EU#8 – A Outra Face da Lua
A Outra Face da Lua - SOS Vintage
Uma das lojas mais emblemáticas no panorama vintage/trendy da cidade de Lisboa está em risco de fechar. A Outra Face da Lua é um dos locais de culto da capital e representa um lifestyle alternativo e urbano. Dez anos após a sua inauguração, a loja lançou a campanha “SOS Vintage”, com a qual pretende salvar o espaço e marcar uma posição junto àqueles que impendem o empreendorismo nacional.
Estivemos à conversa com o João, um dos responsáveis pelo espaço da baixa lisboeta, que nos explicaram o conceito da loja, as dificuldades que estão a viver e a campanha “SOS Vintage”, que acabaram de lançar.
RDB: Explica-nos o conceito da “Outra Face da Lua”
A Outra Face da Lua é, acima de tudo, uma loja de roupa vintage que integra no mesmo espaço um salão de chá e cafetaria. Seja através de produtos usados ou de produtos novos o que a loja vende são objectos revivalistas.
O que podemos encontrar na vossa loja?
Para além de uma equipa jovem e bem disposta onde os sócios também trabalham, n’A Outra Face da Lua pode-se encontrar originalidade.
A Outra Face da Lua vende roupa vintage, desde os anos 40 até aos anos 80, e através dela dá a possibilidade às pessoas de terem uma visita guiada às peças originais que hoje são recriadas pelas principais marcas e lojas de roupa.
N’A Outra Face da Lua pode-se ainda encontrar papel de parede, brinquedos de lata e peças Bordalo Pinheiro.
A Outra Face da Lua comercializa objectos que considera determinantes para o espírito revivalista que a caracteriza. E que gosta. N’A Outra Face da Lua pode-se encontrar passado, presente e futuro
O que faz da vossa loja um espaço único na cidade Lisboa?
O facto da loja conseguir aliar roupa vintage com tão variados tipos de pessoas. O bom ambiente que essas pessoas diariamente proporcionam à loja, umas às outras e às pessoas que lá trabalham. O facto de A Outra Face da Lua não ser uma loja da moda mas que contribui para a moda. O facto de ser uma opção para quem não quer comprar só roupa da estação. O facto de A Outra Face da Lua ser considerada como uma referência nacional e internacional em roupa vintage.
O nosso empenho e orgulho no facto de sermos sempre nós próprios a fazer tudo na loja.
Até ao ano passado a loja estava no Bairro Alto, onde esteve durante sete anos. Porque houve a necessidade de mudar de local para a Baixa?
A Outra Face da Lua saiu do Bairro Alto porque o espaço onde estava foi vendido e a loja não teve capacidade para exercer o direito de preferência. Tivémos mesmo de sair.
A Baixa era um local para o qual já tinhamos planos e uma zona que precisava também de sangue novo. É isso que todos os dias ouvimos falar nas notícias.
Tal como nós, a Baixa também é vintage. É sem sombra de dúvidas o coração da cidade. Era o único sítio no qual podiamos crescer e este último ano mostrou-nos o quanto é maravilhosa. Sem sabermos o que nos esperava, seguimos mais uma vez o nosso instinto empreendedor e a Baixa ultrapassou todas as nossas expectativas. Comprovamos com esta mudança que muita gente tinha saudades de estar na Baixa.
Neste momento a loja está em perigo de fechar. Quais as razões?
A única razão pela qual a loja está em perigo de fechar tem a ver com o facto de o banco com o qual a empresa trabalha não aceitar financiar a compra do espaço.
Depois de sabermos que tínhamos de sair do Bairro Alto, começamos a procurar espaços na Baixa para continuar o projecto. Atempadamente perguntamos ao banco com o qual trabalhamos qual seria a viabilidade de comprar um espaço em vez de arrendar.
A resposta foi positiva. Para conseguir o financiamento bastava a hipoteca do imóvel e um ano de funcionamento da loja para apresentar pelo menos um balanço da empresa.
Decidimos avançar e para a abrir a loja contraímos empréstimos pessoais que foram conseguidos sem grandes problemas visto serem créditos ao consumo. Conseguimos também o leasing para a compra do equipamento do bar. Mais um crédito ao consumo. Tudo isto nos indicou mais uma vez que o empréstimo para a compra do imóvel seria concedido.
Os donos do espaço deram-nos um ano para efectivar a compra de forma a termos pelo menos um balanço da empresa.
Mas, contrariamente ao que nos tinha sido dito, passado esse ano de actividade da loja, a resposta do banco em relação ao financiamento para a compra do imóvel foi negativa.
Rapidamente tentamos outros bancos, mas a resposta foi também negativa pelo facto de a empresa não ter historial nesses bancos e pelo facto de termos altas taxas de esforço devido aos empréstimos pessoais.
Obviamente, e queremos esclarecer isto de forma clara, nós nunca teriamos avançado para a compra de uma loja se a resposta do banco não tivesse sido optimista desde o início. Não somos inconsequentes ao ponto de por em causa um trabalho feito ao longo de tantos anos.
Isto não é mais do que um reflexo do estado do empreendedorismo do nosso país.
Ninguém dos bancos aos quais solicitamos o crédito se dignou sequer a vir visitar a loja e entender o projecto. Que saibamos não se concede um crédito à habitação sem antes ver e avaliar uma casa.
