo o seu site oficial, “Tem como missão a reinterpretação dos símbolos nacionais e regionais de uma forma contemporânea (…)”

Considera-se artesanato o produto final que sai das mãos do artesão, é a sua criação, o seu legado. São peças únicas, e diferentes, que fogem á forte mecanização da industria, e aos produtos feitos em série e de forma massificada.

Amatudo é também artesanato, esta loja é o produto final do esforço e sonho de um homem em mostrar o que de tão bem se faz em Portugal. É um espaço em que se mostra ao turista o que temos de tão bom, e recorda aos portugueses, que talvez não seja apenas lá fora que existam “coisas boas para ver”.

Vamos percorrer as ruas de Lisboa, subir até ao Largo de Santa Madalena, entrar na porta nº 76 e descobrir a “Loja de artesanato tradicional e urbano do mais genuíno que Portugal tem para oferecer”.

Outras marcas representadas: Footnote (Braga), peças feitas de câmaras de ar,(re-utilização de materiais), Rita Matias, Saboaria Portuguesa, Confiança, Vestal, Faianças Bordallo Pinheiro, DC



Existem 3 comentários

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  1. Regina1948

    Fico feliz por ver a AMATUDO com sucesso. Foi concepção minha e montada por mim e depois vendida à Dr.ª Cristina Vieira, esposa do Sr. Eziquiel Vieira. Fico contente por ter corrido norte sózinha a trazer as primeiras peças e a contactar pessoas do artesanato urbano mantendo-lhe o nome de artesão.
    Mas evoluiu deixando-me contente. Muitos e bons


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