rdb_novosfados_header

O Fado moderno já tem uma década

É fado, mas também é pop, é a canção de Lisboa, mas também é electrónica e world music, tem guitarra portuguesa, mas também tem muitos outros instrumentos, é Amália, mas também é Caetano Veloso. O novo fado já leva uma década de existência e nunca esteve de tão boa saúde.

Em 2006, o bodyspace, aproveitando o facto de o projecto A Naifa lançar um novo álbum, “3 Minutos Antes da Maré Encher”, entrevistou o falecido João Aguardela. No texto de introdução João Pedro Barros escrevia: “A Naifa teve o mérito de surgir na altura e no tempo certo, captando o zeitgeist do início do século: a fusão, a apropriação, a recuperação das músicas tradicionais/populares e a sua actualização”. Este é o novo fado, uma música que vem de lá de trás, mas tem os olhos postos no presente e no futuro. Num momento em que A Naifa regressam e Deolinda e António Zambujo editam novos discos, olhamos para o que se passou desde o início da década que passou.

A Naifa

Os A Naifa anunciaram recentemente o seu regresso aos palcos. Um ano depois da morte de João Aguardela, Luís Varatojo e Maria Antónia Mendes (ou Mitó, como é mais conhecida) fizeram regressar o projecto. Para a nova formação foram chamados Samuel Palitos, na bateria, e Sandra Baptista, a viúva de João Aguardela, no baixo. Mas vamos recuar. A história d’A Naifa remonta até 2004, aquando da edição de Canções Subterrâneas, uma pedrada no charco. Ao fado mais purista, A Naifa adicionava elementos electrónicos e uma apuradíssima sensibilidade pop. Dois anos volvidos e foi editado 3 Minutos Antes da Maré Encher, o segundo álbum do projecto. Finalmente, em 2008, surgiu Uma Inocente Inclinação para o Mal, o último capítulo da primeira vida d’A Naifa. No fim dessa primeira vida do projecto, o Expresso escrevia sobre o último álbum: “apesar da guitarra portuguesa (…) A Naifa está cada vez mais longe do fado”. É provável que fosse o caminho que João Aguardela propunha para A Naifa. Agora regressam para uma digressão nacional e preparam-se para editar um livro e um DVD. O livro reúne os poemas que originaram os temas dos três álbuns editados, testemunhos de fãs e fotografias de vários concertos. O DVD inclui um concerto ao vivo gravado em 2008 e um documentário de 2006.

Deolinda

Os Deolinda são um dos maiores fenómenos da música nacional dos últimos anos. A ideia surgiu em 2006, quando os irmãos Pedro da Silva Martins e Luís José Martins recrutaram a prima Ana Bacalhau (ex-Lupanar) para cantar um conjunto de canções. À equação juntaram Pedro Leitão, na altura também nos Lupanar. A partir de então praticam uma espécie de fusão entre a canção de Lisboa e a música mais tradicional. Assim, à guitarra clássica juntam-se instrumentos tradicionais como a viola braguesa, o ukulele e o cavaco. Canção do Lado (2008), o primeiro álbum, vendeu mais de 40 mil unidades e foi acalmado pela crítica.  O disco de estreia levou-os a países como a Holanda, Alemanha, Inglaterra e Suiça. Editaram Dois Selos e um Carimbo no passado dia 26 de Abril.

António Zambujo

António Zambujo nasceu em Beja, no ano de 1975, logo a seguir à revolução de Abril. Durante dez anos estudou Clarinete no Conservatório do Baixo Alentejo. Sobre António Zambujo, António Pires escreveu na Timeout: “ (…) em António Zambujo nota-se algo de diverso e inexplicável: uma voz que remete para o fado de Lisboa mas também para o cante alentejano, o fado de Coimbra, para Paulo Bragança e Caetano Veloso, para Antony Hegarty e Devendra Banhart”. Há algo de inclassificável no fado de Zambujo. É um fado que foge dos cânones a que estamos habituados. No seu blog, Caetano Veloso escreveu: “É um jovem cantor de fado que, intensificando mais a tradição do que muitos dos seus contemporâneos, faz pensar em João Gilberto e em tudo que veio à música brasileira por causa dele”.

Cristina Branco

Cristina Branco nasceu em Almeirim, no ano de 1972 e o fado começou por ser uma brincadeira: começou a cantar para os amigos. A propósito da edição de Kronos, no ano passado, André Gomes escrevia na revista Blitz: “é fado, mas até podia não ser. A voz de Cristina Branco transcende fronteiras impostas pelo género com uma destreza acessível a poucos”. A sua música, o seu fado vai do fado mais tradicional às canções populares. A fadista conta já com 15 anos de carreira, oito álbuns de originais e um outro que revisita a obra de José Afonso.

Donna Maria

Os Donna Maria começaram em 2003, quando Miguel Majer, Ricardo Santos e Marisa Pinto se juntam e baptizam o projecto de Azulejo Voador. Só aquando da edição do álbum de estreia, Tudo é para Sempre, mudam para o nome actual. Em 2005 participam no disco Amália Revisited, interpretando a canção “Foi Deus”. O segundo trabalho da banda chegou em 2007, chamou-se Música para ser humano. O disco incluiu participações de Rui Veloso, Rão Kyao e Luís Represas. Actualmente os Donna Maria estão à procura de uma sucessora de Marisa Pinto, a vocalista que decidiu seguir carreira a solo.

O’Questrada

São também catalogados de “novo fado”, mas cabem facilmente no rótulo world music. A banda prefere chamar-lhe “fado dos subúrbios”. Vêm da margem Sul, pois bem. Os O’questrada formaram-se em 2002, mas só em 2009 se lançaram nas lides discográficas com Tasca Beat – mais um rótulo original e com direitos reservados. Os quase 10 anos de história do quinteto de Almada fizeram-se essencialmente na estrada. Passaram por França, Espanha, Macau, Sérvia, China e, certamente, por uma tasca bem perto de si.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This