Com tudo isto, o contrato chegou ao fim do prazo e, não fossem os donos do espaço concederem-nos mais alguns meses já a loja estaria encerrada. Praticamente já perdemos a esperança de vermos um financiamento bancário para a compra do imóvel aprovado.
Por tudo isto e porque a loja tem corrido optimamente bem, decidimos fazer esta campanha. Achamos que este projecto merece. Conseguimos não só trazer os clientes do Bairro Alto para a Baixa como atrair muitos clientes e turistas da zona.
A Outra Face da Lua já conquistou o coração de muitas pessoas. Agora trata-se de conseguir um espaço físico através de formas menos convencionais tal como ela.
Chegaram a ter algum apoio mais institucional? Estavam a contar com isso?
Há dois anos, ainda antes de sairmos do Bairro Alto, já tínhamos um plano delineado que consistia em manter A Outra Face da Lua no Bairro Alto e abrir uma outra A Outra Face da Lua na Baixa.
Solicitamos uma reunião na Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE) para apresentar o nosso projecto, mas a Doutora que nos atendeu não sabia o que era roupa vintage e ficou um pouco perturbada com a ideia da ANJE subsidiar uma loja que vende artigos em segunda-mão. Acabámos por ir parar à gaveta da ANJE, que existe para desenvolver projectos como o nosso.
Apesar de nos terem dito que seríamos contactados, não houve qualquer feedback.
Explica-nos a campanha que lançaram – “SOS Vintage”. Como é que as pessoas podem ajudar?
A campanha SOS VINTAGE foi uma ideia que tivemos enquanto pensávamos em possíveis soluções para este problema, entre eles o encerramento da loja.
Depois de ponderar sobre o assunto, resolvemos fazer a campanha. Gostaríamos de referir o difícil que tem sido expor publicamente uma fragilidade destas numa empresa mas achamos ainda mais difícil encarar o encerramento de uma empresa saudável e com um futuro promissor.
Chegámos então à conclusão que A Outra Face da Lua merece que lutemos por ela e que queremos desenvolver este projecto em Portugal.
A campanha SOS VINTAGE é uma campanha com o objectivo de angariar fundos para a compra do imóvel de uma forma não institucional. Mas é também uma forma de expôr um problema comum a muitos empreendedores deste país.
Quando um empreendedor procura um financiamento para o seu projecto é normalmente encaminhado para os créditos pessoais na forma de créditos ao consumo.
Se ele quer abrir uma loja, que poderá vir a ser uma fonte de criação de riqueza para o país (e estamos a falar de Portugal), o banco normalmente diz que não. Se, mesmo depois disso, não desistir do projecto acaba por ser encaminhado para um crédito ao consumo com juros mais altos.
Na prática, finge que compra um carro e abre uma loja. Esta é a realidade que muitos empreendedores enfrentam. Conseguem abrir a loja mas à custa de juros mais altos e de altas taxas de esforço.
Esta campanha não foi criada para ser anti seja o que for, mas sim para fazer as pessoas pensarem um pouco sobre o futuro de empreendorismo em Portugal numa altura em que o próprio Presidente da República fala sobre o assunto, curiosamente em Espanha.
É ainda uma forma de expressar a nossa vontade de lutar por aquilo em que acreditamos.
As pessoas podem ajudar de duas formas. Comprando a t-shirt e contribuindo com 15€ para a continuidade deste projecto ou escrevendo o seu comentário no nosso blog: sosvintage.blogspot.com. Queremos também que as pessoas vistam a t-shirt e nos enviem fotos para publicar no blog.
Acima de tudo, as t-shirts simbolizam a campanha. Ao comprar e ao usar a t-shirt as pessoas transmitem o seu apoio à continuidade da loja e contribuem para que outros empreendedores se sintam inspirados a lutar pelos seus projectos.
A campanha leva-nos a pensar quantos bons projectos não foram para a frente pelas mesmas razões e a quantas pessoas já foram recusados financiamentos que de alguma forma enriqueceriam o nosso país.
Quais são as t-shirts que propõem vender no âmbito desta campanha e de forma podemos adquirir as mesmas?
A primeira série de t-shirts é preta com SOS VINTAGE a vermelho à frente. Nas costas têm o endereço do website da loja que leva ao blog.
A nossa ideia é ir criando t-shirts com mensagens variadas e pertinentes. A próxima, podemos já adiantar, terá nas costas a seguinte frase: “A TRUE STORY THAT SHOCKED AND ROCKED THE NATION”, disponíveis em verde tropa, vermelho e preto.
Neste momento as t-shirts estão à venda apenas na loja da Rua da Assunção, mas brevemente estarão também à venda online.
Se quiseres lançar um apelo …
Gostávamos de levar as pessoas a pensar em algumas coisas:
Porque é que tantos jovens portugueses estão a ir embora para outros países?
Porque é que continuam a abrir centros comerciais com lojas sempre iguais?
Porque é que as pessoas gostam tanto de encontrar lojas diferentes no estrangeiro?
Porque é que em Portugal há tão pouca oferta de lojas inovadoras?
Já vimos que se não tivermos dinheiro ou bens, os bancos não dão. Se o projecto for inovador e a Doutora da ANJE não o conhecer, não há subsidios. Sendo assim, resta-nos o quê? Resta-nos a opinião das pessoas.
Queremos que as pessoas pensem nisto de cada vez que acharem que o problema d’A Outra Face da Lua é só nosso. Porque não é.
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