João de Brito e Wagner Borges – Fotografia de Mário Pires

João de Brito e Wagner Borges

JBWB – 900: dois homens, um deus quadrado e um assalto a um carro (entre outras coisas)

João de Brito e Wagner Borges preencheram a sala 4 do Teatro Rápido (TR) em Junho passado, com relógios, tic tac metafísico e a ideia de que deus seria quadrado.  Quisemos conhecer melhor os jovens actores que nos impressionaram com uma viagem pelo questionamento da contemporaneidade (e não só).

JBWB: João Brito e Wagner Borges. João é um algarvio que também estudou na ESTC e cujo rosto conhecemos de aparições televisivas (e não só). É colaborador assíduo do Serviço Educativo da Culturgest e é fundador e director artístico da Associação Cultural LAMA (Laboratório de Artes e Media do Algarve). Wagner recebeu a sua formação na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC – Amadora). Em Setúbal, foi Professor de Expressão Dramática e Encenador e colaborou com o Teatro Estúdio de Setúbal – Fontenova. No “palco” do TR partilharam 900 segundos (ou seja, quinze minutos).

«Nós já nos conhecíamos enquanto actores», diz Wagner, que confessa que já havia vontade de ambos em trabalhar em conjunto. «A grande dificuldade do conceito TR é encontrar algo que se encaixe nesse mesmo conceito, no “o que é que eu quero dizer em 15 minutos”», acrescenta Wagner. «15 minutos que são 900 segundos», recorda-nos João de Brito, para o caso de questionarmos sobre o “900” presente no nome do projecto que acolhe, também as iniciais dos nomes dos actores. «Tínhamos alguns monólogos escritos, de forma autónoma, e construímos os diálogos através de mensagens que íamos trocando».João disse-nos ainda que pensaram, numa primeira fase, em candidatar-se ao mês de Maio, com o tema mater. Mas a proposta aconteceu em Junho, com o tema “é para amanhã”

Parece que houve aqui um tic tac misterioso que fez com que este projecto acontecesse naquela altura e não outra: «Houve, efectivamente, um assalto ao carro do João, aqui em Lisboa. Roubaram-nos as chapas de zinco que iam fazer parte do espectáculo e a cabeça de leopardo que a Mala Voadora nos emprestou», disse Wagner. «E a minha roupa», disse João, «fiquei sem um par de calças de ganga para vestir!» Os dois actores assumiram o acontecimento do assalto, em vez de o disfarçar ou esquecer, e foi assim que a peça acabou por… começar.

Wagner acusa a dificuldade de contar algo em 15 minutos e admite o loop como algo necessário e que casou, na perfeição, com as metáforas usadas em cena.  «O texto ia-se justificando à medida que ia correndo», conta João, ao recordar o processo de ensaios.

JBWB – 900 assume-se como um momento para questionar aquilo que se faz em teatro, hoje em dia. «Vivemos um momento em que se criou uma espécie de bolha conceptual e quando se aborda um texto de forma mais “convencional”  somos considerados canastrões. Acabamos por não ter espaço para a criação da personagem», diz João. Wagner acrescenta que estamos a sofrer de extremos  e, por isso, nos encontramos um pouco perdidos. Concordamos com João, quando o actor afirma que há teatros para que possa haver toda uma diversidade de ofertas.

A passagem pelo TR revelou-se «uma grande experiência». Para João o desafio consiste em «estar sempre com o botão do ON constantemente ligado, das 18h às 21h. «Tens que estar sempre activo por dentro e depois é uma incógnita: nunca sabes se vais ter público, se vais representar para uma pessoa ou para doze. Estás sempre a testar-te como actor e a aprender a gerir a tua energia». Wagner acrescenta: «o  maior desafio era pensar que, à partida, tínhamos cerca de 120 espectáculos para levar a cabo durante o mês.». Quando perguntamos por experiências curiosas com o público, os dois (amigos e) actores referem várias: desde alguém que adormeceu, ou alguém em estado de embriaguez. «Houve um espectador que, no final da peça, saiu da sala mas voltou atrás para nos pedir uma frase de que tinha gostado muito, para tomar nota», refere João. Wagner e João também recordam a visita de uma criança, na companhia dos seus pais, de ano e pouco, que assistiu muito atenta à peça. «Numa das sessões, uns amigos do João vieram ver na peça e no final foram cumprimentá-lo. Ao ver este movimento de beijos e abraços, os restantes espectadores fizeram fila para nos cumprimentar. Acho que ficaram com a ideia de que seria uma espécie de ritual aqui do TR», conta Wagner . João sublinha «eu recebia sempre mais beijinhos do que o Wagner… (risos)»

A dupla está neste momento envolvida num novo projecto, de seu nome  T.3 e que tem estreia prevista para o dia 30 de Agosto, na XV Festa do Teatro – Festival Internacional de Teatro.  A criação JBWB – 900 vai voltar ao «palco», fazendo parte de um espectáculo maior, vivido a três tempos e partilhado com uma vasta equipa.

 

 Fotografia de Mário Pires



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