Mount Eerie | “Clear Moon”
Já é tempo de começar a dar atenção a Phil Elverum (que tem uma discografia extensíssima), por muito que ele não a queira
A capa de “Clear Moon”, contrariando o título do novo álbum de Mount Eerie, mostra o que parece um sol enevoado ou talvez mesmo coberto pelo fumo de um fogo que arde algures (se o anterior “Wind’s Poem” era esculpido no gelo, este disco cheira às cinzas de um incêndio). Pondo de lado as dúvidas, fica a certeza de que a visão para aquele astro não é clara. E assim é a música de Phil Elverum (outrora The Microphones; por este dias, Mount Eerie): ensimesmada, recolhida, autista, protegendo as suas melodias ora num sintetizador melodramático (uma imensa orquestra de artifício) ora numa agreste distorção de guitarra. A própria produção, comummente catalogada como de baixa fidelidade (como se fosse uma contingência económica), é um trompe l’oreille que se compraz em criar erros de perspectiva nos ouvidos do ouvinte (reverberações, overdubs, e demais truques de estúdio) e procura, sobretudo, ocultar, numa estratégia próxima da do shoegaze.
Apesar de tudo, “Clear Moon”, descrito como o mais desanuviado dos dois álbuns de Mount Eerie a sair este ano (o outro será “Ocean’s Roar”), não é tão bravio quanto “Wind’s Poem”; deixa a beleza respirar (em vez de a tentar abafar e estrangular constantemente), nas vozes femininas de Allyson Foster (muito fraseriana) e Geneviève Castrée, no sintetizador roubado a Angelo Badalamenti [instrumento que até tem direito à sua própria canção, embora parentética, «(synthetiser)], ou, pelo menos, tão cinematográfico quanto o dele, na sempiterna guitarra acústica (que tem cada vez menos espaço neste folk mutante). Depois, há drone metal (com coros de igreja) — «Over Dark Water»; interlúdios que são experiências sonoras à volta de ruídos de guitarra — os dois «(something)»; uma catedral construída na opulência de um órgão e de uma guitarra de western spaghetti — «The Place Lives». De resto, é nessa tensão, entre agressão e formosura, que se encontra o perfeito equilíbrio da música de Mount Eerie. Pendendo para um lado, seria de uma violência insuportável; para o outro, perigosamente anódina.
Ainda é muito cedo para se fazerem estas contas, mas “Clear Moon” apresenta-se como candidato a ser um dos álbuns do ano. Já é tempo de começar a dar atenção a Phil Elverum (que tem uma discografia extensíssima), por muito que ele não a queira.
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