Sharon Van Etten @ Lux (26.9.2012)
“Tramp” é um do grandes discos de 2012. Tomem-no como uma verdade absoluta. Posto isto, urgia escutá-lo ao vivo e o cenário escolhido foi o Lux, perante uma plateia que não chegou a esgotar mas que não ficou longe disso
As canções de Sharon Van Etten são diferentes pela forma como, através delas, consegue partilhar e ao mesmo tempo exorcizar os seus demónios, medos e incertezas com o resto do mundo. Sharon Van Etten parece ser daquelas pessoas que por vezes duvida de si própria. Isso fica desde logo evidente quando entra em palco, com um “Obrigado” quase sussurrado, um sorriso tímido e um tão simples, quanto revelador “I hope you don’t hate this”. Não odiámos nada. Antes pelo contrário.
O relógio marca 22h45 por esta altura. A acompanhar Van Etten em palco estão um baterista, um baixista e uma teclista e pelos nossos ouvidos entram os primeiros acordes de «All I Can», canção do soberbo “Tramp”. Escutamos “We all make mistakes / We all try to free / The sighs of the past / We don’t want to last.”, fechamos os olhos e deixamo-nos levar. Sabe tão bem.
Sharon Van Etten tem um ar calmo e sereno, sempre com uma guitarra nas mãos. Veste umas calças de ganga e um camisa branca. Parece genuinamente feliz. Mesmo a sério. De tal forma que essa felicidade, subtil mas palpável, começa a espalhar-se pela plateia.
Prossegue, para nosso deleite, com «Warsaw» e «Save Yourself». Cada canção esconde um desabafo, uma afirmação. São canções com uma estrutura clássica mas que despertam sentimentos e emoções. Não conseguimos ficar indiferentes. É uma doce melancolia que se faz sentir. Magnífico.
Por esta altura surgiram os elogios da praxe a Lisboa e houve inclusivamente tempo para uma italiana presente na assistência questionar, com sentido de humor, o porquê de Van Etten ainda não ter ido a Itália. Tudo acabou entre muitos risos e com a dedicatória de «Leonard» ou “Leonardo”, num registo mais italiano.
Seguiram-se «Peace Sign», «Magic Chords» e «Don’t Do It». A voz de Sharon Van Etten soa realmente bem. Não entra em excessos e conhece os seus limites. «Ask» não só nos demonstra isso, como nos leva a pensar que, nalgum momento da nossa vida, nos sentimos assim: “It’s not that I don’t try, it’s that you won’t again / And it hurts too much to laugh about it”.
A sequência final que antecedeu o encore foi simplesmente arrebatadora. «Give Out» é uma canção tão grande que nos faz sentir mesmo pequeninos. Arrepia. «Serpents» é assertiva na agressividade que transmite. «I’m Wrong» dá espaço a um pouco de experimentalismo. Tem-se distorção e alguma cacofonia, com cada elemento em palco virado para o seu lado, como que alheados uns dos outros mas na realidade estão todos a caminhar na mesma direcção. Tudo termina num clímax absoluto que nos deixa a salivar por mais. Felizmente o encore estava ali mesmo ao virar da esquina.
«One Day», que já tinha sido pedida anteriormente, foi a canção escolhida para o regresso ao palco e foi apresentada como sendo a canção preferida da mãe de Sharon Van Etten. É uma canção diferente das restantes. Encerra em si um travo country que lhe assenta que nem uma luva. Por esta altura é claro que Sharon Van Etten continua feliz e decide perguntar o que preferimos para o final: melancolia ou rock. A resposta foi óbvia… ambos. E assim foi, com «In Line» e «Love More». Adivinhem o que veio no final… Isso mesmo, foi a melancolia, a doce melancolia…
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados