18 anos de Zé dos Bois

18 anos de Zé dos Bois

“18 anos é um bom momento para pensarmos um bocadinho, e para festejarmos também”

Em 1994 surgia uma associação cultural que se diferenciava do panorama em que estava inserida. Focada nas artes visuais e de performance, bem como na Música e no Cinema em todo o processo (desde a criação até à apresentação), acabaria por fixar-se no antigo Palácio Baronesa de Almeida, em pleno Bairro Alto, há cerca de 15 anos atrás. Seria aqui que viriam a nascer e a acontecer propostas à margem dos habituais moldes de criação artística, situados a uma distância segura de interesses que divirjam do produto artístico.

Foi este o pretexto para a Rua de Baixo fazer uma visita à Galeria Zé dos Bois e falar com a Daniela Ribeiro e a Joana Botelho, respectivamente da comunicação e produção, e da administração e parcerias. Parte de uma equipa que se tem regenerado ao longo dos 18 anos percorridos, relembraram-nos que a missão continua intacta: o investir no processo da arte, na produção e criação. Isto porque a colaboração com os artistas se faz “em moldes muito peculiares”, num trabalho a longo prazo que acontece em paralelo com as eventuais apresentações.

ZDB
Fotografia por Luís Martins

Tudo isto se divide em vários domínios: no Negócio, espaço de criação e apresentação de artes performativas; na Música, através de uma frequente programação de concertos; nas Artes Visuais, com a produção e acompanhamento do processo criativo e eventuais exposições e Residências, no piso superior onde os artistas têm o seu espaço de criação transversal aos vários campos; e também no Serviço Educativo, que traz os mais pequenos à Galeria e que leva a que “não haja nenhum miúdo aqui do bairro que não saiba o que é a ZDB”.

Um programa anual de Residências permite a uma média de 10 ou 15 artistas ter apoios à criação: muitos deles estreantes e alguns deles repetentes. E chegam das mais variadas formas: ora os próprios artistas se propõem, ora são descobertos pelos olhos atentos da programação nos vários quadrantes da ZDB. “Não há só uma via para ZDB começar a colaborar com os artistas”, e é também este carácter orgânico que dita o contexto da criação.

Mas isto também sai da Galeria para fora: como daquela vez em que arranjaram uma casa e um piano para a Grouper na Costa Vicentina. E funciona em rede: em rede com outros espaços (como o teatro Maria Matos ou o Centro Cultural de Vila Flor) e em rede com outras estruturas (como é o caso da Amplificasom e a Lovers & Lollypops).

ZDB

“Com menos que muita sede, no cu do mundo”, de Filipe Felizardo, integrado na exposição “Tem calma o teu país está a desaparecer” – Fotografia por Mariana Fernandes

Também o público tem um papel muito importante neste processo, e revela-se bastante atento (foi por ele que se instalou o ar condicionado), quer através de um diálogo directo quer através de estudos de público. Joana revelou-nos que há uma tentativa de congregar os vários interesses, tentando levar os espectadores dos concertos para a galeria e vice-versa. Será este público fiel (afinal, a ZDB trata-se de uma associação que possui imensas vantagens para os seus sócios) que acabará por marcar também ele a programação da ZDB.

“Trouxemos cá projectos que de outra forma nunca tinham vindo, que as pessoas nunca tinham visto”, diz-nos Joana e temos de concordar. A ZDB ainda ocupa um espaço particular em Lisboa na vanguarda de novos espaços que foram surgindo e acaba por fazer a ligação entre outras estruturas de critérios muito dispares. É, acima de tudo, um “Centro Cultural”.

E este aniversário, é de panorama ou de vanguarda?

“As duas coisas”, dizem-nos. Há o revisitar os artistas com quem trabalham há muito tempo (“os nossos amigos”), mas também existem novas propostas. Isto reflecte um pouco a identidade da ZDB e está materializado na exposição “Tem calma o teu país está a desaparecer”, que pode agora ser vista na Galeria e conta com obras de artistas actualmente em Residência no piso superior do edifício (Tiago Baptista e Filipe Felizardo à cabeça), de artistas cuja colaboração com a ZDB é de longa data (ver João Maria Gusmão e Pedro Paiva, que estiveram em Veneza em 2009 sob curadoria de Natxo Checa; ou Alexandre Estrela e Gonçalo Pena, entre bastantes outros) e novos amigos da Galeria. É uma junção com toda uma dimensão de reflexão política, tão importante na actualidade, mas que é “nada nostálgica, são só momentos de reflexão”.

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“Uma Lâmpada no Deserto”, de João Maria Gusmão & Pedro Paiva, integrado na exposição “Tem calma o teu país está a desaparecer” – Fotografia por Mariana Fernandes

Neste momento, o Negócio está a cargo da Residência de Carlota Lagido e Miguel Bonneville, que vão apresentar a performance (“Room Full of Dirt”) no final do mês, sucedendo a Rui Pinha Coelho e Gonçalo Amorim, que acabaram no passado mês “Um espectáculo para os meus compatriotas”. Para Dezembro, entra John Romão para estrear a sua nova peça, “Eu não sou bonita. Sou o Porco.”

Na música, decorreu no primeiro fim-de-semana desde mês o festival Sonic Scope (que promete regressar muito em breve), e ainda The Ex (no dia 14), Nobuyasu Furuya Quintet (no dia 16) e Japanther (dia 18). Ainda este mês há para ver U.S. Girls e Slim Twig (dia 22), e para Dezembro fica a visita de Shannon Wright (dia 5); os Metz passam pela ZDB no dia 13 de Fevereiro do próximo ano.



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