NOS Alive 2025 | Dia 3 (12.07.2025)
No dia em que os Buraka Som Sistema foram o primeiro nome anunciado para a edição de 2026, houve vários bons concertos neste último dia do NOS Alive, edição 2025.
Texto por Miguel Barba e fotografia por Graziela Costa.
Líquen chega embalada pela vitória no Termómetro. A electrónica entrelaça-se com as palavras em português. Limpas e claras. Mas incisivas como é o caso de «Aurora». «Neve» ganha uma roupagem mais electrónica, ao invés da simplicidade das teclas na versão do EP, embora mantenha o toque soturno que a caracteriza. «Frases (Entrelinhas)» não conta com a presença de Malva que eleva ainda mais a canção. A fechar fica «Cinzas, Cheiro a Limão».
Os Dead Poet Society procuram fazer render o pouco tempo de que dispõe para mostrar o seu rock musculado, o acaba por encaixar bem, dado o cardápio para o resto do dia, em especial do lado do palco NOS. À quarta canção é aberto um mosh pit a pedido da própria banda. A canção chama-se «.swvrm.». O som transporta-nos para o final da década de 90, início da seguinte, em que se passavam horas no quarto a ouvir guitarras com riffs bem rasgados e um baixo pulsante, sempre com o volume bem alto (até termos de o baixar sobre ameaças).
We are now at a Bright Eyes concert. Há vozes que são inconfundíveis e a de Connor Oberst é uma delas. As letras respiram a america; longe de perfeita, sempre problemática, mas de longe mais luminosa que actualmente, mesmo com a temática da morte sempre a pairar. “Beijinhos!”, diz a dada altura. «Jejune Stars», traz a faceta mais rockeira dos Bright Eyes. Os movimentos de dança antes de se atirar a «I Won’t Ever Be Happy Again», apresentada como uma canção celebratória. Mas também há espaço para o amor nas canções de Connor Oberst.«We Are Nowhere, and It’s Now», numa interpretação belíssima, com o som dos instrumentos sempre no limite, mas sem nunca se atropelarem uns aos outros, e depois com a voz de Oberst sempre a equilibrar. Antes da derradeira canção,«One for You, One for Me», a referência à situação nos Estados Unidos e no mundo. Uma estreia que tardou, mas que finalmente aconteceu.
Amyl an the Sniffers há muito que não é um segredo bem guardado. «Security» é Amyl eléctrica em palco. Será assim do início ao fim. É uma descarga de energia com vontade de querer estar do lado certo da história. O fato, sempre curto, diz “I bite!”. E não há uma única alma que duvide disso. É o aniversário do baterista por isso cantamos os parabéns, brindamos e ele vira a cerveja. Tudo certo! Activismo antes de se atirar a «Guided By Angels». Uma descarga para nos deixar de nervos em franja. E Free Palestine! Sempre. No final só apetece berrar a plenos pulmões: “Fuck, hell yes!” Que bojarda.
Entretanto os Muse já arrancaram no Palco NOS, onde uma multidão os espera. O guitarrista enverga a camisola da selecção nacional com o nome do Diogo Jota nas costas. O alinhamento é um best-of, e é celebrado como tal. «Time is running out» socalca ora o baixo eléctrico, ora a bateria, para depois a guitarra unir as pontas soltas no refrão. A sequência final agrega «Super Massive Black Hole», «Uprising» e «Knights of Cydonia», com fogo de artifício para assinalar com pompa e circunstância o momento.
Os Foster the People arrancam e transportam-nos para a década de 80 entre autotune e um falsete que, felizmente, prevalece. À medida que o concerto progride, compreendemos que encaixa; como que procura criar uma ponte temporária entre Muse e os Nine Inch Nails. A música dos Foster the People invoca nomes tão distintos como uns Vampire Weekend, ou uns M83 ou até um toque de Prince aqui e ali, mas tudo montado com personalidade. Fruto da conjugação dos horários a tenda fica com demasiada gente. Dentro e – acima de tudo – ao redor. Mas será temporário, sabemos disso. No final, ouviu-se «Pumped Up Kicks». Fechou no ponto.
Pese embora o dia ter esgotado, como o primeiro, fica a sensação de que há mais gente no recinto, provavelmente fruto dos horários das actuações e a maneira como as pessoas se distribuem pelo recinto.
Os Nine Inch Nails de Trent Reznor e Atticus Ross apresentam-se pelas 00h15, hora designada. «Somewhat Damaged» faz-se escutar quando assumimos a nossa posição diante do palco NOS. Tudo sucede rápido, é a própria câmara, que em cima do palco procura transmitir essa sensação, com deslocações rápidas sobre os vários elementos e rodando em torno deles. Será sempre assim, do início ao fim. Depois há a paleta cromática: o greyscale pontifica nos ecrãs, no palco a cor vai mudando, mas nunca há grandes misturas. Parece que estamos perante um videoclip criado em tempo real. Uma taquicardia sonora. A dada altura Reznor confidência que aproveita os momentos em que está frustrado, zangado ou chateado com alguma coisa para o canalizar para uma nova canção, mas que de momento sente que está exactamente onde tem de estar. Aqui. Há reciprocidade. Nesta fase entra-se numa toada em que a base é mais electrónica, mas não menos densa, momento pontificado com «Closer» e a que se segue «Copy of A». E depois há o “detalhe” de Trent Reznor ter 60 anos, mas estar numa forma que causaria inveja a muitos. «Every Day Is Exactly the Same» versa sobre a monotonia das nossas vidas. Aqui arranca uma sequência final incrível com «The Hand That Feeds» a soar antémica, «Head Like Hole» no meio e «Hurt» é a chapada final.
Os Future Islands já levam mais de meia hora de actuação e os movimentos de Sam T. Herring saltam logo à vista. Desafiam qualquer centro de equilíbrio. É impressionante, e não interessa quantas vezes o tenhamos visto ao vivo. Sai-lhe da pele. Depois há o alcance da sua voz. É performance pura. Vamos a tempo de escutar «The Thief», «Ran» e «For Sure», onde Herring, sua em bica, ondula, dança de cócoras, agarra-nos a alma e canta para todos nós, olhos nos olhos. «Seasons (Waiting on you)» já tem estatuto de clássico e o final acontece som de «Long Flight». Pertinente, visto que a tour chegou ao fim e terão um para regresso a casa.
O NOS Alive regressará em 2026, no dis 9, 10 e 11 de Julho.
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Leiam aqui as reportagens do primeiro e segundo dia do festival.
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