Callaz | Entrevista
O nome é um género de homenagem a Maria Callas. Era muito fascinada por ela quando era pequena.
Callaz é o nome pelo qual Maria Seromenho se apresenta e “Dead Flowers & Cat Piss” é o álbum acabadinho de editar, que sucede ao seu longa-duração de estreia homónimo, editado em 2020. O pretexto ideal para a entrevista que se segue.
RDB: A música esteve sempre presente na tua carreira, mesmo antes de nascer Callaz. Trabalhaste como styling assistant de nomes bem conhecidos, como Alicia Keys, Peaches ou Josephine, enquanto estavas por Londres e para além disso o teu irmão também é músico. A decisão de criares e abraçares o teu projeto surge, já num longínquo 2017, em Los Angeles (é um passado recente mas no contexto de pandemia, qualquer data anterior parece mais longe no tempo do que na realidade está). Fala-nos um pouco desse momento.
C: Estava em Los Angeles quando um amigo me pediu para cantar em português numa música dele. Fomos para o estúdio (Lollipop Records), criámos e gravámos a música. Houve uma mudança em mim nesse dia. Até aí a minha ligação com a música já existia e era muito importante, mas não me tinha ocorrido que pudesse ter um projeto musical, principalmente sozinha. Voltei para Lisboa e peguei num Casio que tinha comprado quando tinha 10 anos e comecei a experimentar enquanto escrevia letras. A ideia inicial era juntar uma banda ou começar em parceria com alguém, mas como a oportunidade não surgia decidi ir para a frente sozinha. Foi uma decisão bastante ingénua e com muito pouca reflexão (ainda bem)!
RDB: E quem é Callaz? Como surge o nome?
C: O nome é um género de homenagem a Maria Callas. Era muito fascinada por ela quando era pequena. Na altura em que estava a começar o projeto e à procura de um nome, ouvi a Norma cantada por ela (uma música que adoro) e foi instintiva a ideia de utilizar o Callas mudando o “s” final para “z”. O meu primeiro nome é Maria portanto é também um trocadilho.
RDB: Entre o período em que editas “Gaslight”, EP de 2018, e o álbum de estreia homónimo, em 2020, muito acontece. Tocas um pouco por toda a Europa, tens a oportunidade de dar a conhecer a tua música em salas como a The Bowery Electric em Nova Iorque e de experimentar… muito. Esta palavra parece ser chave no teu percurso. Fala-nos um pouco sobre este período e o que significou para ti, como compositora.
C: 2019 foi muito importante porque toquei muito pela primeira vez e experimentei ao vivo todas as demos que depois se tornaram no álbum de estreia homónimo. Sentia que as estava a moldar e a explorar todas as suas possibilidades. Tentava sempre perceber a reação das pessoas e falar com algumas depois do concerto para ter opiniões e conselhos. Foi um processo de aprendizagem grande, meio tentativa-erro.
RDB: Nos tempos que correm o DIY parece ganhar um peso e uma importância redobrada no meio artístico, no entanto trata-se de uma filosofia, de uma forma de estar enraizada e abraçada por muitos. Uns por necessidade, outros por preferirem ter o controlo total sobre o seu método de trabalho, pelo processo criativo. Para ti é algo intrínseco ou algo que, decorrente da necessidade, acabou por se tornar a norma?
C: Embora venha de necessidade, é sem dúvida algo intrínseco. Mesmo se tivesse outra opção continuaria por escolher o controlo total sobre o método de trabalho e processo criativo. É uma abordagem que ajuda a realçar a identidade do projeto, o que é importante.
RDB: Falemos sobre “Dead Flowers & Cat Piss”. Helena Fagundes, baterista nos Vaiapraia e n’As Rainhas do Baile, só para referir dois nomes porque a lista é longa, surge como cúmplice. Como aconteceu?
C: No Verão passado combinei um café com a Helena Fagundes para falar sobre a possibilidade de gravar uma música. Começámos por trabalhar duas demos de maneira rápida e interessante. Por isso, perguntei se gostaria de gravar um disco visto que eu tinha muitas demos por onde escolher. Nada foi muito planeado, uma coisa levou à outra.
RDB: Segundo li, tratou-se também da primeira experiência da Helena Fagundes ao nível da produção. É por demais evidente que o resultado foi muito positivo para ambas, caso contrário não estaríamos a escutar “Dead Flowers & Cat Piss”. O que é que achas que a Helena acabou por trazer para as tuas composições?
C: Foi muito fácil e bom trabalhar com a Lena. Ela é muito talentosa, ouve muita e variada música, tem um longo percurso como música e pós-produtora de som e está neste momento a aprender/desenvolver muito na área de produção. Tem uma ética de trabalho impecável e vontade de compreender e respeitar a ideia inicial do músico para que a produção a realce mas mantenha. É também criativa, tendo dado algumas ideias importantes que não me teriam ocorrido.
RDB: Já agora, qual a história por de trás do nome do álbum?
C: O título, humorístico, Dead Flowers & Cat Piss pretende dar um efeito de sequela/espelho ao nome do meu primeiro EP, composto também por um conjunto de elementos “semelhantes” (Beer, Dog Shit & Chanel No5).
RDB: A inspiração para este álbum nasceu em “livros, filmes, histórias vividas, contadas e imaginadas”. «Pas de Sete Cette Nuit» é inspirada em grande parte pelo documentário de Sophie Calle, “No Sex Last Night”, de 1996, por exemplo. São pontos de partida muito específicos. A tua procura por estes elementos é consciente e deliberada ou é algo que acaba surgindo de forma natural e que depois, sempre assente na abordagem experimental, procuras trabalhar até atingir a sua forma final.
C: Acho que nesta fase estou constantemente de forma natural numa procura consciente e deliberada destes elementos. Quando os encontro tento trabalhá-los de forma experimental até atingirem a tal forma final.
RDB: Assim que possível vamos poder ouvir as canções de “Dead Flowers & Cat Piss” ao vivo?
C:Sim!
RDB: Entre as 10 canções que dão corpo ao teu álbum há alguma que te diga mais? Se sim, qual e porque razão?
C: Embora seja apenas a introdução ao disco, gosto muito da Intro Anti-Hero onde menciono os nomes de artistas e personalidades importantes na minha formação artística. Também gosto muito da simplicidade da Berlin ou da Queria Só Excepçōes.
RDB: O texto que acompanha o comunicado sobre o lançamento do álbum termina com uma frase que me deixa curioso. “Sempre com o objectivo de experimentar musicalmente, este é mais um passo importante para Callaz chegar onde quer.”. Onde é que a Callaz quer chegar?
C: Hmmm, na verdade esse sitio onde “quero chegar” não é algo concreto mas uma constante procura. Nunca estou completamente satisfeita com o meu trabalho mas por mais “doloroso” que isso seja, sei que é também benéfico porque penso que só esse mindset me permitirá obter resultados relevantes e interessantes.
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