Danko Jones @ Garage
O amor é fodido.
Os que querem e os que podem.
O cartaz do concerto afixado à porta do Garage estrelava os Danko Jones como atracção da noite. No entanto, informações anteriores haviam anunciado a presença dos Voicst e dos Tokyo Dragons na abertura do concerto.
Talvez por ser ainda muito cedo, talvez por desconhecimento de causa (ou, provavelmente, talvez por ambos), os Voicst apresentaram-se em palco perante uma sala vazia. A tarefa já era de si ingrata, mas a música do trio holandês não ajudou a animar as pessoas presentes.
Com uma manifesta, mas insuficiente, boa vontade, os Voicst tentaram aquecer o público para a banda principal da noite, mas a sua música, algures entre a rebeldia juvenil contra o acne e o declarado manifesto festivo, fê-los sempre soar como uma versão adolescente dos Foo Fighters. E nem o facto de o guitarrista ter descido do palco entusiasmou o público. Os Voicst foram a prova de que a música não é para quem quer, mas sim para quem pode.
A máquina do tempo.
Os senhores que se seguiam eram os ingleses Tokyo Dragons. Ao subirem para palco, os seus aspectos não deixavam dúvidas do que iríamos ouvir: os cabelos compridos, as barbas espessas e as t-shirts dos Lynyrd Skynyrd, dos ZZ Top e dos AC/DC faziam adivinhar um retorno ao velho e duro rock’n’roll. E mal o vocalista Steve Lomax tocou os primeiros acordes, um vórtice temporal engoliu o Garage e transportou-o para os finais dos anos 70.
Sentados no muro que divide o hard-rock do glam-rock, com uma perna para cada lado, os Tokyo Dragons são tudo aquilo que os Spinal Tap parodiaram – os refrões em falsete, os solos de guitarra intermináveis, os punhos no ar… Mas como diz o poeta, é apenas rock’n’roll e nós gostamos. Os 45 minutos seguintes passaram então rapidamente e as músicas sucederam-se a um ritmo escorreito. Deu, sobretudo, para ensaiar os primeiros yeahs e um tímido head banging. Os Tokyo Dragons não comprometeram nem ofenderam ninguém.
O pregador do sexo.
Desde a última vez em que estiveram em Portugal – October 2003, too much fucking time –, alguma coisa mudou nos Danko Jones. Na bateria já não está Damon Richardson, mas sim Dan Cornelius; e o próprio Danko Jones, longe do desconhecido canadiano que em 2002 aterrou em Paredes de Coura, teve tempo para aperfeiçoar a sua personagem, qual super-herói que se move em palco como um lagarto e que o próprio faz questão de identificar, mais tarde – “The Mango Kid”.
Danko Jones está para o sexo, assim como Marvin Gaye está para o amor. Como o próprio faz questão de frisar – ele que é um comunicador nato –, I don’t believe in love; mas durante «The Way To My Heart», confessa com um encolher de ombros, I like to fuck.
O concerto inicia-se com o velhinho «I’m Alive And On Fire», mas que serve de aviso. De seguida, segue-se o tema inicial do novo álbum de originais – «Sleep Is The Enemy» -, «Sticky Situation», mas a primeira parte do concerto faz-se com o rock’n’roll dos primeiros álbuns do trio canadiano: ouve-se «Sugar Chocolate», «Way To My Heart» ou «Forget My Name».
Depois, foi o próprio Danko Jones quem colocou a questão: do you want it faster and louder? O público respondeu afirmativamente e depois de uma versão super-sónica de «Wait A Minute», o concerto entrou num registo de hard/speed-rock, onde desfilaram os principais temas de “Sleep Is The Enemy” – «Don’t Fall In Love», «First Date» ou «The Finger». A interpretação de «Wait A Minute» serviu ainda para despoletar o barril de pólvora prestes a explodir que tinha sido o público até há altura, que até ao fim do concerto não mais parou com o mosh e o crowd surf.
Para a última fase do concerto estava guardado o regresso às faixas mais antigas: a linha de baixo diabólica de «Lovercall», o explosivo «The Cross» ou o rock’n’roll de «Play The Blues». No final, Danko Jones voltou a vestir o fato de entertainer e, qual pregrador a espalhar o seu evangelho, alertou para os malefícios do amor com o fantástico «Love Is Unkind» (faixa que é injusta e geralmente esquecida nos concertos da banda), ao mesmo tempo que não preconizava grande futuro a um casal de namorados na primeira fila – porque forever is one year, one month, one week, one day.
O trio canadiano voltou ainda a palco para o tradicional número de despedida de »The Mountain», em que Danko Jones volta a pregar sobre o sucesso, homenageia os heróis rock desaparecidos (dos vários Ramones a Cliff Burton, passando por Jimi Hendrix ou Johnny Cash) e termina auto-flagelando-se como exemplo. O público, mesmo os que já conheciam, ficam rendidos e enquanto o resto da banda abandona o palco, Danko Jones mantém-se no centro a receber as merecidas ovações.
Nas colunas do Garage ouve-se agora Screamin’ Jay Hawkings a cantar «I Put A Spell On You», como uma metáfora ao facto de Danko Jones nos ter acabado de enfeitiçar a todos com o poder do rock.
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