Vodafone Paredes de Coura 2019 | Dia 3 (16.08.2019)
O primeiro fôlego do palco principal no terceiro dia de festival foi dado pelos First Breath After Coma, que vieram ao Minho exibir o seu superlativo momento de forma. Consigo trouxeram um dos seus conhecidos colaboradores, Noiserv, que adornou ainda mais o momento, sacando inclusivamente da sua guitarra. São, sem sombra de dúvida, uma das bandas mais estimulantes do panorama nacional, com um crescimento e um trajecto sempre inovador a cada álbum. Arriscam, têm gozo nisso e, por conseguinte, desfruta um público cada vez mais lato também.
Seguiu-se, no mesmo palco Vodafone, Jonathan Wilson. Devido ao gostinho que “Rare Birds” nos deixou na boca, a expectativa era elevada e, quiçá por isso, saiu meio defraudada. O músico californiano apenas logrou a espaços transportar a envolvência mágica do disco para o palco, parecendo faltar alguma fagulha que catapultasse a prestação ao vivo. Ficámos agora com a curiosidade de reavaliar num concerto em sala.
Uma das bandas em ascensão, não apenas no Reino Unido como já a nível global, são os Black Midi, que formam as suas composições a partir de jam sessions, que começaram a ter um fio condutor mais visível quando começaram a registá-las em estúdio. Até aí nem títulos as faixas tinham, por exemplo. Explicando de forma básica, imaginem uns Foals em ácidos. Não tivemos o privilégio de assistir a toda a actuação, mas juntando a nossa impressão com outros ecos que fomos ouvindo, a formação britânica surpreendeu e exibiu de modo positivo as suas ideias.
A noite caía, entretanto, e parecia um evento sincronizado para tornar ainda mais hipnotizantes e mágicas as viagens sónicas que os Deerhunter organizaram a partir do palco principal. Pululando essencialmente entre o disco “Halcyon Digest”, de 2010, e o trabalho editado em Janeiro, “Why Hasn’t Everything Already Disappeared?”, o colectivo de Atlanta foi elaborando um dos concertos mais sólidos desta edição, quase sem se dar por isso. Mas o desfiar do alinhamento ia provando que a qualidade entre os temas se ia mantendo elevada. Aplausos extremamente merecidos para Bradford Cox e companhia.
Seguia-se no horário do palco Vodafone um nome quase mítico da cena alternativa: os Spiritualized, reaparecidos no ano passado através do excelente “And Nothing Hurt” após meia-dúzia de anos parados, como sempre comandados pelo génio de Jason Pierce. O maestro dos Spiritualized jogou de cadeirinha, utilizando o glossário futebolístico, como apenas artistas superiores conseguem, e foi encaminhando a banda para um digníssimo concerto. Com uma forte e brilhante componente gospel (capitalizada com uma versão do clássico «Oh Happy Day»), mercê de um trio de vozes femininas absolutamente imaculado, os temas da banda ganharam ainda mais pujança, para além das regulares explosões sónicas.
Tendo assinado uma estrondosa performance em 2015 no mesmo palco, Father John Misty regressou ao Minho como cabeça de cartaz, num gesto que reflecte o seu crescente peso como compositor exímio. Ladeado por uma excelsa secção de metais, a personagem encarnada por Josh Tillman pautou-se por uma exibição menos fogosa como frontman, apesar de alguns fogachos na recta final do concerto durante «Holy Shit» e o sempre sublime «I Love You, Honeybear». À imagem do concerto de The National, não deixámos de sentir alguma falta de frescura, muito provavelmente provocada pelas constantes vindas de Father John Misty ao nosso país, parecendo que ambas as partes possam necessitar de um intervalo para reacender a chama.
Podem encontrar aqui as reportagens do primeiro, segundo e quarto dia aqui.
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