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NOS Alive! 2017 | Dia 2 (07-07-2017)

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É bom chegar cedo ao Alive!, porque de outra forma não seria possível descobrir algumas surpresas como foi o caso dos Killimanjaro no Palco Clubbing, com o seu rock visceral e um vocalista (Zé) que dá ares ao Jack Black. São de Barcelos, está claro, ou não fosse essa a capital do rock.

Segue-se Calcutá no Coreto by Arruada, que apresentou as canções de “Over Night”, o EP editado em Maio. É uma folk minimalista, despida e que a espaços é banhada por uns teclados que conferem um apontamento electrónico e etéreo às suas canções. Depois há a voz de Teresa Castro, que se passeia sobre estas, como um doce sussurro.

Antes de voltar ao Clubbing há tempo para uma espreitadela rápida aos Lot no Palco Heineken. Há sintetizadores, teclados, um guitarra e um vocoder que vai fazendo das suas, mesmo que de forma súbtil. O som vai soando a uma tentativa frustrada de soar catchy mas sem nunca o conseguir efectivamente. Avançamos.

Os Cave Story já não precisam de apresentações. E “West” também não. É um álbum que transborda rock e canções com cabeça, tronco e membros, e é exactamente isso que a banda está ali para mostrar. É seguro dizer que quando à terceira ou quarta canção já o guitarrista está de joelhos a sacar uma distorção, a banda está desfrutar. Nós também.

Ainda há quem não conheça as Savages, obviamente, mas este concerto garantiu, com toda a certeza, mais seguidores para a banda e para aqueles que já seguiam o quarteto, a admiração só pode ter crescido. Intensas, directas, incansáveis e com Jenny Beth (mais uma vez!) a encher o palco. As Savages são daquelas bandas que dão tudo e deixam tudo mas que esperam receber de volta, por isso não é de estranhar que quando o concerto acaba sentimo-nos drenados da nossa energia; parece que estivémos naquele palco. É disto que os grandes concertos são feitos. Desde os primeiros acordes de «I Am Here», passando pela enorme «Shut Up», «I Need Something New» (e não precisamos todos, de tempos a tempos?). Pelo meio Jenny Beth desceu à plateia, andou por cima do público e também não faltou a referência à epifania que tiveram no concerto dado no Porto há uns anos e o quanto isso tornou este país especial para a banda. Nunca, em momento alguma perdeu a postura e o controlo. Gigante. E porque ali, naquele momento, parar era morrer seguiram-se «The Answer», «Hit Me», «No Face» e, já na sequência final, «Adore» e a incontornável «Fuckers». Agora há que recuperar o fôlego.

Lince é o nome de palco de Sofia Ribeiro, teclista dos We Trust e foi, para muitos uma agradável surpresa no Coreto. “Drops” é o EP de estreia, acabado de sair e trás-nos uma pop electrónica, limpa, bonita e definitivamente adocicada para o ouvido muito por culpa da voz da Sofia e do dedo inconfundível de André Tentugal.

Ainda não foi destas que as Warpaint conseguiram arrancar um grande concerto num festival. As canções estão lá; existem e são boas mas no momento de entregar parece sempre que fica a faltar algo. Desta vez pareceu sempre que as vozes, com um timbre mais agudo, estavam demaisado baixas relativamente ao resto dos instrumentos deixando-se muitas vezes envolver em demasia pelo som dos instrumentos. Felizmente o concerto teve alguns belos momentos como a sequência que teve início com «Krimson», dessa pequena mas essencial obra-prima das Warpaint, que dá pelo nome de “Exquisite Corpse”. Seguiu-se a magnífica «Undertow» e depois «So Good», «The Stall» e «Beetles». A boa disposição também não faltou, fruto do envolvimento e cumplicidade em palco de Emily Kokal, Theresa Wayman, Jenny Lee Lindberg e Stella Mozgawa, procurando desfrutar o concerto e do apoio que receberam da plateia desde o primeiro momento. Tivessem tocado a «Stars» e a  «Elephants» e se calhar nem nos lembrávamos questão do som!

