Teatro Rápido | Maio de 2013
um ano depois da Felicidade, Mater é o tema do mês
Para quem acompanha o Teatro Rápido (TR) praticamente desde o início, é fantástico ver como as salas se transformam, de um mês para o outro, e como há ainda tantas estórias para contar e viver na Rua Serpa Pinto, 14.
“Mater” é o tema do mês durante o qual o TR sopra as velas do primeiro aniversário. Parabéns!
Sala 1 – “Debaixo de água” + info
“Debaixo de água” apresenta-nos um texto de Mariana Rosário e encenação de Eduardo Frazão: ambos protagonizam os dois irmãos, a banhos com as memórias de uma mãe que não se teve. Nesta peça somos convidados a mergulhar num banho que não purifica nem lava a alma: perturba-nos e deixa-nos inquietos. Este banho não lava coisa alguma.
Não sabemos bem de que lado nos devemos colocar ou até se é possível “escolher um lado”: o da mãe? O da irmã? O do irmão? Os actores conseguem vestir as personagens de forma crua e bruta e acabam por dar voz e corpo a uma mãe que não está presente na peça, assim como não esteve presente na vida dos dois irmãos.
A cenografia é simples e ao mesmo tempo genial; Hugo F. Matos transforma a sala 1 num espaço cénico digno de uma curta-metragem, com a luz e a escuridão necessárias para que a acção se desenrole de forma adequada às palavras e aos gestos dos actores.
A equipa conta, ainda, com a assistência de encenação de Filipa Marcos.
Sala 2 – “nana (canção de embalar)” + info
O texto é da autora espanhola Itziar Pascual e foi traduzido por Júlio Martín da Fonseca. Em “nana” encontramos as actrizes Joana Castro e Sofia Valadas, sob a direcção de Silvina Pereira. O projecto surge como um encontro entre o Teatro Maizum e o Centro de Estudos Comparatistas. Não é a primeira vez que um texto de Itziar é representado em ambiente de microteatro: as suas palavras já fizeram eco no MicroTeatro por Dinero, em Madrid.
Duas mulheres encontram-se num consultório; amigas de longa data cujos percursos de vida conduziram ao seu afastamento, acabam por se questionar sobre o sentido da vida: o da sua vida e da vida que transportam no ventre. Embalam a perda com canções de embalar, entre uma música dos Rolling Stones e a juventude que ficou lá atrás. Joana e Sofia estão à altura de um texto que, quanto a nós, não lhes permite ir muito mais longe.
A peça poderá ser representada em Espanhol ou em Português – informem-se junto da bilheteira.
Sala 3 – “Gisberta” + info
“Gisberta” é, sem dúvida, das melhores peças que já vimos em teatro nos últimos tempos. Rita Ribeiro arrebata-nos com uma interpretação de arrepiar, com uma atenção e cuidado no olhar e no dizer. As palavras são de Eduardo Gaspar, que assina também a encenação.
Durante o monólogo, Rita interpreta Alzira, uma mãe perdida entre a dor e o desgosto; uma mãe incapaz de perdoar a deus ou a si mesma por nunca ter aceite a vontade de ser “do seu menino”. Alzira é a mãe da transexual Gisberta, cuja vida terminou de forma violenta e bárbara, há 7 anos, no Porto.
“Gisberta” é um atropelo de emoção e de verdade. E de respeito pela dor e pelo amor. Não estranhem se saírem da sala 3 com um enorme aperto no coração e a alma lavada em lágrimas. A cenografia, a encenação, o texto e a magnífica interpretação de Rita Ribeiro podem ter esse efeito secundário: fazem com que nos sintamos humanos, em toda a sua fragilidade, mas também em consciência.
Sala 4 – “A-bor-todas” + info
Não, não estão num filme de Almodóvar. Estão mesmo na sala 4 do TR. Pilar Contreras Garrido, Blanca Escobar Mengual e Alba Novoa Fajardo representam três mulheres que se encontram numa sala de espera, com um objectivo comum: abortar. As três transportam gravidezes indesejadas e durante a peça ficamos a conhecer o porquê desse (in)desejo. O texto é de Alberto Sogorb Jover e faz-nos viajar pela verdade e pela mentira da vida destas três mulheres, com um humor absurdo e bem conseguido.
Tal como acontece com a peça da sala 2, também “A-bor-todas” poderá ser representada em Português ou em Espanhol – informem-se junto da bilheteira.
O microteatro está a crescer pelo mundo fora: Alexandre Gonçalves teve visão para “importar” o conceito depois de uma viagem a Madrid onde conheceu o MicroTeatro por Dinero; em Abril, no México, surgiu o MicroTeatro México.
A Rua de Baixo dá os parabéns ao Teatro Rápido pelo seu primeiro ano de vida, com um agradecimento especial a todos os dramaturgos, encenadores, cenógrafos, actores, designers, cantores, músicos e artistas de toda a espécie que têm animado o Chiado e proporcionado momentos de muita qualidade a quem por lá passa.
A programação completa do TR em Maio pode ser consultada aqui.
Fotografia de Mário Pires
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