“Apenas miúdos” | Patti Smith
A mais bela homenagem à amizade verdadeira
Patti Smith está, para o rock, assim como Jim Jarmush estará para o cinema independente. Reconhecida pela fusão do espírito do rock ´n´ roll com a poesia em carne viva, Patti tem construído uma carreira exemplar sempre ligada à arte.
Para lá da sua faceta de cantora e compositora, atravessada já pela edição de doze longas-duração, Patti teve desenhos seus expostos em locais tão prestigiados quanto o Gotham Book Mart ou o Andy Warhol Museum que, em 2008, foram alvo de uma mostra, com fotografias e instalações da sua autoria, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. Publicou vários livros de poesia e, entre os maiores sinais exteriores de reconhecimento, recebeu a mais alta distinção da República Francesa no campo das artes e passou, também, a ter lugar cativo no Rock ´n´ Roll Hall of Fame.
Já em 2010, Patti Smith editou aquele que constitui o seu primeiro livro em prosa: “Apenas amigos” (Quetzal, 2011 – reedição 2014), premiado com o National Book Award. Um livro de memórias que, acima de tudo, nos revela uma amizade à prova de bala, numa homenagem como poucas às promessas que, mesmo tendo ganho um selo de impossibilidade com o avançar dos anos, ainda são cumpridas.
Estamos no Verão em que morreu Coltrane, aquecido pelo amor livre e arrefecido pelos motins, ano em que Patti Smith conhece Robert Mapplethorpe, rapaz que se viria a tornar um lendário fotógrafo e, acima de tudo, um inseparável companheiro de juventude.
O livro regressa aos tempos em que Patti estava longe de se tornar uma deusa do rock, viajando do amor da oração ao amor aos livros, tendo uma gravidez de aluguer, conhecendo a fome e dormindo em bancos de jardim, mantendo os seus heróis – James Joyce, John Lennon, Wlliam Blake ou Arthur Rimbaud – aprisionados em molduras, frequentando com Robert o Hotel Chelsea – um antro de genialidade – até que, num concerto de Jim Morrisson – a quem olha num misto de afinidade e desprezo -, decide que conseguirá fazer o mesmo se se der ao trabalho.
“Apenas miúdos” é a história de dois jovens que sempre acreditaram que a arte lhes estava destinada e lutaram por ela, livro escrito numa linguagem poética, sincera e intuitiva que nos transporta à mítica viragem dos anos 60 para os 70, onde todos os sonhos pareciam ser possíveis de realizar.
Patti prometeu a Robert que, um dia, escreveria a sua história comum. A promessa foi cumprida com distinção e lágrimas – da escritora e dos leitores -, numa comovente homenagem a um amor que resistiu a todas as atribulações e partidas do destino. Verdadeiramente tocante.
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