Vodafone Mexefest 2015 | Dia 1 (27-11-2015)

Vodafone Mexefest 2015 | Dia 1 (27-11-2015)

Começo tardio para um final épico!

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Ano após ano o Vodafone Mexefest ainda nos consegue surpreender. Com um cartaz coeso, ecléctico e depois com os locais onde os concertos têm lugar. O Tanque como um espaço único e espectacular pela envolvência que cria, a beleza ímpar e deslumbrante da Sociedade de Geografia, a imponência do Tivoli e do Coliseu ou reverência da Igreja de São Luís dos Franceses. Cada local, à sua maneira é certo, consegue conferir uma aura única a cada concerto e isso é uma tremenda mais-valia que este Mexefest tem.

O primeiro dia começou um pouco mais tarde do que o habitual, tudo porque estivemos numa conversa com os Chairlift (vão poder ler tudo por aqui muito em breve) que demorou um pouco mais do que o esperado.

Enquanto a conversa decorria, a equipa dividia-se e seguia para ouvir Janeiro na Casa do Alentejo e para a primeira agradável surpresa de um festival que prima por nos dar a conhecer música nova. Com uma voz seguríssima e melodiosa, Henrique dá-nos um concerto que alterna entre o divertido e o lamechas (em bom) e viu-se rodeado de muitos convidados em palco que davam o seu cunho pessoal sem ainda assim se imporem. Na mais bonita música que nos foi possível ouvir antes de correr para outro espaço, Nana Sousa Dias e o seu saxofone ajudaram a criar um ambiente perfeito que nos deixou com vontade de acompanhar de perto.

Salto rápido para ouvir Tó Trips na Sociedade Geográfica de Lisboa e satisfazer a curiosidade de quem há muito já só o vê apenas com a segunda metade de Dead Combo. Infelizmente, para nós, a sala estava já demasiado cheia e o lugar disponível não permitia praticamente ver o que se passava em palco. O som também não ajudava; estava demasiado baixo e pouco límpido. Do que ouvimos, deu para perceber que Trips estava igual a si mesmo, a tratar a guitarra por tu e a encher a sala de uma doce melancolia.

Já passava das 21h quando entrámos no Tivoli para ver LA Priest o projecto indisciplinado de Sam Dust (ex-Late of the Pier). Atenção à forma como devem encarar a noção de indisciplina neste contexto. Ser indisciplinado pode abrir outras portas, pode ajudar a remover barreiras mentais, pode ajudar a arriscar. E é exactamente isso que Dust faz. Arrisca. Pega na electrónica e transforma-a e molda-a. As canções têm estrutura; um princípio, um meio e um fim mas não se limitam a um estilo. Há electrónica como ponto de partida, como matriz. Depois há devaneios punk, electro ou até piscar de olhos ao disco. O resultado foi o esperado: quase toda a gente de pé a desfrutar e a dançar.

Ao mesmo tempo, do outro lado da Avenida, o trio que forma os irlandeses Villagers preparava-se para encantar uma quase cheia sala Manoel de Oliveira no Cinema São Jorge, e tão bem que o fizeram. A maioria das letras das suas músicas são tristes, mas adornadas de uma beleza marcante, como o próprio Conor O’Brien referiu em palco (“mais uma canção incrivelmente deprimente”). Há também espaço para algum rock, mas aqui a folk é rainha.

Os Chairlift são uma banda com ideias bem definidas. Um álbum não deve ser um reflexo do anterior mas sim uma evolução. E é isso que pretenderam mostrar, a começar desde logo pela formação da banda em palco, com 4 elementos, um deles um saxofonista de Jazz com uma vincada influência no som que se escuta. Foi uma escolha arriscada a que Caroline Polachek e Patrick Wimberly fizeram para o alinhamento que apresentaram no palco do Coliseu dos Recreios, quase todo centrado no álbum (“Moth”) que será lançado em Janeiro. Se tivermos em conta que muitas das pessoas que estavam ali esperavam ouvir as canções de “Does You Inspire You” e “Something” é fácil imaginar a desilusão que se instalou gradualmente pela sala. É verdade que «Ch-Ching» é uma canção que se entranha com facilidade, porém o mesmo já não acontece com as restantes, com a agravante de a banda ainda procurar um natural equilíbrio e coexistência para elas.

Os Ducktails são Matt Mondanile, dos Real Estate. Esta expressão já encerrou em si uma maior verdade. No início, Ducktails era uma abordagem solitária e centrada na electrónica. Desde há algum tempo para cá, existem sobre a forma de banda (com um baixista com o melhor corte de cabelo de todo o festival!) e acaba por se aproximar muito mais daquilo que são os Real Estate sem que, no entanto, consiga atingir o brilhantismo destes. Há aqui uma maior liberdade para experimentar e improvisar, é certo mas também não é menos verdade que as canções tendem a cair num registo demasiado monótono e homogéneo, à excepção daquelas em que os teclados são chamados. Nesses momentos os Ducktails ganham vida, e mais importante do que isso, personalidade num lo-fi etéreo mas muito apetecível.

Paralelamente tocavam no Ateneu os Demob Happy para uma sala bem composta, apesar de tudo o que se passava no restante festival. Não há muito a dizer sobre este concerto, até porque foi dos que nos deixou suados e com os tímpanos a pedir clemência. Foi energia pura com o seu único registo, “Dream Soda” a ser bebido de um só trago apesar da distorção sentida no ar não os ajudar por completo.

Por esta altura uma força maior levou-nos até ao Palácio Foz para aceitar a sugestão de Rui Miguel Abreu e conhecer Nerve, naquilo que se revelou como o concerto mais inesperado e inexplicável da noite. Inesperado porque, confessamos, o nome tinha-nos passado no alinhamento e pelo desconhecimento; inexplicável porque ainda estamos a tentar perceber como, sozinho com um microfone e a sua beat box, Nerve disparou durante perto de uma hora letras tão certeiras e agressivas de forma tão perfeita e perceptível e tão encaixadas com os samples e beats que consigo trazia. Houve também espaço para o amor, mas “um bocadinho estragado”.

Sozinho em palco destilou “Trabalho & Conhaque ou A Vida Não Presta” & “Ninguém Merece a Tua Confiança” e diz-nos, numa das músicas, que tem um amigo imaginário que lhe escreve as letras. Que o amigo o visite repetidamente. Escusado será dizer que o álbum tem aqui rodado incessantemente e que em Janeiro estaremos na ZDB para o ouvir de novo.

Para fechar a primeira noite de concertos optámos pelos Titus Andronicus em vez de Benjamin Clementine (com um Mercury Prize ainda quentinho na bagagem). Porquê, poderão vocês perguntar. Porque a banda de New Jersey é um imenso furacão em palco. Porque queríamos verificar se as paredes do Ateneu se aguentavam em pé. Porque queríamos ouvir punk como deve de ser. Porque queríamos pular e abanar o capacete até mais não. Porque queríamos escutar guitarras soltas, loucas e tocadas com uma energia e empenho contagiantes (são três ao todo e podem ser tocadas em qualquer posição). O mais próximo que houve de um momento calmo foi quando se escutou «No Future Part Three: Escape From No Future» e sabem que mais? Ainda bem, porque foi épico!

Fotografia de Graziela Costa



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