Os Wild Beasts têm vindo a granjear um culto assinalável por cá, muito por culpa dos dois últimos álbuns, “Present Tense” e “Boy King”, que estiveram, naturalmente, na base do concerto (com o último a conseguir mesmo superiorizar-se). Os ingleses combinam uma pop electrónica, altamente melódica mas que não cai naqueles estereótipos fáceis. As canções têm personalidade e um cunho muito próprio, muito por culpa pela forma como a band combina as magníficas vozes de Hayden Thorpe e de Tom Fleming, que se complementam e desempenham um papel funcamental pela forma como conferem identidade própria. «We Still Got The Taste Dancin’ On Our Tongues» foi a única visita ao fundo do catálogo, mais precisamente ao “Two Dancers” de 2009. Talvez por “Boy King” ainda ser recente, foram as canções do seu antecessor que sacaram os maiores coros, com especial destaque para «Mecca» e «Wanderlust» mas não pensem nem por um momento que canções como «Big Cat», He the Colossus» ou a excelente «Alpha Female» foram recebidas com pouco entuasiasmo.

Os The Kills já actuavam quando chegámos ao Palco NOS, após o final do concerto dos Wild Beasts. São escolhas senhor, são escolhas! Em primeiro lugar é importante dizer que Jamie Hince e Alison Mosshart não sabem dar maus concertos e que tem aquele ar realmente cool de estrela do Rock’n’Roll. De qualquer maneira não deixou de ficar no ar aquela sensação que num palco mais pequeno a banda teria incendiado tudo, em vez de incendiar apenas algumas franjas. Basta lembrarmo-nos do concerto de há uns anos no Heineken: épico! No entanto havia um motivo forte para a banda estar naquele palco e isso iria ficar claro no concerto seguinte. Mesmo assim sabe sempre bem escutar rock assim, sem merdas, sabem? E «Black Balloon, «Echo Home» ou «Love is a Deserter» e «Black Balloon, estas duas últimas a fechar, foram demonstrações cabais disso mesmo.

Os Foo Fighters fazem parte de um grupo restrito de bandas que, depois de alguns altos e baixos e períodos mais conturbados, encontraram o seu equilíbrio e estão agora a envelhecer graciosamente. Mas não pensem que quero com isto dizer que se estão a acomodar. Nada disso. Antes pelo contrário mesmo! Dave Grohl, Taylor Hawkins, Pat Smear e companhia trataram de mostrar isso mesmo ao longo de mais de duas horas, com muito sentido de humor pelo meio, um alinhamento em versão best-of e algumas canções novas pelo meio. Foram elas «La Dee Da», que contou com a presença de Alison Moosshart em palco e «Run». Foi um concerto quase sempre  uma elevada velocidade, exceptio qundo Grohl lhe dava para falar ou até para improvisar, como por exemplo durante a apresentação dos elementos da banda, em que cada um tocou uns acordes de alguma canção conhecida (deu para escutar Queen e Ramones, por exemplo) ou no final, em que, ao longo de cinco minutos, Grohl manteve uma amen cavaqueira com a assistência, improvisando canções para acompanhar os cânticos que se faziam escutar. Logo de seguida fecharam com chave de ouro com a incontornável «Everlong» (o “The Colour and the Shape” continua e continuará no coração de muitos). «Times Like These» e «Learn to Fly» surgem logo no início e foram cantadas em uníssono. No bombo rosa da bateria de Taylor Hawkins, pontificava uma imagem com a cara de Dave Grohl, e que foi massacrada de forma incessante durante todo o concerto, obviamente. A espaços, no lado do palco surgia a filha de Grohl, com os protectores nos ouvidos e a vibrar tanto como o pai, que sempre que podia se metia com ela. Escutamos «Walk», «These Days», «My Hero» (!), «White Limo», «Arlandria» e batemos o pe´, batemos palmas, gritamos e abanamos a cabeça. Por outras palavras: estamos felizes. «Monkey Wrench» consegue elevar ainda mais esse estado de felicidade, que se mantém bem lá em cima até porque «Best of You» não tardou. Regressem sempre que quiserem!

 

Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.



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