A Cinemateca com o DocLisboa: Chantal Akerman
Autora de uma vasta obra que ultrapassa já os quarenta filmes que cruzam o documentário e a ficção, Chantal Akerman é uma das mais importantes cineastas da atualidade. Partilhando o espírito de uma geração pós-Nouvelle Vague, as suas obras revelam uma experimentação narrativa, uma inventividade formal e um rigor na observação documental da realidade, que fazem delas objetos únicos, que se distinguem pela relação complexa que mantêm com tudo o que filmam.
Nascida na Bélgica em 1950, o visionamento de PIERROT LE FOU terá sido determinante para a vontade de Akerman de fazer cinema. SAUTE MA VILLE, a sua “explosiva” primeira curta-metragem (que abre o programa da Cinemateca) convoca, desde logo, um conjunto de questões a que será fiel ao longo dos anos: a importância das vivências pessoais para um cinema imbuído de uma profunda dimensão autobiográfica; um burlesco devedor do “mudo”; um olhar crítico sobre a representação feminina; e uma certa virulência que, aliada ao cómico, será portadora de uma verdadeira singularidade. No início da década de 70, a partida de Akerman para os Estados Unidos ditará uma maior reflexão sobre as formas cinematográficas, que se manifestará diretamente em filmes como LA CHAMBRE, HOTEL MONTEREY e NEWS FROM HOME. A própria Akerman escreverá a esse propósito: “O encontro com os Estados Unidos, ou mais concretamente com Nova Iorque foi tão interessante como PIERROT LE FOU… Nova Iorque e alguns filmes como os de Michael Snow (WAVELENGHT, LA REGION CENTRALE), Brakhage, etc.” As influências do cinema estrutural, e em concreto da obra de Snow, são bem notórias no seu “período americano” e na herança que deixam para o futuro, mas será importante referir um outro encontro determinante: o com Babette Mangolte, que assina a fotografia destes três filmes, e que se tornará uma colaboradora habitual.
De regresso à Europa, Akerman realizará JEANNE DIELMAN… que, pela sua radicalidade e minimalismo, marcará decisivamente a sua obra, inscrevendo o seu nome ao lado dos maiores vultos do cinema moderno. A comédia musical ficará associada aos anos 80 (GOLDEN EIGHTIES e toda uma série de filmes-satélite como LES ANNÉES 80 ou FAMILY BUSINESS) e é na década de 90 que inicia uma “série” de importantes documentários sobre lugares longínquos, como D’EST (1993), SUD (1999) e DE L’AUTRE CÔTÉ (2002). Em paralelo realiza alguns dos seus mais ambiciosos filmes de ficção (UM DIVÃ EM NOVA IORQUE, A CATIVA, AMANHÃ MUDAMOS DE CASA), todos com estreia em Portugal. LA FOLIE ALMAYER, a sua mais recente longa-metragem, tem estreia marcada para este mês.
Embora a Cinemateca tenha já exibido muitos dos filmes de Akerman, chegou agora a altura de uma retrospetiva integral organizada em parceria com o Doclisboa, que nos permitirá ver muitas raridades da sua filmografia e perceber o carácter multifacetado da obra da cineasta. A um conjunto de nove sessões, repetidas na Culturgest e na Cinemateca, soma-se assim um vasto programa que, iniciado em outubro, se prolongará na Cinemateca pelo mês de novembro.
Chantal Akerman Par Chantal Akerman | Aujourd’hui, Dis-Moi / Dis-Moi
duração total da sessão: 108 min
Le Marteau | Letters Home
duração total da sessão: 100 min
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