Mão Morta

O Teatro dos Sonhos.

 Em 1997, os Mão Morta lançaram-se naquele que foi provavelmente o seu espectáculo mais ambicioso até à data. Fruto de uma encomenda do encenador Jorge Silva Melo (através da Fundação das Descobertas), os bracarenses musicaram a poesia do dramaturgo alemão Heiner Muller. Müller no Hotel Hessicher Hof – assim se chamou o espectáculo – foi levado à cena durante três noites no Centro Cultural de Belém. Seguir-se-iam Évora, Braga e Coimbra e em Maio a edição do álbum.

Já em 1998, chegou o VHS, numa altura em que o DVD era ainda uma miragem. Ambas as edições foram limitadas e o CD é apenas possível de encontrar em lojas de segunda mão, sendo alvo de intensa procura dos fãs mais recentes dos Mão Morta. Quanto à gravação em vídeo, é agora reeditada em DVD pela Cobra (a editora de Adolfo Luxúria Canibal, António Rafael e Miguel Pedro) com a actuação integral e o comentário da banda e do realizador Nuno Tudela ao mesmo.

Em Muller no Hotel Hessicher Hof, os Mão Morta assumem uma veia electrónica, por vezes ambiental, que constrói ambientes petrificantes e nebulosos, quais professores assistentes da poesia de Heiner Muller. Adolfo Luxúria Canibal é o interlocutor de textos que focam o terror, o medo, a morte ou o horror em doses calóricas. Todos os músicos estão vestidos como se de personagens se tratassem cabendo ao vocalista o papel de actor principal que começa vestido de anjo e termina anunciando a morte de Müller. Um cenário apocalíptico onde os instrumentos são armas de uma guerra travada com palavras e sons cortantes. Não muito diferente, portanto, do que se conhecia dos Mão Morta até então e do que viriam a assinar posteriormente.

Eis o comentário de Adolfo Luxúria Canibal a alguns aspectos do espectáculo e não só:

Memórias – As memórias estão viciadas pelas imagens revistas. O espectáculo teve um certo risco, caminhos novos. Não sabíamos qual seria o resultado final mas é verdade que acabou por correr bem. A tensão era muito grande, especialmente nos dias que antecederam. No entanto, não me senti diferente dos outros espectáculos. Decorei com dificuldade os textos mas fi-lo com antecedência. Tinha que ter cuidado com as marcações mas ao fim de dois ensaios consegui fazê-lo. Foi a primeira vez que compusemos em electrónica e que gravámos ao vivo.

O espectáculo – Tal como no teatro, as pessoas só batiam palmas no fim do espectáculo, o que foi óptimo porque pensámos que o iriam fazer entre as músicas. Eu não conhecia o Müller mas o imaginário não era muito diferente do meu. Havia uma grande proximidade temática. O Nuno Tudela foi muito importante. Foi mais do que um realizador. Ele já tinha feito telediscos para nós ainda no tempo do Pop-Off e ficámos amigos. Deu-nos sugestões e conselhos.

O DVD – Quando pensámos no DVD, os extras foram uma prioridade. Só podiam estar relacionados com o espectáculo. Depois vimos o material que o Nuno Tudela tinha, como algumas cenas de bastidores e de estúdio, e escolhemos. Temos mais material que poderá ser utilizado, mas noutros DVDs.

A edição pela Cobra – Quando criámos a Cobra não pensámos só em editar os Mão Morta. Quando não houver mais interessados no nosso trabalho será a Cobra. Temos total liberdade para negociar com outras editoras. 

O que está para vir – Neste momento, está a ser trabalhado um álbum de raridades para uma editora japonesa. Temos também o espectáculo baseado nos Cantos de Maldoror de Lautreamónt. Vem na linha do Muller, é bastante mais encenado mas ainda não é disco. Temos também dois espectáculos gravados do Nus com muitos extras que estão, neste momento, em fase de montagem.



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