Molly Burch @ Musicbox (03.07.2019)
A sala começa a ficar composta, embora não vá estar cheia. Mas isso pouco ou nada importa porque a voz de Molly Burch vai encher a sala.
Quando as portas do Musicbox se abrem, já passa das 22h e no sistema de som escuta-se Scout Niblett. Ao mesmo tempo na minha cabeça, por algum motivo, faz-se de ouvir «Dinosaur Egg», canção soberba de Niblett. Até à entrada de Molly Burch e da sua magnífica banda em palco, ainda há tempo para escutar Antony and the Johnsons e a magnífica Lhasa de Sela. O pequeno palco do Musicbox está generosamente ocupado. Entre os amplificadores e os demais instrumentos não sobra muito espaço.
A sala começa a ficar composta, embora não vá estar cheia. Mas isso pouco ou nada importa porque a voz de Molly Burch vai encher a sala. São 22h45 quando isso começa a acontecer. E começa com um presente “envenenado”. «Candy». Burch entra em palco com vestido que grita “Verão!”. A canção que abre o mais recente “First Flowers” dá o mote; uma banda (muito) mais do que competente mas que deixa a voz de Burch brilhar. E não pode ser de outra forma. “Promise me baby, promise me baby / You’ll stay away, you’ll stay away”.
«Wild» é cantada por alguém embevecido. Enamorado. E com uma pontinha de inveja. «Dangerous Place» e «First Flower», mantêm-nos no álbum de 2018 cujo título coincide exactamente com esta última canção. Por esta altura é por demais evidente que a vida destas canções vai muito para além do disco. Elas respiram por si próprias. Por um lado a banda que acompanha Burch é muito mais do que simplesmente competente. Acrescenta algo mais. Depois há Molly Burch e a sua voz que não só enche a sala (já o escrevi uma vez, eu sei, mas nunca é demais repeti-lo) como nos leva a viajar. Toda ela canta. A forma como vai movendo os seus braços, ajuda a transportar a sua voz e mantem-nos ali, “presos”.
«Wrong For You» e «Try» levam-nos a “Please Be Mine”, primeiro longa-duração, de 2017, e que deu a conhecer Molly Burch ao mundo. Aqui as canções são mais galopantes. Parece existir uma maior urgência. É a primeira vez e estamos a perceber como tudo funciona. Mas isso não a impede (de todo) de entregar um conjunto de canções magníficas e com as quais nos conseguimos identificar. O registo da banda em «Try» é simplesmente fabuloso e, mesmo assim, continua a ser a voz de Molly Burch que está no centro de tudo. Porque é assim que tem de ser. Ela sorri para nós e devolvemos a gentileza com o maior dos prazeres.
«Good Behavior» e «Without You» marcam o regresso a “First Flower”, com a primeira a ser apresentada numa versão um pouco mais minimalista e despojada e a segunda a permitir que Burch mostre o quão versátil pode ser a sua voz. Doce. Assertiva. Suave. Incisiva. É escolher. E assenta-lhe sempre bem.
«Only One» é a janela para o 7” que aí vem (já em Agosto) e que poderia ser adquirido no final do concerto. Uma homenagem às mulheres que inspiram Molly burch. «To the Boys» é clara na sua mensagem. “I don’t need to scream to get my point across / I don’t need to yell to know that I’m the boss / That is my choice / And this is my voice / You can tell that to the boys”.
Antes do presente que o encore trás há tempo para uma nova visita a “Please Be Mine”, exactamente para a canção que lhe dá título. Os nossos sentimentos são uma verdadeira montanha russa. «Downhearted» é cantada com um toque de melancolia na voz e a fechar há uma versão de «I Adore You» despida de tudo menos da guitarra e da voz. Estão a ver aquelas interpretações que mesmo assim, têm tudo e nos deixam de coração cheio? É isto. A guitarra parece que soluça. E assim se fecha com chave de ouro.
Despedimo-nos e no sistema de som volta-se a ouvir Lhasa.
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