“Desligados”
Vidas offline
Henry Alex Rubin é um realizador essencialmente conhecido pelos seus documentários fortes e imersivos como: “Who Is Henry Jaglom?” ou o quase oscarizado “Murderball – Espírito de Combate”. Não sendo pois de estranhar que este “Desconectados” seja um filme com ritmo e alma documental.
Agarrando num argumento modernista e algo sombrio de Andrew Stern e juntando um cast muito bem servido de actores, onde se destacam nomes como: Jason Bateman; Hope Davis; Alexander Skarsgard; Max Thieriot e Frank Grillo. Rubin conduz-nos a uma observação dos integrantes de algumas situações que aparentemente distintas inicialmente, em determinada altura invadem o espaço umas das outras.
Existem famílias em diversos estados de disfuncionalidade e pessoas solitárias dentro e fora destas famílias o que produz no espectador uma experiência muito solitária e lá está…desconectada.
A primeira família é composta pelo advogado Rich Boyd (Jason Bateman), Lydia Boyd, (Hope Davis), a sua mulher, a filha Abby (Haley Ramm) e o filho Ben (Jonah Bobo).
Ben é uma alma sensível e introspectiva que vive para a sua música e que sente não fazer parte da sua família, vendo o seu pai como alguém incapaz de perceber os seus gostos e sem vontade de penetrar o seu universo interior.
Numa situação perfeitamente fortuita cruza-se com Jason e Frye, dois incendiários e gozões rapazes da sua idade, que frequentam a sua escola e que a partir daí decidem divertir-se à sua custa. Sendo este um filme que tenta denunciar o vazio das vidas daqueles que se escondem atrás de nicks, fake profiles, que teclam e não dizem e que agem sem sentir, naturalmente o local da macabra farsa ocorre nas redes sociais da todo-poderosa net, o lugar onde a plenitude das aspirações se cruza com a vacuidade dos sentimentos.
Paralela a esta história, corre outra também em ambiente desolador, onde adolescentes e jovens adultos se exibem e aquecem a imaginação de voyeurs anónimos que escondidos atrás de ecrãs, vão pagando a preço de prata a satisfação, versão online.
É neste estranho universo que a jornalista Nina (Andrea Riseborough) se interessa pela história de Kyle (Max Thieriot), um jovem e muito solicitado astro desta nova versão do velhinho Peep Show.
Nina tenta convencê-lo a contar a sua história na TV, ao que Kyle após muita resistência acede, tentando entretanto mudar “as sortes” da sua vida.
Para completar esta encruzilhada virtual, falta contar a história de Cindy (Paula Patton) e Dereck (Alexander Skarsgard), um casal que passou pela tragédia da perda de um filho e que vive completamente desconectado de tudo.
Enquanto Dereck vegeta em casinos online, Cindy utiliza a rede para vender pequenos artigos que produz e para exorcizar as suas mazelas emocionais em chats de grupos de ajuda.
Mas como vêm a descobrir, nada é absolutamente seguro no mundo virtual e após terem sido invadidos por um malicioso trojan, são espoliados de todas as suas economias.
É nessa situação desesperadora, que conhecem Mike Dixon (Frank Grillo), um detective privado especialista em crimes informáticos e pai de Jason…
A partir daqui os dados estão lançados, para a colisão de vários mundos, onde a tragédia e a esperança, o desespero e sublimação se conjugam, dando novas dimensões à existência de cada uma das personagens.
Desconectados é um filme interessante, que peca apenas por alguma previsibilidade no desenvolvimento da narrativa, dando uma sensação de que já vimos tudo isto em algum lado.
Ao espectador mais atento, é possível perceber que existe no ADN deste filme uma boa dose de “Paranoid Park” de Gus Van Sant e do muito aclamado “Crash” de Paul Haggis, aos quais vai buscar muito da estética e alguma coisa da trama progressivamente convergente.
O filme tem bons diálogos e mais importante que isso, bons silêncios. A realização é sóbria e competente, tendo apenas como foi dito anteriormente o pecado de ser muito previsível o que vem a seguir.
Mas nos momentos em que o filme tem um ligeiro tremor, logo é salvo pelo excelente grupo de actores que excede os mínimos necessários.
Se algum grande mérito tem este filme, é o de conseguir deixar no ar uma pergunta tão interessante quanto incómoda: São as nossas vidas mais vazias pela estéril e impessoal modernidade que nos distancia uns dos outros, ou estarão tão vazias as nossas vidas há tanto tempo, que a fria tecnologia veio apenas ocupar um lugar vago?
No que diz respeito ao já elogiado elenco, é sempre um prazer ver Bateman num papel dramático, assim como Skarsgard (que o público está mais habituado a ver como o vampiro Eric Northman, na série de TV “ True Blood”), mas a interpretação mais surpreendentemente sólida é a que nos é oferecida por Max Thieriot que a continuar desta maneira e fazendo as escolhas certas pode vir a ser um caso muito sério.
Resta dizer que a banda sonora é competente e adequada, quanto à fotografia a questão pode ser mais polémica, pois é, a tipicamente observada num documentário.
Se me fosse pedida uma nota?
Saía com um Satisfaz Bem!
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