“Anna Karénina” | Lev Tolstoi
Cheira a clássico
Por muitos considerada a obra-prima do escritor russo Lev Tolstói, “Anna Karénina” (Editorial Presença, 2014) continua, mais de 100 anos após a sua publicação, a encantar os leitores que se aventuram a percorrer as suas – nesta edição – quase oitocentas páginas.
Escrito entre 1872 e 1877, “Anna Karénina” apresenta um retrato ímpar da sociedade russa de finais do século XIX, uma época marcada por mudanças e reformas profundas a nível económico, social, cultural e psicológico. Tolstói apresenta, de forma densa e brilhante, os vários estratos da população, tocando nas suas tendências ideológicas, aspirações sociais e actividades económicas, podendo ser lido como uma forte crítica à nova aristocracia russa de então.
“Anna Karénina” está repleto de dramas familiares e problemas morais, que se colocam no contexto da ética, do casamento idealizado e do julgo da religião. Porém, mora aqui uma das mais viscerais histórias de amor da literatura universal, com uma costela arrancada a William Shakespeare e ao seu Romeu e Julieta.
Anna Karénina é uma esfinge casada com um aristocrata endinheirado, num casamento onde não parece haver qualquer espaço para o afecto. Quando Anna conhece o Conde Vrônski, um galante oficial do exército, entrega-se a uma paixão avassaladora capaz de abalar todas as regras morais e sociais vigentes na época, deixando o leitor entregue ao pensamento de que paira sobre esta mulher uma imparável tragédia.
Com este clássico Tolstói escreveu um dos mais belos espécimes literários imerso em realismo social, apresentando a sociedade em todas as suas camadas, como a morte, o destino ou as contradições inconciliáveis que a existência humana criou para mal dos seus pecados. Mas, acima de tudo, criou umas das mais memoráveis heroínas da literatura que, sem o prever, se transformaria num símbolo do feminismo. Se há livros tocados pela perfeição, “Anna Karénina” é certamente um dos poucos. Absolutamente obrigatório.
A recente edição pela Presença foi traduzida directamente do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra, distinguidos com o Grande Prémio de Tradução Literária APT/Pen Clube Português.
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