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Vodafone Paredes de Coura 2019 | Dia 2 (15.08.2019)

Havia muita gente, muita mesmo, que sonhava com uma aparição dos New Order.

O segundo dia abriu com os mui aguardados Khruangbin, cujos instrumentais psicadélicos e sensuais foram pintando de variadíssimas cores o entardecer, sempre bonito quando enquadrado no anfiteatro natural de Paredes de Coura. Foi um horário especialmente prazenteiro, durante o qual a esmagadora maioria dos presentes desfruta da frescura da relva, deixando-se hipnotizar pelos ritmos e loops orgânicos destes texanos arraçados de orientais.

Ao palco Vodafone FM, chegava de emergência, mas de óptima saúde, Stella Donnelly. A galesa-australiana foi convocada para suprimir o cancelamento forçado de Julien Baker, e desde o início que aplicou toda a sua energia em mostrar que estava à altura do difícil desafio, como a própria o catalogou. As canções interpretadas pertenceram ao seu álbum debutante, “Beware of the Dogs”, variando entre temas teoricamente mais pesados, e outros com traços mais leves e frescos, entre as quais sobressai a potente «Boys Will Be Boys», juntamente com a sua importantíssima mensagem. Mais uma vez, fomos surpreendidos pelo número de pessoas conhecedoras do trabalho de artistas não tão visíveis, algo que voltou a acontecer em Paredes de Coura, após algumas edições com público mais difuso.

Os Alvvays invadiram, entretanto, o palco Vodafone, por onde encantaram a plateia mercê das suas canções com sabor a algodão doce, repletas de sonhos, sentimentos e cor. «In Undertow», «Archie, Marry Me» e, especialmente, «Dreams Tonite» são belíssimas canções, capazes de perfurar o coração de qualquer ouvinte minimamente atento.

Por seu turno, Boy Pablo montou um verdadeiro arraial no palco secundário, utilizando de forma eficaz o seu indie pop com sabores tropicais, contando com uma moldura humana a assistir que se mostrou extraordinariamente atenta e dedicada, fazendo questão de participar na festa. Não terão sido muitas as vezes que a zona onde se situa normalmente o referido acolheu tamanha multidão. Além dos trunfos da própria banda, o líder Nicolas Pablo Muñoz aproveitou para interpretar o seu recente single confecionado a meias com Jimi Somewhere. Uma banda que, acreditamos, regressará muito em breve.

Os Car Seat Headrest voltavam a pisar o palco Vodafone passados meros dois anos desde a última visita, num acto de repetição que nem sempre é visto com bons olhos. No entanto, tendo em conta a revolução que Will Toledo tem operado no seu catálogo durante os últimos meses, a expectativa vivia da curiosidade de observar essas novas roupagens. E foi quase tão bom como a última vez, ao longo de um alinhamento praticamente repartido entre “Teens of Denial” e “Twin Fantasy”, que revelou menos explosões, mais motivos electrónicos, e um refinar das melodias que podem nem sempre receber o devido valor no meio das distorções dos primeiros tempos. Mais um concerto de mão cheia do agrupamento do prodígio Will Toledo.

Havia muita gente, muita mesmo, que sonhava com uma aparição dos New Order. Algo que se percebe, dada a escassez de actuações dos artistas de Manchester por cá. O Vodafone Paredes de Coura concedeu-lhes essa chance, numa verdadeira celebração que atravessou gerações de melómanos. Como seria de esperar, a banda de Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris picou o ponto pelos êxitos essenciais, ainda que com um cardápio do tamanho dos New Order existam sempre canções adoradas que ficam de fora, conseguido simultaneamente dar destaque ao trabalho de estúdio mais recente, “Music Complete”. E, obviamente, o legado dos Joy Division foi igualmente agraciado no habitat natural da música, até porque seria crime não o fazer, com realce para o encore formado por «Atmosphere» e «Love Will Tear Us Apart». A alegria ficou assim completa ao repartirem as atenções pelo espólio destas duas bandas monstruosas, numa performance com uma forte componente visual, que acompanhou devidamente as canções.

Para encerrar o palco Vodafone nesta segunda jornada em Paredes de Coura, uma outra espécie de celebração: a de uma banda nacional no pico da sua forma, algo que nos aquece sempre o coração. Os Capitão Fausto tiveram essa honra, e não pararam de debitar sucessos atrás sucessos, fazendo-nos ter uma melhor noção da máquina que são nesse aspecto. Desde as mais antigas às mais recentes, o quinteto patenteia uma solidez e um nível elevado, à boleia das suas melodias cativantes, que culminaram em êxtase com uma operação de crowsurfing por parte de Tomás Wallenstein, dando asas à adrenalina. Um concerto certamente para relembrar, mesmo para quem não tenha boa memória.

Podem encontrar as reportagens do primeiro, terceiroquarto dia aqui.



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