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Betty Botox

Love to edit. A RDB contactou a enigmática Betty Botox - optimo motivo para entender melhor a arte do reedit.

Betty Botox não começou a produzir ontem. Tem cerca de 30 anos nesta área e é considerada uma das pessoas mais influentes no meio underground. Esta entrevista mostra uma visão importante de alguém que cresceu com o djing, que viu o Disco a morrer, o punk a nascer, tocou House antes de haver House e continua a mostrar modéstia suficiente para tocar tanto em bares pequenos como em clubes grandes – tudo dependendo do interesse das pessoas e não do dinheiro que as suporta.

Querendo partilhar muita da sua colecção (a qual contém demasiadas raridades incontáveis) Betty é um alter ego e re-edita músicas perdidas no tempo tentando mudar (de novo) a atitude de pessoas nas pistas do mundo inteiro.

Quem é Betty Botox?

Eu adoro pseudónimos. A ideia original para Betty Botox era continuar a ser um segredo absoluto sobre quem realmente era. Infelizmente nesta época e impossível. O nome foi inventado por uma ex-namorada; todos os anos fazemos uma grande festa de Halloween em Glasgow e nesse ano mascarei-me de Divine, pois é um grande herói meu. Fotos minhas começaram a circular e a minha ex disse que se fosse “drag queen” Betty Botox seria um bom nome. Estava determinado a usá-lo num projecto e assim foi.

Apenas conhecemos Betty a partir do primeiro disco, já existia a personagem antes? As ideias já estavam presentes?

Comecei a fazer edits a meio dos anos 90 mas a tecnologia que estava a utilizar era super primitiva e demorava dias a conseguir fazer cada um. Ainda consegui fazer centenas desse modo; quando arranjei um computador começou a ser bastante mais fácil e a minha produtividade aumentou rapidamente. Todos os edits que tenho foram criados especialmente para os meus sets, nunca tive desejo ou intenção de os lançar mas fui convencido em troca de prometerem que a minha identidade não seria revelada. Então, Betty apareceu, mas foi descoberta rapidamente.

Fizeste um mix para o beatsinspace. Há planos futuros para mais mixes regulares ou DJ sets?

Nenhum plano. Pedem-me bastantes vezes para fazer um DJ set mas ainda estou relutante de sair em público. Pode ser que haja a tentação…

As faixas utilizadas são raridades e preciosidades perdidas. Sendo os discos também limitados isto não auxilia a manter a música disponível, é por isso que apareceu o CD editado pela Endless Flight?

O CD apareceu simplesmente como colectânea de todos os discos, não é limitado e pessoalmente estou contra a ideia de singles limitados que são super caros. De facto, a ideia toda foi da editora e não minha.

Qual o teu ponto de vista sobre computadores/blogs/lojas online, as pessoas estão a ficar mais preguiçosas? Os DJs estão a ficar demasiado semelhantes? Ou pelo contrário achas que as pessoas estão a ficar mais abrangentes?

As pessoas sempre foram preguiçosas, lojas online e blogs apenas facilitam ainda mais. Estou sempre a ouvir pessoas a dizerem como os blogs e lojas facilitam a ter toda a música do Mundo disponível. O que não é de todo verdade. É impossível imaginar quanta música gravada existe e o que ainda falta descobrir, acho que facilita muito para os DJs tocarem todos os mesmos discos, o ciclo é algo assim: há o buzz na internet sobre uma faixa, a faixa sai antes de tempo, toda a gente a recebe, a faixa é tocada uma ou duas vezes num dj set sendo depois esquecida assim que o ciclo recomeça.

O truque é não seguir o hype, ou pelo menos não o hype de toda a gente – isto soa bastante arrogante, mas eu tento não ouvir outros DJs e outros mixes para não ser influenciado. Prefiro ter a minha própria visão separada do hype da Internet, o que não é fácil pois sou junkie da Internet, mas sempre que saio clubbing quero ir a uma noite em que estejam a tocar algo que não oiça normalmente, pode ser funky, cumbia ou jazz, algo do qual nao saiba muito e não iria descobrir normalmente…

Todas as faixas originais têm algumas décadas de idade. Há uma fixação com a música antiga? Era melhor nos “bons velhos tempos”?

Não acho que seja melhor, apenas diferente. Fico igualmente excitado a descobrir música nova como antiga. Existem duas razões porque a Betty utiliza música do passado – primeiro não faz sentido trabalhar sobre algo recente e que seja fácil de obter e meter isso em vinil, fracamente isso é gozar com as pessoas.

Segundo tenho bastante interesse em pegar num disco que tem um grande significado para mim há muitos anos, trabalhar nele e introduzi-lo a pessoas que talvez não o conheçam – “Loving music is sharing music”. E essa sensação que obtenho ao partilhar algo que amo é a minha principal motivação. Mas não tem a ver com ser retro ou dedicado ao passado, o futuro da música excita-me bastante e honestamente acredito que o melhor ainda está para vir.

Que novas tendências/bandas/DJs/Produtores estás a gostar de momento e esperas ver mais no futuro próximo?

A tendência que espero ver mais em 2009/2010 são mais mentes abertas. Tudo parece estar a ficar purista de novo e para mim purismo é estagnação ou paragem do progresso. Eu adoro Disco mas não quero ouvir música de há 30 anos toda a noite, não faz sentido para mim porque pessoas a sair iriam alinhar-se com apenas um movimento musical, nunca me fez sentido e provalmente já me impediu de ter mais sucesso mas não o consigo fazer. Por exemplo, um disco como “Digidesign” do Joker, se estivesse numa pista de dança e ouvisse esse disco ficaria maluco, mas se o tocares numa noite Disco ou Techno normal as pessoas iriam-se embora pois está fora da norma. Eu tenho de ter cuidado ao tocar quando estou a passar música pois os gostos parecem estar bastante conservadores de momento e estou à espera de tempos mais selvagens e mais orelhas interessadas em 2009 e 2010.

Devemos esperar novos lançamentos no futuro?

Acho que Betty como artista em disco provavelmente acabou, depois de ter passado para o lado legal é difícil de voltar. Mas nunca se sabe, a grande amiga dela Alexandra Parade acabou de começar a lançar discos. A Alexandra é grande fã de um conceito e de utilizar pseudónimos. O conceito dela é apenas trabalhar em discos que detesta. O disco que mais detesta é “small town boy” de Bronski Beat o que irá servir de base do primeiro disco.



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